A renovação pessoal reflete a magia da natureza, cuja transformação harmônica inspira nossa própria evolução. Sua harmonia se faz presente nos mais diferentes cenários, como uma dança que nunca perde o ritmo, que movimenta todas as forças do cosmos em torno de si e apresenta sua beleza. Desde o mais singelo ecossistema da Terra até mesmo a movimentação dos planetas ao redor do Sol, tudo que compõe a vida está em uma constante transformação harmônica.
Para a manutenção de todos os seres que participam desse belo cenário é preciso renovar. Sim, a renovação é uma ferramenta crucial para que o mundo – tanto interno como externo – continue a existir. A renovação da natureza se dá a partir da lei dos ciclos, que garante a movimentação de todos os corpos, mudando suas formas e criando novos modelos, ainda mais adaptados aos novos cenários desenhados pelas leis que regem a natureza.
Mas será que a renovação é um processo que ocorre apenas na natureza? Ou o ser humano precisa também viver a magia da renovação? E se precisamos renovar, como podemos fazê-lo? É o que vamos descobrir no texto de hoje.
Todos nós precisamos de renovação!
Todos nós temos, de uma maneira quase que instintiva, a intenção de nos tornarmos melhores em tudo o que fazemos e, principalmente, de nos tornarmos melhores do que já somos. Ninguém acorda pela manhã com o desejo de ser pior do que hoje. Sendo assim, a busca pela evolução e perfeição está presente em nossa mente, mas nossa vida cotidiana pode, por vezes, nos levar a outros destinos.
Ao mesmo tempo em que desejamos a evolução, por exemplo, percebemos que, para que isso ocorra, é preciso abandonar velhas formas e assumir novas posturas, compromissos e até mesmo uma nova vida. Assim como uma criança precisa desenvolver seu corpo físico para crescer, ou como uma larva precisa entrar em um casulo para se transformar em uma borboleta, o ser humano, como um todo, precisa renovar suas formas para continuar a evoluir.
Nossa renovação, porém, não passa apenas pelo aspecto físico, afinal, após um certo tempo, deixamos de nos desenvolver nesse sentido. Pelo contrário, à medida que o tempo avança acabamos perdendo potência física, pois a velhice nos tira essa capacidade. Nosso corpo naturalmente começa a apresentar problemas e nos preparamos para o fim do ciclo da existência. Sendo assim, onde está a renovação? Será que o ser humano não vive essa lei da natureza?
A resposta está na própria natureza humana, que não abrange apenas o aspecto físico, mas principalmente seu mundo psicológico. Se em nosso corpo físico nossa renovação é limitada, visto que uma hora ele vai decair e desaparecer, em nosso mundo interno a renovação deve ser uma constante, afinal, quando transformamos nossa forma de ver o mundo, nossas percepções sobre a vida e nos permitimos avançar em novos conhecimentos, certamente abrimos espaço para renovar nossa psique e ganhar novos caminhos rumo à sabedoria.
Desse modo, a renovação humana é uma alquimia na alma, que nos permite vislumbrar o novo, o até então desconhecido, com o afã de alcançar novos patamares. Mas será que toda mudança é válida? Ou devemos atentar-se no que deve ser renovado?
Como viver a renovação em nossa vida?
Costuma-se dizer que todas as mudanças acontecem pelo amor ou pela dor, mas na verdade, todas as provas, amorosas ou dolorosas, que a vida nos oferece são exatamente as que precisamos. Assim como na escola ou em um exame, nós necessitamos passar por elas para podermos alcançar o grau necessário de conhecimento de nós mesmos perante os desafios que nos são inevitáveis.
Para renovar, precisamos mudar, e só mudamos quando desenvolvemos consciência, seja por vontade própria ou por pressão da vida. Não existe renovação em um ambiente estático, em que nada se movimenta, seja na vida humana ou na própria natureza. Sendo assim, para começarmos a viver a renovação e descobrir novas possibilidades, precisamos necessariamente estar em movimento. Não falamos aqui, mais uma vez, de um movimento físico, pois até mesmo nesse quesito, a todo momento, nossas células estão se movendo, nascendo e morrendo, ou seja, estão renovando.
Estamos falando de um movimento mais profundo, mais sutil e que demora a ser notado. Essa renovação passa por uma mudança interna, uma tentativa de arriscar-se a novos pensamentos, novas formas de viver emoções e perceber a vida de modo mais amplo. Entretanto, é natural que passemos boa parte da nossa existência sustentando opiniões antigas, pontos de vista que foram assumidos em outros momentos de nossa vida. Assim, não será um processo rápido ou fácil começar a renovação desse mundo interno, já cristalizado pelas experiências que vivemos. O que podemos fazer para acelerar esse processo?
Muitas vezes quando estamos sofrendo, e talvez por isso mesmo, não conseguimos desenvolver a percepção adequada para entendermos os ensinamentos contidos naquele momento. Fica difícil perceber que a vida está nos oferecendo uma oportunidade ímpar de crescimento. Falamos isso porque nossas opiniões e pontos de vista nos causam, em grande medida, dores silenciosas, mas que continuam a nos machucar. Como a dor é um sinal para desenvolvermos a consciência, devemos começar colocando todas as nossas certezas de lado e nos abrirmos para novas possibilidades.
Quando nos permitimos encarar as provas que nos são inevitavelmente impostas no decorrer da nossa existência, percebemos que elas, no fundo, servem para renovar nossa percepção acerca da vida. Quando percebemos que essas provas são como oportunidades de desenvolvimento da nossa Humildade e da nossa Sabedoria surge a oportunidade de nos adaptar. Quando entendemos que fazemos parte de um contexto muito maior do que a nossa própria existência, passamos a nos ver como uma peça não descartável no “tabuleiro” da criação e aí, sim, começamos uma verdadeira transformação. Já não renovamos por uma questão de sobrevivência, mas renovamos para aperfeiçoar aquilo que viemos para ser no mundo, para representar nosso papel no palco da vida.
Somente dessa forma poderemos viver cotidianamente a renovação. O ser humano, por ser um ser racional, precisa enxergar uma lógica, um sentido naquilo que faz. Nem sempre conseguimos argumentos que nos ajude a colocar em marcha nossa existência e, por isso, acabamos travados em nosso processo de evolução. Quando, porém, enxergamos nosso papel no mundo, nesse grande organismo vivo que é o cosmos, buscamos renovar nossas velhas formas para melhor atender ao que nos é pedido.
O escritor Caio Fernando Abreu traz uma mensagem que casa muito bem com essa reflexão:
“Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor. Tenho sentido necessidades do novo, não importa o quê, mais que seja novo, nem que sejam os problemas. Preciso deixar a casa vazia para receber a nova mobília. Fazer a faxina da mente, da alma, do corpo e do coração. Demolir as ruínas e construir qualquer coisa nova, quem sabe um castelo.”
Além dos pontos que já mencionamos, essa renovação interior também depende da nossa capacidade de nos observarmos, de fazermos uma avaliação sincera e imparcial, para que através desse exercício possamos conhecer nossas verdadeiras Virtudes e fraquezas. Só depois de conseguirmos entender quem realmente somos e onde realmente estamos, poderemos direcionar a nossa atenção ao centro do nosso Ser, esse algo Imortal e Eterno que habita em nós e não necessita de renovação, pois sempre foi e sempre será a nossa Essência Divina; e através dela, estivemos, estamos e estaremos eternamente nos renovando. Que encontremos o nosso centro, pois só assim seremos Novos Homens, melhores e renovados a cada dia.