A Cultura do Consumismo: Como o Desejo de Ter Está Moldando Quem Somos

Vivemos em uma sociedade fortemente marcada pela cultura do consumismo, onde novas coleções, promoções relâmpago e produtos ‘essenciais’ surgem a cada semana, alimentando a sensação de que precisamos consumir para sermos felizes. É quase impossível abrir as redes sociais sem ser bombardeado por anúncios de roupas, celulares, acessórios, cursos e experiências que prometem felicidade instantânea e mudança de vida, com um senso de urgência que nos faz ficar ansiosos a consumir o que está sendo oferecido. Mas será que precisamos de tudo isso? Ou será que estamos apenas sendo conduzidos por um sistema que nos ensina a querer o que não precisamos?

Pessoa cercada por anúncios digitais representando o excesso de consumo. Evidenciando a cultura do consumismo e o marketing e consumo
O bombardeio diário de estímulos de consumo.

Essa é a famosa cultura do consumismo. Ela não é algo necessariamente novo, visto que desde os anos 1950, temos estado nesse loop infinito de produção e consumo de bens nada duráveis. Porém, o consumismo vai muito além de uma questão econômica, pois afeta os indivíduos de tal maneira que se torna um fenômeno social e psicológico que molda identidades e comportamentos. Ela nos faz acreditar que “ter” é sinônimo de “ser”, por exemplo. Assim, crescemos acreditando na falsa ideia de que precisamos ter um bom carro, uma boa casa, um bom celular e tantos outros bens para sermos reconhecidos como pessoas de sucesso. 

É nesse momento que se instala a corrida pelo consumismo e pela aquisição de bens que, no fundo, não passam de uma grande ilusão. Esse processo é lento, porém, constante. Assim, ao chegarmos no começo de nossa juventude, já estamos plenamente convencidos de que só existe na vida social quem possui muitos bens. Nesse momento, vivemos uma fase marcada por descobertas, inseguranças e busca por pertencimento, o que amplia ainda mais essa necessidade de mostrar que pode possuir e consumir o que o mundo oferece. Visto isso, o quanto das nossas escolhas de consumo são realmente nossas? Será que estamos enxergando corretamente as nossas prioridades de consumo?

A vitrine eterna: o consumo como forma de existir no mundo atual

No mundo moderno, as vitrines foram símbolo do consumismo, estando presentes nas lojas dos shoppings, nas ruas e diversos locais da cidade; hoje, porém, não precisamos sair de casa para apreciar o que está exposto para consumo, pois as vitrines modernas estão na palma da nossa mão. Cada rolar de dedo na tela do celular é uma nova vitrine digital que nos aparece, com promoções e que está adaptada aos nossos gostos e necessidades, uma vez que o algoritmo os seleciona de forma personalizada. Perfis no Instagram e no TikTok exibem não apenas produtos, mas estilos de vida que encantam os olhos dos usuários. 

Mão segurando celular com vitrines digitais de produtos. Mostrando a ostentação digital e mostrar o status social no digital
A vitrine do consumo agora cabe na palma da mão.

Nessas propagandas, as pessoas parecem mais felizes porque têm o tênis do momento, o celular mais novo ou aquela viagem perfeita, digna de filme. E, de repente, o que era apenas um desejo vira quase uma obrigação de possuir, afinal, todos nós queremos ser felizes tal qual essas pessoas aparentam. É nesse contexto que podemos perceber como o consumo deixou de ser apenas uma necessidade e passou a ser um meio de expressão, uma forma de afirmar quem somos ou quem gostaríamos de ser. Comprar algo passou a ser uma maneira de “existir” socialmente, ao ponto de criarmos verdadeiros defensores de marcas e estilos de vida baseados no consumo.

O problema é que, quanto mais compramos para preencher vazios e ter a sensação de pertencimento, mais eles parecem crescer dentro de nós. Parece que sempre falta algo: a calça nova perde o encanto depois de duas semanas, ou o celular de última geração se torna “velho” em um ano. E isso não é por acaso: a sensação de insatisfação constante é o combustível do consumismo, pois sem esse vazio interno, não é possível manter a roda do consumo girando. É o que faz as empresas criarem novas versões de tudo o tempo todo, e o que nos faz acreditar que a felicidade está sempre na próxima compra, mesmo que já saibamos o seu desfecho.

Não estamos aqui para criar vilões, algozes e vítimas. Portanto, frente a esse cenário, é fundamental perguntarmos: será que o consumo é o problema em si? Sinceramente, não exatamente. O problema é quando ele se transforma em um mecanismo para compensar sentimentos de inadequação ou falta de propósito. Consumir é algo natural no ser humano, afinal, precisamos sobreviver, inclusive a nível social, e muitos desses bens nos ajudam a manter um grau de dignidade perante a vida. Porém, quando “comprar” vira sinônimo de “ser aceito”, então acabamos à mercê de toda e qualquer tipo de manipulação e perdemos nossa liberdade.

Um dos grandes desafios do nosso tempo, portanto, é aprender quais são as nossas prioridades de consumo. Em outras palavras: não sabemos diferenciar o que realmente precisamos do que apenas desejamos por impulso. Ninguém nos ensina sobre isso na escola e, infelizmente, em casa essa também não é uma pauta. Crescemos vendo adultos se endividando para manter aparências e achamos isso normal. 

Do mesmo jeito, somos bombardeados diariamente com influenciadores exibindo uma vida de abundância sem mostrar o preço real por trás disso, seja emocional ou financeiro. Assim, muitos jovens entram na vida adulta sem um senso claro de prioridade, achando comum desregular sua saúde financeira para comprar bens que não podem pagar. É comum ouvir alguém dizer “trabalho para comprar o que gosto”, mas poucos param para pensar se “gostar” é realmente o mesmo que “precisar”. Essa ausência de referências sólidas cria uma geração que consome muito, mas que reflete pouco e acaba se tornando um alvo fácil para o consumismo.

O efeito manada: é preciso viver o que todos vivem?

Frente a esse cenário, chegamos a um ponto crucial em nossa reflexão. Quando paramos para pensar no que realmente gostamos, podemos nos deparar com uma perspectiva interessante: será que realmente gostamos disso, ou apenas aderimos a uma moda porque todos estão fazendo? Será que realmente é necessário viver aquilo que todos desejam ou dizem que é o correto a se fazer? 

Multidão seguindo na mesma direção, representando o efeito manada no consumo. Mostrando o comportamento do consumidor
O efeito manada: quando o consumo se torna comportamento coletivo.

Muitas vezes somos levados, por conta do efeito manada, a espelhar as expectativas e desejos do senso comum. Esse desejo coletivo se transforma em uma norma social quando levado ao extremo, fazendo com que os indivíduos se adequem a ela. Se todos estão usando determinada marca, ouvindo certo artista, fazendo a mesma viagem ou postando o mesmo tipo de conteúdo, é quase automático querer seguir o mesmo caminho. Ninguém quer se sentir “de fora”.

É aí que mora o perigo, pois quando deixamos de questionar o que realmente nos faz bem, passamos a viver vidas que não são nossas. Vestimos roupas que não refletem quem somos, compramos produtos que não nos representam e participamos de modas que não significam nada. Assim, a liberdade só pode nascer quando aprendemos a dizer “não” para o que o mundo inteiro diz “sim”, pois nem sempre o que a maioria aponta como correto e melhor o é de fato.

É necessário, portanto, entender as raízes do efeito manada para saber lidar com o consumismo. Em geral, podemos apontar que o consumismo está profundamente ligado à busca por validação. O status que uma marca oferece parece compensar nossas inseguranças, com as quais, na maior parte dos casos, não sabemos lidar. Quando alguém elogia nosso novo tênis ou celular, sentimos um breve alívio, como se aquele objeto provasse nosso valor. Porém, o elogio foi sobre o bem de consumo e não sobre si mesmo, o que significa que o que tem valor é o bem e não a pessoa que a possui. Quando colocamos demasiado valor aos objetos e esquecemos das pessoas, aflora ainda mais o desejo de ter mais bens.

É por isso que a autoestima baseada no consumo é frágil. Ela depende de fatores externos, de curtidas, de aprovação. E quando o ciclo de novidades acaba, o vazio retorna. Isso cria uma espécie de dependência emocional do consumo: não compramos porque precisamos, mas porque queremos sentir, por alguns instantes, que somos “suficientes”.

Redes sociais como o palco da ostentação cotidiana: evidenciando a cultura do consumismo

O problema do consumismo se agrava a partir do momento em que passamos a usar as redes sociais como janelas de ostentação diária. Antes, a comparação acontecia entre amigos, em um círculo pequeno e fechado, no qual só podia mostrar o que se tinha para aqueles que conviviam no mundo real; hoje, essa dinâmica acontece no mundo virtual, no qual podemos alcançar pessoas do mundo inteiro. O feed das nossas redes sociais se tornou uma grande vitrine global na qual todos tentam parecer mais felizes, mais bonitos e mais bem-sucedidos, tudo para ostentar um estilo de vida que não se sustenta.

Feed de rede social mostrando pessoas exibindo bens de luxo. Clássico do consumismo moderno e o contraste da felicidade e consumo
A ostentação e o consumo como espetáculo digital.

O mais irônico é que, muitas vezes, a felicidade mostrada nas telas é apenas encenação. E mesmo sabendo disso, continuamos desejando aquilo que vemos. Sendo assim, quando o consumo se torna parte da nossa identidade, deixamos de ver os objetos como ferramentas e passamos a vê-los como extensões de nós mesmos. Não por acaso, precisamos estar sempre alinhados com o “dress code” do momento ou achamos que é quase inimaginável vivermos separados dos nossos celulares. O consumismo, nesse nível, ainda é levado para o estilo de vida, no qual todos precisam fazer os mesmos exercícios físicos, ter uma rotina similar e viver de modo padronizado.

Quem somos sem isso tudo? Essa é a pergunta que o consumismo não quer que façamos. Ele se alimenta justamente da confusão entre “ter” e “ser”. Ao nos distanciarmos dos objetos, começamos a enxergar que a essência de quem somos vai muito além do que podemos comprar.

Criando referências pessoais de consumo

Como criar referências sólidas em meio a tanta influência externa? O primeiro passo é reconhecer que nem toda referência é saudável. Muitos ídolos digitais mostram apenas o lado bom da vida, escondendo o cansaço, as dívidas e as pressões que enfrentam. É válido, portanto, buscar inspirações que transmitam equilíbrio e consciência de quem queremos ser. Não é um problema ter referências ou inspirações, o problema está em anular nossa identidade para emular aquilo que o nosso ídolo está transmitindo, sem considerar nossa especificidades e necessidades.

Pessoa refletindo em frente a um espelho, com símbolos de equilíbrio e propósito.
O consumo consciente como caminho para o equilíbrio.

Dito isso, é fundamental construir referências claras sobre o que queremos viver, do que de fato gostamos e qual nosso ideal de vida, pois sem isso jamais poderemos caminhar para encontrar a nós mesmos. Essa perspectiva funciona como um mapa que poderá nos servir de guia em meio ao caos cotidiano.

Essa nova perspectiva podemos chamar de consumo consciente, afinal, é uma ilusão achar que não vamos cair no consumismo. No mundo atual, isso é irreal, pois toda dinâmica de nossas vidas gira em torno desse eixo. Porém, ao fazermos um tipo de consumismo consciente, podemos combater a impulsividade e nossos desejos de seguir modas. Assim, esse tipo de relação com o consumismo propõe uma relação mais equilibrada entre desejos e necessidades. Ser um consumidor consciente não é sobre “ser perfeito”, mas sobre pensar antes de agir. 

Quando mudamos nosso modo de consumir, mudamos também a forma como enxergamos o mundo. Durante muito tempo, sucesso foi sinônimo de status, bens e poder de compra. Mas uma nova geração começa a redefinir o que é sucesso. Hoje, sucesso pode significar ter tempo livre, ter saúde mental, ter relações verdadeiras e viver com propósito. Essa mudança de mentalidade é  um passo para enfraquecer a cultura do consumismo, porque, quando o valor da vida deixa de estar no que temos, o sistema perde seu poder sobre nós.

Para continuar essa reflexão, leia “Você sabe o que é FOMO?” no Portal Feedobem. O texto explica como o medo de estar perdendo algo alimenta a comparação nas redes, intensifica a ansiedade e nos empurra para o consumo impulsivo — exatamente o ciclo criticado aqui. Descubra sinais do FOMO e passos práticos para retomar presença, propósito e escolhas conscientes.

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