Há mais de dois mil anos o filósofo romano, nascido na Espanha, Sêneca, escrevia seu livro intitulado “Da Tranquilidade da Alma”, onde ele refletia sobre o comportamento das pessoas de sua época, e como este era nocivo.
Segundo observou, seus contemporâneos tendiam a inverter valores, agir hipocritamente, dar mais valor à aparência externa das coisas (o status) do que ao seu real valor interno, decidir suas carreiras mais pela expectativa de lucros e reconhecimento dos outros do que pela sua vocação, e finalmente, uma incapacidade de ter contato consigo mesmo, uma perda de identidade própria.
É impressionante constatar que essas características, que ele detectou em seu tempo, ainda são as mesmas na maior parte da sociedade, mesmo muitos anos depois.
Uma das tendências de que o filósofo nos fala é a de achar que fazer mais coisas, sem pausas, nos torna mais produtivos. Esse vício psicológico é fruto de uma mentalidade que crê que “quanto mais, melhor”, e também de uma compreensão errada do que vem a ser descanso.
Descanso não é não fazer nada, mas sim, aprender a trabalhar com ritmo e contra ritmo. O nosso coração, naturalmente, trabalha assim: sístole (movimento de contração, em que o sangue é bombeado para o corpo) e diástole (movimento de relaxamento, em que o coração se enche de sangue). Assim também deveríamos fazer: se estou trabalhando com a mente, alterno esta atividade com um trabalho manual, com algo que não exija muito do meu intelecto, e vice-versa. Se estou estudando, deveria alternar momentos de matemática, por exemplo, com outros de leitura de alguma matéria menos exata e mais reflexiva, e daí por diante. Assim, descansaria sendo ao mesmo tempo muito produtivo, e sem me esgotar.
Outra das características nocivas de que ele nos fala, é a de agir de uma forma quando estamos na frente de outras pessoas, e de outra, quando estamos sozinhos, o que é conhecido como hipocrisia. Platão, um outro filósofo, anterior e influenciador de Sêneca, conta-nos a história de um pastor de ovelhas, muito respeitado por todos em sua localidade e que sempre agia conforme a lei local, sem nunca ser desrespeitoso ou inoportuno. Um dia, este homem, em suas caminhadas de trabalho, achou um anel mágico e percebeu que, ao colocá-lo, tornava-se invisível para os demais. Ao se dar conta deste “poder”, de fazer as coisas sem que ninguém o julgasse, ele muda completamente seu comportamento e passa a cometer toda espécie de crimes, depravações e perturbações.
Quando, porém, retirava o anel e se tornava, de novo, visível, voltava a agir como “homem respeitado” e até se mostrava escandalizado, frente aos demais, com os atos que ele mesmo havia praticado. Quem esse homem era de VERDADE? Quem NÓS somos de verdade?
Sêneca ainda nos fala da necessidade de nos conhecermos e, a partir daí, nos amarmos de verdade. Se ainda não somos quem deveríamos ser, deveríamos fazer um esforço sincero e consciente para ajustar isso, pois é impossível ser feliz se não nos conhecermos, nos respeitarmos e nos amarmos. Um grande mestre, que foi contemporâneo de Sêneca, uma vez disse para amarmos ao próximo como a nós mesmos. Em outras palavras, se não amarmos a nós mesmos, não conseguiremos amar nosso semelhante.
Quer conhecer mais das ideias de Sêneca para ter uma vida melhor? Assista o vídeo que selecionamos para você.