Quais são os nossos interesses? Essa é uma pergunta extremamente ampla, afinal, a todo momento nossa consciência é atraída por diferentes aspectos. Se escutamos um barulho em nossa rua, por exemplo, logo passamos a nos interessar em saber o que ocorreu; quando sentimos fome, nosso interesse está em saciá-la. Além disso, parece-nos que nos dias atuais ocorre uma verdadeira guerra midiática para capturar a nossa atenção de tal maneira que passamos grande parte da vida somente em busca de interesses materiais.
Isso se revela de maneira muito simples: quais são os grandes objetivos que o ser humano comum possui hoje? Construir uma casa? Possuir bens materiais como carro, celular? Ou ainda viver um estilo de vida ostentador? De fato, diariamente somos bombardeados com propagandas que apresentam essas necessidades como urgentes e sinônimo de sucesso. Mas será que esse deveria ser o nosso verdadeiro foco de interesse? Viemos ao mundo para consumir, produzir e possuir bens que, ao final da existência, não poderemos levar? Hoje indicaremos um livro que nos faz refletir sobre os verdadeiros interesses humanos, aqueles que estão praticamente adormecidos em nós, mas que continuam a se expressar quando colocamos consciência neles.
O que é, de fato, um interesse humano?
Neste livro, Nilakantha Sri Ram, autor conhecido por apresentar conteúdos filosóficos profundos de uma maneira lúcida e acessível, nos leva a refletir profundamente sobre o que, de fato, pode ser considerado um interesse humano. A premissa de que se parte é simples e objetiva: um verdadeiro interesse humano deve ser aquele que apenas os seres humanos podem viver, pois assim se demonstrará algo genuíno e próprio de nossa espécie. Nesse sentido, quando falamos, por exemplo, do interesse de alimentar-se para sobreviver, esse é um desejo próprio de um instinto e que compartilhamos com um animal. Um cão diante de uma carne assada e saborosa sente o mesmo desejo de alimentar-se quanto nós, logo, não podemos classificar tal aspecto como um interesse genuinamente humano.
Partindo dessa perspectiva, Sri Ram nos leva a refletir sobre o que nos torna realmente humanos. Assim, precisamos entender o que nos compõe enquanto humanidade, pois sem isso nenhuma parte do livro será bem compreendida. Dito isso, perguntamos: o que nos torna, de fato, humanos?
De maneira objetiva, podemos apontar para a capacidade de viver de maneira autoconsciente. A racionalidade, algo que por muitos séculos foi apontado como o nosso grande diferencial, já pode ser observada em alguns animais, de modo incipiente, porém, o tipo de razão que possuímos é extremamente diferente do que hoje os animais desenvolvem. Não falamos aqui de uma razão que acha padrões, mas sim de uma forma de pensamento simbólico do qual podemos inferir e criticar de tal modo que somente nós podemos ser capazes de entender o mundo ao nosso redor para além dos aspectos egoístas e particulares.
Visto isso, o verdadeiro interesse humano está no desenvolvimento dessas capacidades em nós e nos demais, uma vez que somos dotados da capacidade de olhar e entender o outro em suas complexidades. Assim, o interesse humano abordado por Sri Ram transcende o aspecto material e busca elevar a consciência do leitor para uma nova perspectiva: os nossos interesses mais genuínos estão no plano metafísico.
A vida atemporal do ser humano
Entender essa ideia é fundamental para compreender o raciocínio de Sri Ram. O ser humano, dentro da perspectiva do filósofo, é dotado de aspectos físicos e aspectos metafísicos. O que chamamos de metafísicos nada mais é do que elementos que transcendem a barreira do tempo-espaço e que não podem ser tocados como, por exemplo, ideias e sentimentos. Para os mais céticos, basta pensarmos da seguinte maneira: pense em uma pessoa que você ama. Seja um filho, seus pais ou até mesmo um pet. Esse sentimento acaba? Mesmo que já não exista uma relação direta, ele permanece. Esse é um aspecto atemporal que o ser humano vive. O mesmo ocorre com uma ideia que aprendemos. Uma vez integrada à nossa vida, já não a esquecemos ou deixamos de vivê-la.
Há, portanto, uma parte humana responsável por captar e viver tais elementos atemporais, e somente nós podemos fazê-lo. Mesmo que tenhamos animais extremamente sentimentais, essa vivência de modo autoconsciente é uma característica intrínseca da nossa espécie. Para os antigos filósofos, esse grande diferencial humano, em que reside todas as nossas potencialidades, nada mais são do que as virtudes. Viver uma virtude nada mais é do que agir de forma consciente em prol da unidade da vida. Assim, a bondade, a gentileza, a generosidade e todas outras virtudes nada mais são do que uma expressão de nossa melhor parte, da nossa parte genuinamente humana.
Visto isso, Sri Ram desenvolve uma série de textos neste belo livro para nos explicar melhor como essas potencialidades são, de fato, o verdadeiro interesse humano. Nossa busca, por fim, deveria ser o desenvolvimento desses aspectos atemporais, que nos revelam a beleza e a magia de sermos partícipes dessa bela humanidade. Os temas abordados pelo filósofo indiano são de vital importância, tais como senso de valor, amor, felicidade, jogo de opostos, o ponto de vista dos outros, juventude, beleza e arte, vida e morte, o homem e o universo, dentre outros.
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