No primeiro domingo após a lua cheia do equinócio de outono/primavera (hemisférios sul e norte, respectivamente), chega a Páscoa, data móvel, associada ao pesach, passagem, a travessia do mar vermelho, entre Judeus, e a passagem da morte para a vida (ressurreição) de Cristo, entre os cristãos. Mas a passagem pelo signo de Áries, o “cordeiro de Deus”, o mesmo Khnum egípcio, o topador das trevas, inaugurando um novo ciclo pleno de luz e vida, vem de longas datas, muitas vezes associada ao ovo, como símbolo do gérmen de um novo ser, e à lebre, ligada à fertilidade, e a tantas, tantas outras histórias revestidas do mesmo significado, ao longo do tempo e do espaço, no oriente e no ocidente.
Filosoficamente, poderíamos resumir tudo a uma palavra: renascimento, esta arte da qual a natureza é mestra, ao substituir corpos antigos por novos, através dos quais continua a desenvolver suas ideias divinas, levando-as o mais próximo possível de sua perfeição ou ideal. Quanto aos homens, submetidos às leis de um mundo de formas transitórias, não lhes resta senão a opção de também reavaliar, periodicamente, suas ideias, inspirações e sentimentos mais nobres, apresentando-os em novas e mais aperfeiçoadas formas de ação, palavra e pensamento, mais próximas do ideal humano, pois, enfim, o renascentista é um humanista, um construtor constante de si próprio em expressões cada vez mais belas, justas e verdadeiras.
Enfim, se não acredito em nenhuma mudança possível em mim, senão aquela do envelhecimento, trazida pelo tempo e não pela vontade, a Páscoa nunca passará de uma data no calendário, uma confraternização, uma celebração com muito pouca vida (numa data que celebra exatamente a vida!) “Honrai as verdades com a prática”, dizia uma antiga filósofa… Apresente ao mundo uma versão mais nobre e completa de si mesmo, preenchendo todos os espaços possíveis com valores humanos, praticando-os, integrando-os como sua resposta à vida a partir de agora. A natureza já deu os sinais de que espera por isso: a Páscoa se aproxima. Feliz renascimento!
Texto da Prof.ª Lucia Helena Galvão. Publicado originalmente na página do Facebook da Nova Acrópole Brasil.
Assista também o vídeo abaixo, no qual a Professora comenta um pouco mais sobre os símbolos da Páscoa: