Tido como uma das manifestações artísticas mais antigas da humanidade, o teatro é considerado uma expressão cultural desde os primórdios da Arte. Surgido nas sociedades primitivas como rituais mágicos, com o objetivo de agradecer aos Deuses pela caça ou a colheita, logo foi vinculado às primeiras expressões religiosas. Anteriormente aos gregos, por exemplo, registros deixados pelo povo egípcio relatam que eles tinham em suas encenações expressões de sua cultura, cuja finalidade era exaltar as principais divindades da mitologia egípcia, principalmente, Hórus, Osíris e Ísis. Isso nos leva a perceber que as interpretações teatrais têm um papel importantíssimo na criação da cultura humana que perpassa por todas as épocas e dentre os vários povos.
O desejo de desempenhar ou representar temporariamente o papel de outrem, fantasiar-se dos modos, trejeitos e falas de outra pessoa, leva o indivíduo a reviver ou antecipar fatos construindo a sua própria realidade, o que estimula e traz a tona uma das ferramentas mais importantes do ser humano, a sua capacidade de imaginação.
A palavra “teatro” surgiu na Grécia, onde era descrita através do termo “théatron”. O mesmo, era derivado do verbo “theaomai” que significa “ver”, mais o sufixo “tron”, que significa instrumento, resultando no significado: “lugar onde se vê”. A palavra também pode ser apreendida a partir das seguintes acepções: local onde se realizam espetáculos, ou onde se interpretam um conjunto de textos produzidos por um autor. Mas de maneira geral, lembramos do teatro como um ator ou um conjunto de atores, que interpretam uma história para um público em algum lugar.
O teatro, tal como conhecemos, tem a sua origem na Grécia Antiga, mais precisamente, no século IV a.C. em decorrência dos festivais anuais em homenagem a Dionísio, conhecido como o deus do entusiasmo, da fertilidade, da alegria e do vinho. As peças eram encenadas com grandes máscaras, e foi ainda na Grécia que surgiram os dois gêneros de teatro: a comédia e a tragédia. As peças teatrais trágicas tinham temas ligados às leis, o destino e a Justiça. Autores gregos famosos nesse estilo foram Ésquilo, Sófocles e Eurípides. O teatro cômico estava ligado a representação engraçada do cotidiano da vida através de sátiras, sendo Aristófanes um grande autor da comédia grega.
Embora a Grécia seja reconhecida como o berço do teatro ocidental, existiram várias representações anteriores que diferem inteiramente do cunho grego. A história do deus Osíris, por exemplo, um dos dramas da mitologia egípcia, é uma das peças mais antigas que se conhece. O mito relata o assassinato do deus Osíris por seu irmão Seth. O texto foi descoberto por arqueólogos num papiro em Luxor, no ano de 1895. O papiro contém ilustrações, falas dos autores e comentários explicativos. Outras expressões teatrais anteriores às gregas podem ser encontradas na Índia, aproximadamente cinco séculos antes da era cristã. Poemas como Mahabarata ou Ramayana são consideradas peças indianas e vários dramaturgos se inspiraram nesses grandes épicos humanos como por exemplo, o indiano Bhasa no séc. II a. C.
Na China, há referências de espetáculos teatrais representados com músicas, palhaços e acrobacias desde 2205 até 1766 antes da era cristã, durante uma dinastia chamada Hsia. Assim como o Japão e a Coréia desenvolveram suas próprias formas teatrais. Por exemplo, teve no Japão um sacerdote por nome Kwanami Kioytsugu (1333-1384 d.c.), que foi um dramaturgo importante, onde o seu teatro era de uma perfeição técnica que envolvia a complexidade psicológica e simbólica com base no budismo Zen.
Assim, falar de teatro é falar da condição humana, é falar dos indivíduos experimentando fazer culturas e reconstruírem-se a partir de suas realidades e de um mundo suposto, pensado e desejado. Restringir o teatro ao mundo ocidental é, no mínimo, desconsiderar as experiências humanas dos demais povos e passar a ver o mundo com uma lupa que possui um filtro voltado apenas para o ocidente. É o que os antropólogos chamam de etnocentrismo ocidental. A humanidade é múltipla e, por isso, possui várias experiências dentro das suas várias matizes culturais. Entretanto, reduzir esse fazer artístico apenas a produção cultural e desconsiderar um conteúdo filosófico por trás, o sentido ou a essência que, como motores invisíveis, impulsionam os homens na busca de quererem conhecer a si mesmos e o mundo a sua volta, é o mesmo que acreditar que uma peça teatral é possível ser interpretada apenas com a ação, sem um texto.
A existência humana também é, de certa forma, teatral. Porém, diferente dos atores numa peça, nós entramos no palco da Vida, sem conhecer o público, sem conhecer o elenco e sem nem mesmo conhecer o roteiro. Nosso grande desafio é tentar compreender a peça, tentar desvendar o roteiro, ou seja, descobrir qual é o sentido da Vida. Sem isso, não é possível nem mesmo dizer se algum personagem que passa por você é um vilão, um herói, ou simplesmente um figurante dessa história. Além disso, precisamos entender qual é o nosso papel, o que precisamos fazer para que esta seja uma história de valor, e não somente mais uma obra que não acrescenta nada à vida de ninguém. E o gênero, qual será? O interessante é que um mesmo roteiro pode ser uma tragédia, um drama ou uma comédia. Isso depende exclusivamente da nossa interpretação, de como iremos reagir aos acontecimentos. Se formos bons atores, se encarnarmos bem o nosso papel, se colocarmos a nossa alma em tudo o que fizermos, quem sabe no último ato possamos compreender bem o roteiro da Vida e, ainda mais importante que isso, possamos entender melhor quem é o Grande Autor e Diretor.
VIVA O TEATRO!