Você já parou para refletir sobre o que é um ano? Sabemos, por definição, que um ano é uma unidade de medida de tempo, equivalente há 365 dias, que também é equivalente a uma volta que a Terra faz em torno do Sol. Apesar dessas precisas marcações, podemos entender o ano como um marco relativo, pois não há um ponto de início ou “fim” dentro do movimento de translação. Assim, o que demarcamos como “início do ano” e “fim de ano” nada mais é do que uma demarcação arbitrária, tanto que outros povos o fazem de maneira distinta, como o calendário chinês, por exemplo.
Sabendo disso, um novo aspecto é acrescentado quando pensamos nos anos: o ano bissexto. O ano bissexto acontece a cada quatro anos e tem duração de 366 dias, diferentemente dos demais que têm 365 dias. A inclusão de um dia foi feita para aproximar o calendário ao movimento de translação da Terra, pois o tempo exato que leva para darmos uma volta no astro-rei é de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 56 segundos. Por aproximação, fala-se, portanto, que essas 6 horas “a mais” foram, ao longo de quatro períodos, um dia a ser acrescentado no calendário. Este dia é 29 de fevereiro e podemos “celebrá-lo” a cada quatro anos. Em outras palavras, a cada ano, ficam acumuladas praticamente 6h, por isso, a cada 4 anos (4 x 6h = 24h), adicionamos um dia ao fim do mês de fevereiro.
Vale ressaltar que a lógica do ano bissexto vale somente para os calendários solares, ou seja, aqueles que se baseiam no Sol. Muitas culturas e religiões, por exemplo, usam calendários lunares para demarcar seus dias festivos e momentos de transição da Natureza. A diferença dos calendários está, justamente, na duração dos seus períodos, o que transforma os meses e torna as datas dinâmicas. Podemos perceber isso facilmente em nossa cultura, uma vez que o calendário cristão, de forma geral, tem como grande base a Lua. Celebrações como a Páscoa e o Carnaval têm suas datas sempre modificadas em função do nosso satélite natural.
Porém, o ano bissexto não é algo novo para nós. A bem da verdade, esse ano especial foi adotado no governo de Júlio César, cerca de 50 anos a.C., na Roma Antiga. O objetivo do ditador romano nada mais era do que ajustar o ano civil ao ano solar, combinando assim celebrações e momentos importantes para o Estado com o calendário regular. Para isso, foi preciso implantar outras modificações, como o acréscimo de um novo mês, Julho, que recebeu esse nome em homenagem a Júlio César. No entanto, a escolha de acrescentar o dia 29 de fevereiro a cada quatro anos só passou a vigorar em 1582, com o calendário gregoriano.
O vídeo abaixo traz uma boa e simples explicação:
Como surgiu o ano bissexto?
Uma lenda dizia que o primeiro calendário romano tinha sido criado por Rômulo, o fundador de Roma, contando com 304 dias divididos em 10 meses. Posteriormente, o sucessor de Rômulo, Numa Pompílio, criou um novo calendário em que o ano era composto por 355 dias, acrescentando-se dois meses à contagem.
O calendário romano passou a ser lunissolar e teve a adoção de um mês extra, chamado de mensis intercalaris, a cada dois anos para que houvesse o alinhamento com o ano solar. No modelo instituído por Numa Pompílio, o ano começava em março e terminava em fevereiro.
Cada mês dividia-se em três períodos:
- Calendas: primeiros dias do mês
- Nonas: meio do mês
- Idos: últimos dias do mês
Esses períodos de tempo também eram relativos, podendo ir de 5 a 10 dias. Assim, o calendário romano não era tão preciso e, com o passar dos anos, definir datas e festividades passaram a ser um grande desafio para os governantes. Com a diferença entre o calendário da época e o ano solar, o ditador romano Júlio César solicitou ao astrônomo Sosígenes que encontrasse uma maneira de diminuir tal disparidade. Sosígenes se baseou no que foi adotado pelos egípcios e definiu 365 dias regulares e um adicional a cada quatro anos, criando, assim, o calendário juliano.
O calendário juliano dividiu os 365 dias em 12 meses e, por não ser uma divisão exata, alguns meses ficaram com 30 dias e outros com 31. Algumas regras definidas pela Astronomia foram adotadas, como cada mês abranger as quatro fases da Lua.
Com o fim da adoção dos anos intercalares, o primeiro e o último mês do calendário juliano passaram a ser janeiro e dezembro, respectivamente. Além disso, as estações do ano passaram a ter datas definidas para início: oitavo dia antes do início dos meses de abril, julho, outubro e dezembro.
Desse modo, a reforma de Júlio César ajudou a estabilizar esse problema e seu sucessor, Otávio Augusto, também aperfeiçoou o calendário colocando seu próprio mês: Agosto. Com isso, as festividades romanas ocorriam, muitas vezes, dentro dos períodos que já citamos e tinha-se menos flutuações das datas. Tanto que, logo após a reforma de Otávio Augusto, Ovídio, um dos grandes poetas romanos, escreveu um livro chamado “Fastos”, que nada mais era do que uma demarcação do calendário de festividades romanas, já com suas datas estabelecidas.
Origem do termo “bissexto”
Para entendermos a origem do nome, também precisamos entender um pouco mais sobre o calendário romano. Um dos aspectos “curiosos” do calendário deste povo era que a contagem dos dias era feita de forma regressiva, logo, quando entrava-se em um período (as calendas, por exemplo), começava-se a contar de forma regressiva até o outro período.
Façamos agora um breve exercício de imaginação: vamos supor que faltam seis dias para as calendas de Março, por exemplo, e o governante romano determinou que: ‘ante diem bis sextum Kalendas Martias’. Este termo, que em sua tradução literal significa repetição do sexto dia antes das calendas de março (1º de março), determinava que o dia, literalmente, fosse repetido. Assim, deu-se a origem da palavra bissexto (duas vezes seis). A tradição romana, portanto, passou a repetir o sexto dia, que era 24 de fevereiro. Os romanos, portanto, não acrescentavam mais um dia, somente viviam duas vezes a mesma data.
Ano da Confusão
O calendário juliano foi adotado, mas ainda havia uma diferença de 80 dias em relação ao ano solar. Para solucionar o problema da contagem, Júlio César determinou que o ano 46 a.C. tivesse 455 dias, o que rendeu ao período o nome de Ano da Confusão.
Calendário gregoriano
Em 1582, o Papa Gregório XIII fez mudanças para que a diferença entre a duração do ano e o calendário fossem minimizadas, esse calendário ficou conhecido como gregoriano e é o que utilizamos até hoje.
A reorganização das datas mudou o dia adicional dos anos bissextos de 24 para 29 de fevereiro. Além disso, assessorado pelo astrônomo Christopher Clavius, o papa determinou que o dia posterior a 4 de outubro de 1582 fosse 15 de outubro, supressão de dias que ficou conhecida como “dias que nunca aconteceram” ou “dias perdidos”, diminuindo a diferença de 11 dias que havia sido gerada desde o período juliano para que o calendário pudesse ser ajustado.
Como são calculados os anos bissextos?
O primeiro cálculo dos anos bissextos foi definido no período juliano. O astrônomo responsável definiu que um dia fosse acrescentado ao mês de fevereiro a cada quatro anos. Após a morte de Júlio César, nem todos os anos bissextos foram de quatro em quatro anos, alguns ocorreram a cada três, o que gerou um excesso de dias. Para contornar o excesso de dias criados pela contagem incorreta, o imperador Augusto César determinou que entre 12 a.C. e 8 a.C. não houvesse a presença de anos bissextos no calendário juliano.
Para nós que já estamos acostumados com a forma de contar dias e anos no formato atualmente estabelecido, parece ser algo simples, porém, como a história mostra, sempre foi um grande esforço conseguir que a humanidade contasse o seu tempo em harmonia com a Natureza. A busca por esta harmonia sempre foi algo muito valorizado por todas as grandes culturas, do Ocidente e do Oriente, pois elas entendiam que as Leis Naturais são as verdadeiras líderes e governantes de tudo. Se nós as desrespeitarmos, seremos muito prejudicados.
Isso nos faz refletir: Será que hoje, com toda essa facilidade e conforto que possuímos, ainda temos o mesmo respeito que aqueles antigos povos possuíam pela Natureza? Cada vez mais observamos que nos falta viver integrado a Ela. Falamos abertamente sobre ecologia e meio ambiente, mas, ao mesmo tempo, nos deixamos consumir por um tempo artificial e não respeitamos o tempo da própria Natureza e seus processos. Desejamos controlar tais eventos e, de forma quase irônica, falamos tanto sobre o Cosmos e seus processos que esquecemos de viver conforme seus ditames. Essa necessidade de controle e aceleração do tempo natural acaba nos levando para um outro extremo: o de um mundo em que o tempo escorre pelos nossos dedos. Esquecemos de vivenciar o prazer das estações, de entender que cada período exige de nós uma postura e reflexão adequada, e acabamos atropelando uns aos outros em uma grande dança destrutiva ao longo dos dias, meses e anos.
Não deixemos, portanto, que haja esse descompasso entre o tempo natural e o tempo que gostaríamos de viver. Lembremos que na Natureza há um momento próprio para cada evento e que se soubermos entrar nesse fluxo da vida, poderemos, enfim, caminhar em direção à sabedoria.