Se você é fã de alguma série, filme ou game, com certeza já se deparou com alguns testes para descobrir qual personagem da série você seria, ou um quiz para ver o quanto você sabe sobre aquele universo ficcional. O mundo do entretenimento, como o nome já diz, nos entretém tanto que ficamos cada vez mais presos nele, tão presos ao ponto de corrermos o risco de preferi-lo à Vida real. E por ser mais fantástico e estimulante do que a realidade, nossa atenção se volta para este mundo, fazendo com que nos interessemos mais pelos problemas dos personagens do que pelos nossos. Até chegarmos ao ponto em que sabemos de cor o nome de todos, a idade, os gostos, todos os detalhes das séries e ainda elaboramos teorias para tentar explicar o que não ficou claro e tentar deduzir o que se passa na cabeça dos criadores.
Não entendamos mal, ter um momento de lazer com um jogo, ou assistir séries e filmes é divertido. É um passatempo que ajuda a relaxar a mente muitas vezes, mas, pensando nas crianças e jovens, será que esse tipo de empolgação com a ficção não pode prejudicá-los? Alguns jovens sabem de cor os nomes dos personagens e torcem para os casais das séries de ficção, e acabam descontando a sua ausência de romance na Vida real com o romance do entretenimento. Será que isso é saudável?
Nossa mente e memória não é capaz de armazenar tudo ao mesmo tempo. Entre fatos históricos e políticos da atualidade e os detalhes da última temporada, qual você acha que ela vai preferir? Talvez ela não saiba o que aconteceu no Brasil em 1822, mas sabe a data de lançamento do próximo filme blockbuster.
Esse tipo de “troca”, que nem deveria ser uma troca porque não estão no mesmo patamar de importância, é o que vai alimentando uma nova cultura em nossa sociedade, a cultura inútil. Inútil porque não agrega nada do ponto de vista formativo, prático ou intelectual. A cultura é uma ferramenta presente em qualquer civilização, onde se guarda os fatos e aprendizados do passado, que fizeram parte da formação de um povo e que ajudou a formar sua Identidade de sociedade. Um Homem que aprende com a cultura, com sua história e hábitos, se aperfeiçoa.
Porém, no contexto atual, pegamos nossa cultura secular e a trocamos pela cultura do entretenimento. Jovens entram em debates sobre os poderes dos super-heróis, vestem suas camisetas e se fantasiam de seus personagens favoritos para a pré-estreia do filme. É tanta dedicação para saber e participar desse universo, que por consequência a realidade é deixada de lado. O interesse pelos outros, pelos problemas do mundo, por questões políticas atuais e até por si mesmo, se perde.
Neste vídeo, Rodrigo Silva faz um excelente comentário sobre o assunto.
De que adianta uma cultura de ficção que não ajuda em nada a nível prático, Moral ou Espiritual? Como esse conhecimento o ajudará a enfrentar um mercado de trabalho, a lidar com a dor, ou a saber o seu papel no mundo?
Temos que ficar atentos, pois não é porque algo é valorizado hoje em dia, que quer dizer que este algo nos faça bem. E essa cultura inútil tem sido muito estimulada e valorizada, por todos nós é claro, mas pelos mais jovens principalmente. Não há problema em gostar da ficção e ter um personagem favorito, há problema em fugir da realidade e deixar de aprender com a Vida, que é a nossa maior professora, para aprender somente com as telas. Esse deve ser nosso cuidado.
A cultura cumpre com um papel numa sociedade da mesma forma que a ciência, a arte ou a política. Nenhuma sociedade existe sem esses pilares. E se é essencial para o coletivo, é essencial para o Indivíduo.
Isso tudo não quer dizer que devemos abandonar as obras de ficção. Na verdade, se a narrativa de um herói que deve enfrentar suas batalhas e superar suas dificuldades nos inspira a reconhecer as batalhas de nosso dia a dia, e nos estimula a dar importância para os desafios da Vida real, isso é muito bom. Ou se o drama entre os personagens de uma série me faz refletir e me ajuda a melhorar o meu relacionamento com os outros Seres Humanos, quer dizer que estamos fazendo o uso correto das obras de ficção, ou seja, estamos usando-as para viver a Vida real de forma cada vez mais intensa e profunda. Este deve ser o nosso referencial para não cairmos nas armadilhas do entretenimento.