Não podemos confiar em nossos sentidos. Essa parece ser uma frase um tanto quanto fatalista, porém, é fato que os nossos sentidos captam somente uma parte limitada da realidade, logo, é impossível acessar a Verdade apenas usando-os. Por outro lado, é graças a eles que conseguimos sentir e captar o mundo; e, certamente, sem eles nossa Vida seria muito mais difícil. O que fazer com eles então? Será que devemos confiar cegamente em tudo que observamos, tocamos ou percebemos através da nossa visão, audição, tato, paladar e olfato?
Precisamos refletir sobre isso. Comecemos com um exemplo básico: pensemos na audição. É fato que nossos ouvidos só são capazes de escutar uma pequena faixa de frequência entre o que é chamado de infrassom e o ultrassom. Os cães, por outro lado, já conseguem escutar sons que não captamos, e por isso sua audição é muito mais aguçada que a nossa. E esse é apenas um exemplo de um dos nossos sentidos. Se investigarmos mais, iremos perceber que, em algum grau, todos os sentidos deixam a desejar ou nos limitam. Como poderemos, então, conhecer o mundo, senão por meio dos sentidos, visto que estes não nos dão toda informação sobre a realidade?
Aprendendo sobre os limites dos sentidos e a razão ilimitada do ser humano
Um dos temas mais comuns à filosofia é sobre a natureza do conhecimento. De fato, muitas doutrinas vão refletir sobre como podemos aprender. Os ensinamentos de Buda, por exemplo, nos fala sobre como a dor é veículo de consciência e, portanto, uma forma de conhecer-se é a partir daquilo que nos machuca, seja física ou psicologicamente. Já os filósofos gregos buscavam compreender o mundo pelo uso da razão, uma vez que, nela, os limites impostos pelos sentidos não se atribuíam. Se somos limitados pela nossa visão de ver apenas o que os olhos captam, com a razão podemos refletir e buscar conhecer aquilo que nos é invisível.
Ainda assim, os sentidos não devem ser colocados para fora dessa equação, afinal, gostemos ou não, é por meio deles que podemos viver no mundo em que estamos. Aristóteles, um dos maiores pensadores que a humanidade já produziu, ao refletir sobre a questão do conhecimento, percebeu que há graus no saber humano. Para entender essa ideia, vamos imaginar o conhecimento como uma escada apontada para o alto, sendo o seu final a Verdade, ou seja, aquilo que é o suprassumo do saber.
O primeiro degrau dessa escada seria composta pelas sensações, que, a rigor, nada mais são do que a percepção dos nossos sentidos sobre um fenômeno. Ela nos dão uma informação limitada sobre o que buscamos conhecer e nos geram uma experiência individual. Um exemplo disso é quando entramos em uma sala fechada que tem um ar-condicionado ligado. Para alguns haverá uma sensação de frio, para outros poderá existir uma sensação de calor.
Essas sensações são fruto do contato do ar com o nosso tato e nos gera assim uma percepção. A depender do grau de sensibilidade de cada pessoa, haverá sensações diversas e, portanto, nunca saberemos se a sala está fria ou quente. No fundo, a resposta é que não existe o que chamamos de “frio” ou “quente”, uma vez que esses adjetivos são apenas formas de descrever um grau de temperatura. Frente a isso, os nossos sentidos, de acordo com Aristóteles, nos geram um grau de saber extremamente limitado e condicionado à nossa percepção, o que jamais poderá ser visto como a verdade.
Uma outra maneira simples de perceber como os nossos sentidos nos enganam são as ilusões de ótica. Imagens que se movem, mudança de cores e uma sobreposição de figuras geométricas são apenas algumas das maneiras de criar ilusões de ótica, que confundem nosso cérebro. Vez por outra, na internet, surgem brincadeiras desse tipo para entreter os usuários das redes sociais. Já houve casos de vestidos e sapatos mudando de cor, mas é curioso o fato de que nosso cérebro, a depender da situação, interpreta a imagem de maneira distinta. Essa falsa interpretação, que acontece no nosso cérebro, faz a imagem observada ser, de fato, diferente do que ela realmente é.

De maneira objetiva, as ilusões de ótica causam uma confusão momentânea em nosso cérebro, e acreditamos ver algo que, na realidade, não está ali. Isso pode ocorrer de diferentes maneiras, mas muitas vezes o que nos ocorre é uma má interpretação do que foi captado por nosso olho e interpretado pelo nosso cérebro. Assim, por mais que achemos reais algumas coisas, no fundo são apenas uma distorção daquilo que nosso cérebro achou que viu. Observe a imagem abaixo:

Essa é uma ilusão de óptica fisiológica. Ela tem essa classificação por causar a impressão de movimento, uma interpretação errada do nosso cérebro ao ver tantas imagens parecidas. Muitas vezes, enxergamos algo, interpretamos de forma errada e, por consequência, chegamos a conclusões equivocadas. Isso já aconteceu com você?
Como vencer os sentidos?
A reflexão sobre as ilusões de ótica se aproxima da filosofia de Platão e do Mito da Caverna. Assim como os prisioneiros da caverna, nós vivemos em um mundo de aparências, limitados a conhecermos apenas a sombra imperfeita do real; vivemos, de fato, em um mundo cheio de ilusões. Achamos que compreendemos o mundo quando, na verdade, estamos apenas vagando perdidos dentro da caverna e nos entretendo com o suposto “conhecimento” advindo das sombras. Mais uma vez, seja numa ilusão de ótica ou num aspecto mais profundo da Vida, nossos sentidos nos enganam.

Por isso não podemos nos limitar a conhecer o mundo apenas pelo aspecto sensorial. Seria imprudente acreditar apenas no que enxergamos, tocamos ou sentimos a partir de um dos nossos cinco sentidos. Se assim o fosse, deveríamos desconsiderar toda a Vida que existe a nível microscópico, como bactérias e vírus, pois não é possível vê-las à olho nu. E mesmo que não acreditássemos nessas formas de Vida, elas, ainda assim, existiriam e coexistiriam conosco.
Por fim, se faz necessário colocar em xeque o quão confiável são nossos sentidos. Mais seguro, provavelmente, seria nos relacionarmos com o mundo através de ideias, do raciocínio lógico e, principalmente, da vivência destas em nosso cotidiano. Afinal, quando nossos sentidos nos enganam, resta-nos buscar refúgio no campo da razão. Que possamos, portanto, Refletir e Viver Ideias para construir, de forma Plena e Segura, uma realidade para além das margens limitantes dos nossos sentidos ilusórios.
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