Você tem dificuldade na convivência com familiares? Geralmente esse é um problema comum entre as pessoas, e se este for o seu caso, meu caro leitor, não se preocupe pois hoje vamos tentar ajudá-lo. É fato que quanto maior o grau de convivência mais difícil é lidar com o outro. Se por um lado a relação mais próxima nos deixa mais “à vontade” de sermos nós mesmos, por outro isso abre brechas para que nossos defeitos sejam expostos e, consequentemente, isso pode atrapalhar as nossas relações. Quanto mais se convive, mais percebemos o esforço consciente que é preciso para poder dar ao outro o nosso melhor lado.
Não por acaso, frequentemente, levanta-se uma questão muito importante: tratamos melhor pessoas desconhecidas do que nossos familiares? Essa indagação nasce porque, geralmente, quando entramos em contato pela primeira vez com uma pessoa, tentamos mascarar nossos defeitos e expor nossas virtudes. Mas não seria interessante viver essa mesma realidade com nossos familiares e oferecer a eles a nossa melhor versão? Sabemos que isso não é uma tarefa simples, pois muitas vezes estamos imersos em emoções, problemas e situações que nos tiram do centro. Assim, a convivência deixa de ser apenas sobre morar sob o mesmo teto e passa a ser uma questão mais complexa, na qual precisamos de uma dinâmica saudável e que consiga se aperfeiçoar ao longo do tempo.
Frente a esse aspecto, hoje vamos recomendar o filme “Sentimentos que curam”. O longa conta a história de Cameron, um pai que sofre de transtorno bipolar. Ele tem duas filhas lindas e uma esposa muito esforçada, mas, depois de um colapso, precisa ser internado em um hospital psiquiátrico, onde passa uma temporada sendo tratado com medicamentos. Quando recebe alta, tem que assumir a responsabilidade de cuidar das filhas enquanto a esposa vai morar em outra cidade para fazer pós-graduação, trabalhar e sustentar a casa. O amor às crianças e o desafio de recuperar o relacionamento com sua esposa, por quem é super apaixonado, desafiam Cameron a ser mais forte que a sua doença.
O caso do filme apresenta uma patologia, um ponto que dificulta ainda mais a convivência entre Cameron e sua família. Porém, um dos aspectos mais belos do filme é o fato de o amor ser o fio condutor que leva o protagonista a superar sua enfermidade para poder oferecer sua melhor versão para suas filhas e sua esposa. A jornada de Cameron, entretanto, não é nada simples.
No começo do filme, uma das crianças está narrando a história que será contada, quando interrompe e diz: “Nós éramos felizes. Sei que a coisa é mais complexa. Sempre é!”. Essa fala nos lembra que cada um de nós vive sua própria complexidade, pois todos temos dificuldades, porque assim é a Vida, sempre é. É a condição Humana, mas diante das dificuldades inerentes às situações que vivemos, temos duas possibilidades de reação: ou nos deixamos ser tragados pelo redemoinho, ou resistimos. O personagem Cameron é uma ilustração de alguém que resiste. Há momentos dramáticos em que ele chega a quase desistir, chega até a pular em um rio, mas se ergue novamente e continua lutando.
Ao longo do filme, vamos percebendo que Cameron resiste porque tem uma motivação forte, o Amor à sua família. Ele é apaixonado por sua esposa Maggie e por suas duas filhas, Amélia e Faith. Elas são a sua razão de viver. Com essa motivação tão forte, ele desenvolve um grau de domínio sobre o caos que é a sua vida psíquica. Aqui percebemos o valor de estar próximo das pessoas que amamos, justamente aquelas com quem queremos conviver cada vez mais e para quem, nem sempre, apresentamos nossa melhor versão. Muitas vezes, o esforço e a dedicação que possuímos não são necessariamente nossos, mas acabamos adquirindo essas características graças ao outro. É pela nossa família, por exemplo, que fazemos os maiores sacrifícios e muitas vezes, sem que ninguém perceba, doamos nosso coração e energia para realizar os sonhos deles. Porém, isso ainda não é suficiente. É preciso saber viver ao lado dessas pessoas, o que muitas vezes requer mais esforço que entregar sua energia para possibilitar a realização de sonhos.
Mais do que nunca, tem se falado em saúde mental e problemas psicológicos. Tanto que, com certeza você conhece alguém próximo que já tenha enfrentado depressão, TOC, ansiedade, boderline, burnout, pânico ou algum outro transtorno do tipo. Um cuidado que precisamos ter é não reduzir o indivíduo à sua doença. São coisas diferentes, a doença é só um aspecto da existência, pois o Ser é algo para além da doença. Se uma pessoa tem depressão, por exemplo, temos a tendência de creditar todas as suas fragilidades na conta do problema psíquico. Então, preguiça, medo, mal humor, aversão a pessoas, pegamos tudo isso e dizemos: “ah!, isso é porque ele tem depressão”. O pior disso tudo é que o mais prejudicado com essa postura é o próprio doente, pois, assim como todo Ser Humano, precisamos de ajuda quando estamos enfraquecidos.
Cameron nos mostra que, apesar do transtorno psíquico, ele precisava se reinventar porque ele tinha uma família, que ele amava muito, e isso era incompatível com o comportamento que a doença impunha sobre ele. Então ele lutava contra a doença para diminuir seus efeitos. Por exemplo, a casa estava sempre bagunçada por causa de seus transtornos depressivos, mas, quando se aproximava o dia de Maggie visitá-los, ele encontrava forças, não se sabe de onde, e deixava a casa um brinco, porque ele precisava recuperar a relação.
A grande lição do filme é esta: somos maiores que qualquer problema de nossa personalidade. Existem aspectos dentro de nós que podem nos levar a ter um domínio da situação, seja ela qual for. Esse domínio, em síntese, nada mais é do que a capacidade de direcionar nosso corpo, nossa energia, nossas emoções e pensamentos em um só objetivo, de forma que nenhum desconforto possa nos parar. Ou seja, é estar no controle de todos esses aspectos e buscar viver baseado em um princípio de Unidade, Amor e Concórdia. No caso de Cameron, o que desperta esse poder latente nele é o sentimento de Amor profundo pela família. É sempre assim, sentimentos genuínos costumam despertar em nós forças capazes de mover montanhas. Nós temos sempre a opção de nos entregarmos ao sofrimento, nos tornarmos vítimas, reféns da circunstância, mas temos também a opção de lutar, de desenvolver uma Vontade descomunal para enfrentar a situação. Logo, o resultado disso é algo que todos nós perseguimos ao longo da vida: a Felicidade.
Felicidade não é necessariamente bem-estar, não é conforto, não é posse de bens materiais. A Felicidade tem a ver com o quanto conseguimos trazer para a Vida, o que há de melhor em nós, apesar de tudo. Nesse sentido, Cameron é um exemplo de Felicidade, porque, apesar de todos os transtornos, desvios psíquicos e de uma vida tão sofrida, ele conseguia ser um pai amoroso, presente, atencioso e divertido. Ele ajudava os vizinhos nos momentos de necessidade. Era uma “pessoa do bem”, como costumamos falar hoje. Esse é o melhor jeito de ser feliz. Sendo assim, não devemos esperar a cura das nossas doenças para poder ser feliz, não devemos esperar melhorar financeiramente para ser feliz, não devemos esperar terminar um curso superior, conseguir um bom emprego, etc. Não devemos adiar a Felicidade, é preciso ser feliz agora.
E como se faz isso? Desenvolvendo sentimentos. Quando a Vida nos antepõe uma oportunidade de Amar alguém profundamente, devemos aproveitá-la e Amar com todas as nossas forças, pois é daí que vem a verdadeira Felicidade. Dizemos isso porque não somos felizes pelo tanto que recebemos, mas sim pelo tanto que conseguimos oferecer já que o Amor nos leva ao despertar do que há de melhor em nós, e isso supera todos os problemas. No entanto, superar não significa que os problemas desaparecerão, pois, como no filme, eles estarão lá. É claro que para algumas pessoas será muito mais difícil do que para outras, por isso precisamos desenvolver um forte sentimento de tolerância com todas as pessoas. Mas quando olharmos para nós mesmos, devemos lembrar que temos o poder de sermos grandes Seres Humanos, apesar dos problemas que nos afligem. Isso é ser Feliz!