Poetas, Artistas e Músicos eternizaram, contando e cantando o Amor através de suas obras. Um dos mitos clássicos mais importantes sobre o tema é o Mito de Afrodite. Afrodite para os gregos, ou Vênus para os Romanos, sempre foi conhecida como a Deusa do Amor, da fecundidade e dos amantes. Para alguns estudiosos, tinha semelhança com “lshtar”, a virgem mãe da mitologia sumeriana, senhora dos céus e Deusa da fertilidade. Representada como uma Bela mulher desnuda, surgindo de uma concha, tinha uma beleza encantadora e se tornou um símbolo de feminilidade.
Conta o mito que Afrodite nasceu das espumas abundantes do mar provocadas pela queda do sangue e do esperma de Urano, o Deus que representa o Céu Estrelado, que teve sua parte fálica castrada por seu filho Cronos. Da espuma, Afrodite emergiu dentro de uma grande concha, possuidora de uma beleza admirável e invejável por todo o Olimpo. Esse mito é carregado de elementos e símbolos profundos que, com a ajuda da filosofia, tentaremos abordá-los aqui, ao menos em algumas das suas chaves de interpretação.
No geral, vemos Afrodite sob um olhar do Amor ligado à força e ao poder das paixões, como a Deusa protetora dos amantes regidos pelo instinto natural dos desejos e da atração sexual. Essa percepção está largamente representada na literatura de folhetins, nos filmes e nas obras da maioria dos artistas, sendo essa versão de Afrodite mais conhecida como a “Afrodite Pandemus”, que terá sempre uma conotação do Amor físico entre as pessoas.
Entretanto, há uma face do mito muito pouco conhecida, ou, no mínimo, não propagada como deveria, que é a versão da “Afrodite Urânia”. Nesta versão, ela simboliza a Deusa protetora do Amor Puro e Ideal… Nascida do próprio Céu Estrelado, representa a União entre o Céu e a Terra, ou seja, uma Unidade entre nossas ações terrenas, e a nossa Alma Divina.
Por representar o Amor Profundo, Afrodite Urânia carrega em si a essência do Bem, da Justiça e da Beleza, e por onde passa deixa o seu “perfume” e uma aura celestial. Nela mora a Plenitude da Unidade e do Amor que não é impactado pelos fatores externos ou pelas forças da matéria. É o Amor que não envelhece, que não enfraquece, que não é carente… O verdadeiro Amor incondicional. Para alguns filósofos, todas as formas de Amor derivam desse arquétipo Uno que não se confunde com as aparências, mas busca na essência das coisas a Centelha Divina que é a origem de tudo.
Vale lembrar que a Afrodite Pandemus, segundo o mito, não pode alcançar essa Beleza Una porque se enamora apenas do resplendor do seu reflexo nas coisas mais sensíveis, ou seja, na aparência. Por ficar presa às ilusões do mundo material, só compreende a força dos amores efêmeros e assim perde a possibilidade de ter contato com a Beleza verdadeira, que é a Beleza Interior. Pandemus é o desejo que necessita de “carne”, necessita do toque, dos sentidos, necessita possuir e controlar.
Simbolicamente, as duas faces de Afrodite refletem a dualidade de nossa Alma. Uma parte dela está como Narciso, presa e enamorada pelos corpos, pela matéria, por tudo que é passageiro. É a nossa parte que sempre busca o prazer e foge da dor. Mas há em nós também uma outra parte, que só compreende o que é eterno, ou seja, as formas e a Beleza das Virtudes. Por isso que, quanto mais elevarmos a nossa consciência a pensamentos, sentimentos e ações virtuosas, quer dizer que estaremos sendo conduzidos por Afrodite Urânia até aos mais elevados graus de prazeres Espirituais. Caso contrário, seremos sugados por nossa Afrodite Pandemus, e o que restará será o mundo das aparências, das possibilidades efêmeras e dos prazeres limitados, que nos aprisionam no vício e no descontrole.