Há dias em que o mundo parece ter decidido acelerar ainda mais o seu ritmo. Se normalmente já achamos que tudo ocorre em uma velocidade extrema, parece-nos agora que os extremos também estão decididos a passar mais uma marcha e construir a nova história do mundo. O senso comum cada vez exige mais um posicionamento a respeito de tudo e, em geral, acabamos arrastados para um ou outro lado desse grande muro social que divide as pessoas.

Para os jovens, esse ambiente pode ser ainda mais avassalador, uma vez que atravessam amizades e acabam levando essa forma de pensar para as redes sociais, sendo muitas vezes convocados a julgar, torcer e levantar bandeiras. Não nos entendam mal: é ótimo ter opinião. É poderoso sentir vontade de mudar, entretanto, é preciso perguntar: Até onde vai essa vontade? Para onde caminha quem transforma a indignação em ódio?
Por que os extremos prosperam?
Existem razões concretas para a aceleração dos extremos. Algumas delas são técnicas, como, por exemplo, a lógica dos algoritmos, que empurra conteúdo parecido com o que você já gosta, criando bolhas e uma rede efetiva de pessoas que têm a mesma forma de pensar. Essas bolhas são o que sustentam convicções, muitas delas sem contestação e, infelizmente, evidências. Outras vezes, o caminho que nos leva aos extremos é de ordem emocional: a ansiedade, a frustração com o futuro, a sensação de invisibilidade, entre outras emoções negativas (elas nos levam a radicalizar nosso discurso e ações). Junte tudo isso e você terá um ambiente onde o extremismo prospera como ervas daninhas: ocupa espaço, tira brilho das espécies nativas e multiplica-se rápido.

Um fator que acelera ainda mais esse processo é, naturalmente, a velocidade das redes, uma vez que elas acabam por transformar indignação em campanha com grande potencial de viralizar na internet. O que seria um debate, por exemplo, ganha formato de entretenimento, sendo as piadas, os memes e os atos irracionais mais importantes do que as ideias. Em vez de construir argumentos, criamos inimigos e, posteriormente, sentimos que devemos combatê-los, às vezes até mesmo fisicamente. E o mais inquietante é o fato de que a juventude, que tem razão para se revoltar diante de injustiças, encontra no extremismo uma promessa simples de mudança, mas que costuma custar caro, como a história já nos provou.
Quando o protesto vira tragédia: o caso do Nepal
Não precisamos voltar ao século passado para resgatar exemplos de como um mundo mergulhado em extremos é ruim. Basta observar o mundo ao nosso redor e teremos exemplos nítidos disso. Em setembro de 2025, o Nepal viveu uma onda de protestos que começou como reação a medidas governamentais que geraram um clima de insatisfação juvenil. O movimento, impulsionado por jovens, rapidamente tomou ruas, prédios públicos e, em alguns casos, invadiu residências de líderes políticos.

Em meio a esses episódios, a residência do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal foi incendiada durante confrontos. A esposa do ex-primeiro-ministro, Rajyalaxmi Chitrakar, sofreu queimaduras graves durante o ataque e foi levada para tratamento; reportagens indicaram que a violência foi uma das trágicas consequências da escalada dos protestos.
Por que contar esse fato? Porque ele mostra uma escalada de conflito que se repete em muitos lugares. Tudo começa com a reivindicação de algo legítimo. Assim, um grande número de pessoas reúnem-se e, em meio ao turbilhão de emoções e adrenalina, o que era uma ação pacífica começa a ganhar traços de violência. Com essa escalada, naturalmente o que era um protesto legítimo passa a ter vítimas que, muitas vezes, nada tinham a ver com as decisões políticas que estavam sendo questionadas. O protesto que buscava visibilidade acabou, para alguns, em fogo. Isso não apaga as causas das insatisfações, mas nos lembra que os meios contam tanto quanto os fins.
O grande problema da intolerância: o caso de Charlie Kirk
Em outro tipo de exemplo, nos Estados Unidos, a violência política também atingiu um ponto crítico. Também em setembro de 2025, no campus da Utah Valley University, o ativista e influenciador político Charlie Kirk foi fatalmente atingido por um atirador durante um evento. O episódio virou símbolo de como a polarização e o tom cada vez mais agressivo das disputas públicas podem acabar em tragédia. Agentes federais e a imprensa investigaram amplamente o caso, que gerou debates acalorados sobre discurso, responsabilidade e segurança.
O caso de Kirk é importante pois não se trata apenas de política, mas também de como transformamos adversários em inimigos. A polarização que vivemos atualmente, seja no contexto geopolítico ou mesmo em pautas locais, cria um clima de tensão que desafia a convivência humana. Quando a pessoa do outro lado deixa de ser vista como um ser humano, ou seja, quando colocamos nela uma caricatura, algo a ser combatido com todas as nossas forças, isso se torna extremamente perigoso. Nesses casos a violência deixa de parecer um limite absurdo e passa a ser um “meio” para corrigir o mundo, exterminando aqueles que não concordam com nosso ponto de vista. E isso é perigoso para qualquer sociedade.

Vale ressaltar que não se trata de defender um ou outro lado. No caso de Kirk, um dos seus principais opositores no campo das ideias, por exemplo, aparece consternado, em lágrimas, pois sabe que o que ocorreu com seu adversário não é digno. Essa empatia é fundamental para mantermos nossa dignidade humana, algo que tem sido cada vez mais raro no cotidiano. Estamos, infelizmente, cada vez mais insensíveis à dor do outro, e isso é, em grande parte, culpa do pensamento extremista que alimentamos a partir do que ouvimos, assistimos e pensamos sem usar o filtro adequado acerca das nossas ideias.
Frente a isso, podemos dizer que o extremismo oferece três coisas simples que fazem com que muitas pessoas passem a aderi-lo: clareza, pertencimento e ação. Em tempos complexos, ter um mapa certo e um inimigo a combater dá conforto. Do mesmo modo, ao se juntar para combater o “inimigo”, as pessoas sentem-se parte de um grupo, algo que ajuda a aplacar nossa carência. Ao pensarmos que “fazemos parte de algo”, somos motivados a concordar e reproduzir a mentalidade do grupo. Para quem se sente invisível, isto é extremamente sedutor. Entretanto, a adesão às soluções fáceis, às teorias simplistas e ao “ou comigo ou contra mim” mata nossa chance de reflexão.
O efeito direto do extremismo nas relações
O que começa como disputa online pode migrar para o corredor da escola em poucas horas. Um comentário que desumaniza o outro, uma montagem compartilhada, um áudio pejorativo, tudo isso pode tornar a vida real ainda mais tensionada. De repente, essa forma de polarizar e nos colocarmos uns contra os outros fazem com que amizades terminem e redes sociais tornem-se verdadeiras trincheiras virtuais. Até mesmo dentro da sala de aula há quem fique preocupado. Hoje, muitos professores receiam abordar assuntos devido a grande polarização, afinal, ao falar de fatos históricos pode-se ser mal interpretado e julgado por um ou mais lados desse grande campo de batalha em que vivemos.
Ao mesmo tempo, é importante entendermos quando estamos caindo nesse radicalismo. Assim, devemos refletir quais sinais de que um discurso está se aproximando do extremo, afinal, tudo começa no que pensamos e falamos antes de chegar ao mundo das ações. Assim, o primeiro ponto a observarmos é justamente como tratamos aqueles que pensam diferente de nós. Devemos ter cuidado com uma linguagem que desumaniza, tratando os outros como algo abaixo do humano. Frases como “eles são lixo”,ou “não merecem viver” estão repletas de ódio e não devem ser usadas em nenhum discurso, mesmo em tom de brincadeira.
Essa forma de pensar, infelizmente, nos leva para o campo das ações e, muitas vezes, após esse tipo de discurso se buscam soluções violentas. Assim, quando pensamos que o outro não merece viver, por exemplo, estamos tendenciosos a querer que, de fato, alguém execute tal pensamento. Não precisamos apontar o quanto esse tipo de postura é desumana e não deve ganhar espaço em nossas mentes e corações. Se você observar esses sinais em seu grupo, é hora de frear e conversar.
A empatia e a dúvida: duas armas para combater o extremismo
Urge a necessidade de combater o extremismo. Porém, não podemos cair em outros extremos para vencer essa guerra do cotidiano. Assim, em um mundo que preza cada vez mais pela guerra, devemos ser, acima de tudo, empáticos e não deixar nós mesmos em uma posição dogmática. Assim, reconhecer o valor do outro e estar sempre pronto para duvidar de suas convicções são formas eficientes de não se deixar cair em discursos e ações que destroem a humanidade.

Sendo assim, faça a seguinte pergunta antes de falar sobre um assunto: “Por que acredito nisso?” Com a mesma seriedade ouça ativamente a opinião alheia, sem julgamentos ou críticas, apenas escute e permita que o outro explique sem interromper. Do mesmo modo, sempre teste suas fontes, ou seja, busque saber exatamente de onde saíram as informações que você está defendendo. Em um mundo de notícias falsas uma manchete não é prova, muito menos deve servir como base para nossas convicções. Com isso em mente, aprenda a cultivar a dúvida de maneira saudável. Sempre reflita: “Posso estar errado. E se estiver, vou me reposicionar?”
Em um mundo que exala certezas, esses são exercícios que não nos enfraquecem perante a vida, mas que nos tornam capazes de realmente compreender diferentes pontos de vista e de nos tornar buscadores da verdade.
Para onde podemos escolher caminhar?
Voltemos para a pergunta inicial: para onde caminha os extremos? Sem intervenção, naturalmente os extremos irão se encontrar em um campo de batalha. Quando nenhum dos lados deseja ceder e cada vez mais escala-se a violência, é inevitável que o pensamento se torne ação, e a ação, com base no desejo de vitória, irá caminhar para a guerra. É assim que tem sido a história humana em diferentes momentos, e hoje, mesmo com nossa “sabedoria” tecnológica, ainda repetimos os erros do passado. Continuamos nos dividindo e perdendo diariamente mais pessoas para os extremos.
As histórias do Nepal e de Charlie Kirk funcionam como lembrete e, ao mesmo tempo, aviso de como estamos caminhando para tempos obscuros: o caminho da reação violenta raramente constrói algo duradouro; ele consome pessoas e as chances de redenção são baixas. Os jovens, que estão aprendendo sobre o mundo e seu funcionamento, estão em posição única, pois ainda não estão completamente contaminados com esse tipo de pensamento e possuem a disposição necessária para reverter esse quadro.
Assim, a responsabilidade é coletiva, mas a ação começa individualmente. Que possamos escutar primeiro, observar o ponto de vista alheio e sempre lembrar que, acima de qualquer diferença, seja ideológica ou de qualquer outra natureza, somos seres humanos, e isso deve ser preservado a todo custo. Se escolhermos essa direção, os extremos perderão terreno e o futuro será, por fim, menos dramático e mais humano.




Comentários