A Pressão Social do Sucesso Cedo: Como Lidar com Comparações e Expectativas

Você já sentiu a pressão social do sucesso cedo, como se estivesse atrasado na vida mesmo tendo apenas 15 ou 16 anos? No Instagram, parece que todo mundo já conquistou fama, dinheiro ou uma carreira brilhante – menos você. Ou então, aquela menina que estudava com você agora posta que passou em uma universidade super concorrida. Dá a impressão de que todo mundo já está conquistando coisas enormes, não é? Menos você.

Jovem olhando redes sociais e se comparando com influenciadores bem-sucedidos
A comparação nas redes sociais intensifica a pressão por sucesso cedo.

Acredite, esse sentimento não é só seu. Ele faz parte de uma pressão social que cresce cada vez mais: a ideia de que você precisa alcançar o sucesso o mais cedo possível. Parece que, se você não estiver rico, famoso ou com uma carreira consolidada antes dos 20, está “ficando para trás”, mesmo que sua vida tenha começado há pouco tempo.

Será que isso é verdade? Será que o sucesso precisa vir tão cedo assim e para todo mundo? E, mais importante: o que acontece quando a gente corre atrás desse padrão sem parar para respirar? Quando queremos atingir essa expectativa tão cedo, será que isso faz bem pra gente?

É isso que vamos discutir nesse texto. Se prepara, porque vamos mergulhar fundo no assunto, com histórias reais, reflexões e dicas práticas para você lidar melhor com essa cobrança que o mundo tem imposto em nós e que tanto tem nos prejudicado.

A cultura do sucesso instantâneo

Vamos pensar nas causas que envolvem esse desejo de sucesso instantâneo. A primeira e mais profunda delas certamente é o modo como vivemos hoje em dia. Há 30 anos, por exemplo, não existia mensagens instantâneas, chamadas de vídeo e não se podia assistir o que quisesse na hora que quisesse. Eram outros tempos, em que tudo deveria ser programado, refletido, pensado e, principalmente, esperado. Hoje já não precisamos esperar para nada: nem para falar uns com os outros, nem para desejar o que está na nossa frente.

Linha do tempo mostrando a evolução da tecnologia e a aceleração da vida moderna
Vivemos em uma era de velocidade onde tudo acontece em tempo real.

Tudo acontece rápido demais e a todo momento. Pense no TikTok: ele entrega vídeos de 15 segundos e basta rolar a tela que haverá outro logo, sem tempo para descansar. Quando ficamos com dúvidas o Google responde qualquer coisa em menos de um segundo ou, se queremos algo mais bem elaborado, pedimos ao ChatGPT que resuma uma matéria da escola ou da faculdade. As notícias chegam em tempo real nos nossos celulares, o que antes era preciso esperar o jornal, impresso ou na programação da TV, para se informar. Nesse ritmo acelerado, não é surpresa que a gente também espera que a vida avance em “modo turbo”.

É aqui que nasce o problema: enquanto a tecnologia é instantânea, a vida não é. Uma planta na vida real não cresce tão rápido quanto em um vídeo game, nem mesmo a gente. Essa diferença entre o tempo da internet e nosso tempo social cria uma falsa sensação de que estamos parados enquanto todo mundo está evoluindo, tendo seus negócios e conquistando tudo que sempre sonhou, tudo isso em um piscar de olhos. Porém, será que isso é real? Aprender uma habilidade leva tempo. Construir relacionamentos leva tempo. Descobrir quem você é leva tempo. E mesmo assim, a sociedade insiste em vender a ideia de que o sucesso pode (e deve) acontecer da noite para o dia.

As redes sociais se tornaram vitrines de vidas perfeitas. E, convenhamos, quase ninguém posta quando está chorando porque recebeu um “não” ou quando não conseguiu pagar uma conta. A gente só vê o lado brilhante, filtrado e editado. Quando postamos algo “negativo”, muitas vezes é para chamar atenção e sentir-se amado(a) pelo seu público. Infelizmente é assim que as redes sociais nos veem: como um público a ser conquistado. Não por acaso, usa-se o termo “seguidores”, pois naquele espaço não construímos amizades, mas sim verdadeiros negócios, somos influenciadores e, ao mesmo tempo, influenciados. 

Planta crescendo lentamente em contraste com barra de carregamento rápida
A vida real não tem o mesmo ritmo da internet.

Esse bombardeio constante cria uma sensação muito cruel de que todos estão crescendo e nós apenas assistimos ao sucesso alheio, sem conseguir o nosso. Mas a verdade é que por trás de cada foto de carro de luxo pode existir uma dívida enorme. Por trás de cada “sucesso precoce”, pode haver noites de insônia, crises de ansiedade e até arrependimentos que nunca serão mostrados nas redes sociais.

Quantas vezes você já ouviu histórias de pessoas que ficaram milionárias aos 18, 19 anos? Parece inspirador, mas também pode ser sufocante. Isso porque esses casos são exceções, não a regra. A maioria das pessoas leva tempo para construir uma carreira sólida e bem sucedida. Logo, o que é mais provável?

Sermos aquele ponto fora da curva e a exceção da regra, ou trilharmos o caminho mais longo e natural, que praticamente todo mundo fará? É óbvio que a segunda opção é a que tem maior chance. E sabe o que é mais curioso? Não tem problema nenhum nisso, pois a vida é exatamente assim! Muitas das grandes mentes da história só alcançaram reconhecimento depois dos 30, 40 ou até 50 anos, então por que estamos tão apressados?

Billie Eilish ganhou um Grammy antes dos 20. Neymar estreou no profissional ainda adolescente. Mark Zuckerberg criou o Facebook na faculdade. Todas essas histórias são incríveis, mas quando viram padrões, elas se transformam em prisões. Não podemos usá-las como regra, pois não ocorre com todo mundo e está tudo bem sendo assim. O problema é sentir que se você não está nesse nível ainda, parece que está falhando. Isso é uma grande mentira criada, muitas vezes, para nos pressionar a ser e produzir o que ainda não somos capazes.

Como a comparação afeta a nossa autoestima

Se existe uma palavra que define muito bem a adolescência, ela é comparação. Você olha para os colegas da escola, para os amigos do bairro, para as pessoas que segue no TikTok ou no Instagram e, sem nem perceber, começa a se medir pelo que eles estão conquistando.

Adolescente se olhando no espelho com sombras de comparação ao redor
A comparação constante corrói a autoestima dos jovens.

É como se houvesse uma régua invisível no olho das pessoas e cada conquista alheia fosse um lembrete de que você “ainda não chegou lá”. Mas aqui está a verdade: cada pessoa tem um tempo diferente. Por mais que a gente deseje acelerar processos e pular etapas, cada pessoa vai ter seu próprio desenvolvimento.

É igual como estamos crescendo: tem gente que rapidamente cresce muito rápido, tem outros que leva muito tempo e, no fim, cada um terá sua própria altura, suas próprias habilidades. O problema é que, quando esquecemos disso e achamos que ao se tratar de uma carreira ou mesmo do nosso futuro essa regra não se aplica. Assim, caímos em armadilhas emocionais pesadas e que pode nos destruir por dentro.

Sentimos isso de várias formas. Sabe aquela sensação de que todo mundo já sabe o que quer da vida, menos você?Pode parecer que os colegas já têm tudo definido: alguns estudam para medicina, outros para direito, alguns já começaram a trabalhar, outros criam conteúdo na internet. Mas essa percepção quase sempre é distorcida. Muitas vezes, essas mesmas pessoas também se sentem perdidas, só que não demonstram. As vezes não definimos o nosso futuro, mas apenas pegamos o futuro que nos foi construído: seja pela família, pelo que é socialmente aceito, mas, no fundo, não é o que desejamos.

Como faz para combater isso então? Já que sentimos que estamos perdidos ou atrasados, é importante perceber que isso não existe, ninguém está realmente atrasado. O seu tempo é inteiramente seu, ninguém pode roubá-lo, pois a vida, pelo bem ou pelo mal, é sua. Você só está em outro capítulo da sua história e, a rigor, cada um de nós está construindo essa jornada e está em um ponto dela. Se não entendermos isso poderemos nos perder em ansiedade, medo e na falta de autoconfiança.

Visto isso, é importante entender que a internet não é o vilão dessa história. Se por um lado as redes sociais nos bombardeiam de pessoas “bem sucedidas” com pouca idade ou esforço, não podemos isentar a família e a escola como outro ponto que, muitas vezes, nos pressionam. É evidente que esses são dois ambientes que moldam grande parte da forma como enxergamos a vida e como vamos lidar com as experiências que vivemos.

Logo, se somos criados em ambientes de pressão será natural que nossa psique fique cada vez mais tensionada. frases como “Você precisa ser o primeiro da turma.” ou  “Tem que passar em uma faculdade de ponta.” são proferidas quase todos os dias para milhares de adolescentes e isso, consequentemente, vai introjetando na mente dos jovens um senso de urgência, de que se não conseguir ser o melhor então você é um fracasso ou terá uma vida terrível.

Outra frase muito comum é a de que“ Precisa ganhar dinheiro cedo para não depender de ninguém.”, que apesar de ter um certo sentido, também nos faz querer correr contra o tempo e achar que é necessário ser milionário antes dos 30 anos.

Para alguns pais e educadores, essa pressão pode soar como motivação, afinal, os jovens perdem o foco rapidamente, porém, o fato é que isso apenas piora a psique dos adolescentes. Esse fardo emocional pode desenvolver patologias como a síndrome do impostor ou crises de ansiedade, por não conseguir controlar ou sentir que é capaz de chegar até onde projetam.

Dentro dessas projeções está a faculdade, um passo importante na jornada escolar das pessoas. Não por acaso, desde cedo a escola prepara os alunos para o ENEM, muitas vezes sendo somente esse o seu objetivo enquanto instituição de ensino. Para garantir o sucesso nesse exame, exige-se sempre que os alunos atinjam notas altas, afinal, estarão competindo por uma vaga nas melhores universidades do país. 

Esse modelo de ensino, porém, é um barril de pólvora pronto para explodir, pois cada vez mais os alunos são pressionados a serem melhores, tecnicamente quase perfeitos em suas provas e redações, pois espera-se que eles possam entrar sempre nos “melhores” cursos ou faculdades. Não é à toa que muitos adolescentes já sentem que estão em uma corrida sem linha de chegada, pois assim que entram em uma dessas universidades a corrida continua, agora para ser um grande profissional e assim segue até o fim de suas vidas.

O mercado de trabalho e a pressa por resultados

Além da escola e da família, existe também o mundo do trabalho. E ele pode ser brutal.Hoje, empresas procuram candidatos “jovens, mas experientes”. Parece piada, mas não é. A cobrança por ter currículo robusto começa cedo: cursos, intercâmbios, voluntariados, estágios. O fato de cada vez mais as empresas buscarem pessoas com capacidade de trabalho e especializações diversas faz com que, consequentemente, o jovem sinta que precisa viver três vidas em uma. Naturalmente, muitos sentem-se que jamais vão estar à altura do que se cobram.O resultado? Mais pressão, mais comparação e mais sensação de inadequação.

Jovem cansado diante do computador com pilhas de currículos e exigências de mercado
O mercado pressiona os jovens a serem experientes cedo demais.

Nos últimos anos, cresceu o culto ao chamado hustle culture, aquela mentalidade de que você precisa trabalhar 24 horas por dia para conquistar algo.É a ideia de que, se você não está empreendendo, criando algo ou ganhando dinheiro no tempo livre, então está “desperdiçando sua vida”.Mas será mesmo que viver assim é saudável?Afinal, a juventude também é feita de experiências simples: rir com amigos, errar sem medo, aprender com calma.

A consequência de cultivar esse tipo de mentalidade é o adoecimento da psique. Não fomos criados para viver sob pressão constante e alimentar esse estilo de vida por anos pode levar a crises físicas e psicológicas. Uma das principais síndromes que podemos desenvolver é a do impostor. Sabe aquela vozinha que fica na nossa cabeça dizendo: “Você não é bom o bastante.”; “Você só conseguiu por sorte.”; “Logo vão descobrir que você é uma farsa.”? 

Essa sensação de que não deveria estar colhendo os frutos do seu trabalho ou de que não é bom o suficiente já é uma das síndromes mais difundidas no mundo atual. Essa eterna incompletude da vida vai se tornando um peso e cria-se a sensação de que estamos enganando a todos quando, na verdade, só estamos fugindo de nós mesmos.

Outra patologia da psique que estamos desenvolvendo é o burnout.Você já ouviu falar disso? É um esgotamento físico e mental causado pelo excesso de responsabilidades. Geralmente associados a adultos, nos últimos anos o burnout tem sido cada vez mais comum em jovens. Seu sintomas mais claro são a falta de energia, o desânimo constante, a sensação de vazio interno e, em alguns casos, até insônia. Tudo isso é resultado dessa pressão que tenta obrigar os jovens a crescer fora do tempo.

O outro lado da moeda: o valor do tempo e da paciência

Agora, vamos inverter a lógica. E se o sucesso cedo não for, necessariamente, a melhor opção? Parece ilógico o que vamos  falar agora, mas vamos refletir por alguns segundos nessa possibilidade. E se, ao invés de correr contra o tempo, o segredo for respeitar o seu próprio ritmo? Se ao invés de querer corresponder a expectativa que o mundo tem sobre nós, fossemos perseguir aquilo que realmente queremos viver, a nossa verdadeira natureza?

Muitas vezes o sucesso é uma consequência de vivermos aquilo que acreditamos e isso leva tempo. Olha só alguns exemplos que ninguém te conta na escola: J.K. Rowling, autora de Harry Potter, só lançou o primeiro livro aos 32 anos. Antes disso, enfrentou pobreza e rejeições, ficando muitas vezes vista como uma “fracassada”, porém, hoje é uma das escritoras mais bem sucedidas do mundo; Morgan Freeman, um dos maiores atores de Hollywood, só ficou famoso aos 52 anos e seus papéis marcantes só foram existir após os 60.

Poderíamos citar outra centena de casos, porém vamos nos restringir apenas a esses dois exemplos. O que eles tem em comum? Não desistiram de sonhar. Perceba, não foi da noite para o dia que alcançaram o sucesso, mas estão lá. Conosco pode ser a mesma coisa, desde que não deixemos nossa psique adoecer com uma pressão ilusória que só nos faz mal. É preciso, acima de tudo, conhecer bem a si mesmo para saber quais são nossos objetivos e como faremos para alcançá-los, mas respeitando sempre nossa própria identidade. Para isso é preciso criarmos estratégias, ou seja, caminhos para chegar nesse destino que desejamos. 

Estratégias para lidar com a pressão social

Até aqui entendemos o problema, mas e a solução? Não basta apenas falar sobre como a pressão social é ruim e nos prejudica, vamos também entregar algumas ferramentas que você poderá usar para construir uma jornada com mais consciência e naturalidade.

A primeira coisa é simples: defina o que é sucesso para você. Pode parecer uma besteira, porém, se você não sabe o que é o sucesso, como vai persegui-lo? Para alguns, pode ser ter estabilidade financeira, Para outros, pode ser viajar o mundo. E, para outros ainda, pode ser apenas ter paz e saúde mental. E para você, qual o seu critério? É importante entender que, uma vez que definimos isso, poderemos arcar com as consequências de nossas escolhas, visto que vamos caminhar em direção a esse destino.

Ainda assim, quando você cria sua própria definição, fica mais fácil parar de viver o sonho dos outros e começar a viver o seu. Não deixe que as redes sociais definam o que é sucesso para ti, assim como outros assuntos e pense sempre por si mesmo, considerando o que lhe deixa em paz, feliz e que traga uma verdadeira satisfação quando você atua.

É evidente, porém, que não basta apenas ter sonhos. Para realizar e chegar ao sucesso é preciso esforço e dedicação, por isso estudar, trabalhar e dedicar àquilo que você sonha é fundamental. É preciso, portanto, estabelecer uma rotina saudável, com ritmo e contra-ritmo, variando momentos de esforço e lazer. Não podemos cair nos extremos e querer apenas trabalhar ou estudar demasiadamente, tampouco nos entregarmos a preguiça e apenas desejar ficar em nossos computadores e video-games. 

Para cada objetivo que traçamos é fundamental termos em mente o esforço necessário e o tempo que faremos isso. Mais uma vez reforçamos: não se trata de querer chegar rápido, mas sim ter a constância no que faz. Além disso, é fundamental celebrar as pequenas vitórias, pois são elas que pavimentam o caminho para o sucesso. Tendemos a achar que a felicidade estará no fim da jornada quando, a bem da verdade, é no caminhar, na conquista de cada novo degrau, que nos realizamos. Por isso devemos ser felizes cotidianamente, dentro da proporção que podemos exercer frente o futuro que nos aguarda.

O futuro não precisa ser uma corrida

Dito tudo isto, é fundamental entender que não estamos participando de uma corrida. A Vida – com “V” maiúsculo – não é sobre quem chegou primeiro ao sucesso, a fama ou qualquer tipo de realização pessoal que planejamos. Sejamos ricos ou pobres, tendo milhares de seguidores ou alguns poucos, o que de fato importa é alcançar o que realmente chamamos de sucesso. E isso não pode ser determinado pela sociedade, pelas redes sociais ou qualquer outro meio externo. Essa realização precisa nascer, necessariamente, dentro de cada um de nós.

Pessoa caminhando em trilha tranquila, simbolizando ritmo próprio de vida
Cada um tem seu próprio tempo e jornada.

Logo, só se realiza quem encontra o seu coração e o deposita na vida. Não podemos achar que vamos estar com “tudo resolvido” em poucas décadas, pois a vida humana vai muito além desses números. Não podemos cair nessa ilusão, pois dela só há de nascer sofrimento e angústia. Melhor vivermos a partir de nosso próprio ponto de consciência e expandi-lo à medida em que avançamos nos degraus da vida. Um dia, seja amanhã ou daqui há muitos anos, poderemos celebrar a nossa principal conquista: a de vencer a si mesmo.

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