O símbolo da psicologia, representado pela letra grega Psi (Ψ), carrega séculos de significados sobre como o ser humano tenta compreender sua mente e emoções desde os primórdios da história. Perguntas como “Por que sentimos?”, “O que nos motiva?” e “Como lidamos com a dor?” acompanham nossa história, e, gostemos ou não, somos os únicos seres do planeta Terra com a habilidade de autorreflexão, ou seja, a habilidade de investigar e perguntar a si mesmo sobre essas dores invisíveis, que afetam nossa mente e coração. Foi graças a essas inquietações que surgiram religiões, mitos, sistemas filosóficos e também, mais tarde, uma ciência especializada em entender nossas dores da alma: a psicologia.

É importante destacar que o que chamamos hoje de “psicologia” é, acima de tudo, uma forma científica de compreender os mistérios internos do ser humano, mas que desde sempre foram investigados e apontados por diversas civilizações e doutrinas como as formas que usamos para lidar com o subjetivo em nós. Apenas para tomarmos como exemplo, se remontamos às quatro nobres verdades de Sidarta Gautama, o Buda, perceberemos que esse mestre de sabedoria nos fala sobre como lidar com a dor e aprender a cessá-la. E quantas dores que sentimos não são físicas? Quantas angústias carregamos em nosso coração? Como aprender a lidar e aplacar tais dores?
O budismo ilumina um caminho para esse processo, assim como, dentro do campo científico, o cuidado de um psicólogo também é extremamente recomendado para aprendermos com tais sofrimentos. Logo, o que podemos entender é que sempre existiu uma preocupação com o que se passa dentro de nós e hoje, dentro do nosso modelo de sociedade, usamos a psicologia para investigar mais profundamente tais mistérios. Mas o que é exatamente a psicologia?
A origem histórica da psicologia
A rigor, podemos dizer que a psicologia é a ciência que investiga processos mentais e comportamentais. Isso inclui estudar como pensamos, sentimos, aprendemos e nos relacionamos. Ao contrário da visão popular que reduz a psicologia à “conversa no divã”, ou mesmo apontar alguns preconceitos, como “só quem vai para o psicólogo são loucos”, o campo da psicologia é vasto, abrangendo desde a pesquisa experimental até a atuação em hospitais, empresas e escolas.
Sendo assim, podemos perceber que com o avançar do tempo, os preconceitos ligados à saúde mental estão cada vez mais caindo por terra, sendo eliminados a cada nova geração; e isso, em grande medida, é um grande passo para que cada vez mais pessoas busquem conhecer e melhorar a sua relação com o mundo interno que possuímos. Entretanto, apesar da recente conquista social da psicologia enquanto ciência, a sua consolidação já vem de longas décadas. A bem da verdade, no campo científico, a psicologia já é uma área relevante desde o final do século XIX e início do século XX, quando pesquisadores começaram a aplicar métodos experimentais para estudar a mente.

Para entender sua origem, entretanto, é fundamental sabermos suas raízes. A palavra “psicologia” vem do grego psykhē (alma, mente) e logia (estudo). Filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, já refletiam sobre a natureza humana, propondo ideias sobre razão, emoção e ética; e tais assuntos, naturalmente, passavam pela capacidade de conhecer e dominar a psique. Por isso, podemos afirmar que essa área de estudo sempre foi um tema interessante ao ser humano, e que hoje usamos um método científico para investigá-la. A filosofia, portanto, versa em grande parte sobre a capacidade de dominar esses aspectos para poder usar de maneira correta a razão e alcançar a sabedoria.
Logo, a famosa frase “conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”, escrita no pórtico principal do Oráculo de Delfos, é mais do que uma frase de impacto: é um convite a mergulhar nesse mundo interior e reconhecer que, dentro de cada um de nós, há um universo inteiro a ser explorado.
Do ponto de vista histórico, a psicologia enquanto ciência é iniciada em 1879, por Wilhelm Wundt. Wundt fundou o primeiro laboratório de psicologia em Leipzig, Alemanha e a partir daí, diferentes correntes surgiram: desde o behaviorismo e sua busca pelo controle através de estímulos positivos e negativos até a psicanálise de Freud, focada em desenvolver a cura a partir da fala e da consciência desse mundo interno. Apesar de suas diferenças, cada linha de estudo da psicologia visa explicar o funcionamento mental sob um ângulo específico.

Entre tantas representações que a humanidade criou para expressar ideias, um símbolo se destaca nesse campo: a letra grega Psi, representada como uma espécie de tridente (Ψ), marca visual que identifica a psicologia em todo o mundo. Ele não é apenas um sinal gráfico; é também uma síntese de séculos de reflexão sobre a mente e o comportamento. Como a palavra tem origem grega, usar a própria letra para designar o símbolo desta ciência pareceu o mais adequado, mostrando assim uma ligação indelével deste saber não apenas com a civilização grega, mas também com toda e qualquer experiência humana que tenta revelar os segredos de nossa mente.
A busca humana por entender a psique ao longo da história
Visto isso, nos parece interessante investigar um pouco mais a fundo como a humanidade tentou explicar a psique humana ao longo do tempo. Assim, como já falamos, muito antes da psicologia ser reconhecida como ciência, diferentes culturas interpretavam a mente e as emoções através de lentes espirituais e religiosas.
Nas tradições orientais, por exemplo, a compreensão da mente estava ligada à ideia de iluminação e autotransformação. O controle das emoções era visto como o caminho para a libertação do sofrimento, assim como para a compreensão das suas causas. Não por acaso, o hinduísmo, por exemplo, fala do perigo das paixões e de como esse mundo invisível, cheio de desejos e intenções, são perniciosos no caminho para realizar-se enquanto ser no universo. Muitas vezes, devido à nossa ânsia por possuir aquilo que, a rigor, não pertence a nós, somos levados por desejos que nos tiram do Dharma, o nosso caminho de evolução, e acabamos caindo em armadilhas, projetadas a partir das ilusões que a mente e as emoções nos provocam.
Vamos exemplificar: imagine alguém com grande habilidade artística, que, de fato, se realiza ao tocar uma música ou instrumento musical. Apesar de sua grande felicidade ao estar nessa atividade, a vida em sociedade e os preconceitos do tempo em que vive dizem que a arte não é algo importante ou valorizado. Assim, o senso comum e toda pressão social direcionam-no para outro caminho, mais lucrativo. Movido pelo desejo de riqueza, essa pessoa abandona a carreira brilhante que teria como músico e segue um caminho distinto, em uma profissão vista como “bem-sucedida” no meio em que vive.

Percebe como a falta de conhecimento o levou a mudar seu destino? Para os hindus, esse tipo de atitude ocorre devido a uma má compreensão do seu Dharma e ao efeito nocivo dos desejos e das influências externas sobre o indivíduo. Assim, ao buscar conhecer seus pensamentos, emoções e saber discernir o que, de fato, é próprio da sua individualidade e o que não é, seria possível escolher com mais sabedoria, de acordo com sua natureza.
No mundo atual, esse mesmo caso poderia gerar uma pessoa frustrada com seu trabalho, uma vez que não era aquilo que buscava viver profissionalmente. Assim, é possível que essa pessoa viva uma vida sem sentido, vazia de experiências profundas e com poucos momentos de realização. É aí que a psicologia moderna pode atuar em seu benefício, sendo uma forma de encontrar os motores psicológicos que levaram tal pessoa para esse caminho e de fazer com que ela compreenda a experiência, para assim sintetizá-la e poder seguir com sua vida.

Partindo dessa mesma perspectiva, se nos voltarmos para as civilizações ocidentais, podemos perceber que essa mesma perspectiva se atribui a uma questão moral, diferentemente do aspecto de realização individual que vemos no Oriente. Assim, para grande parte da cultura ocidental, principalmente o advento da religião judaico-cristã, começa-se a interpretar os conflitos internos como batalhas entre o bem e o mal, ligando a psique à moralidade e à salvação. Assim, nossos conflitos internos se voltam para o que é “o correto a se fazer, sentir e pensar” e não apenas para o que me realiza.
Um exemplo cotidiano dessa herança é o uso de termos como “alma” ou “espírito” para se referir à vida interior, entendendo que determinados comportamentos ajudam a “salvar” a alma ou a “condená-la”. Assim, a perspectiva psicológica de cada indivíduo está subordinada a uma conduta moral à qual deve estar alinhada.
Dentro dessa perspectiva, muitas patologias no campo psicológico foram mal interpretadas, visto que a enfermidade leva a um desequilíbrio e, nesse contexto, acabou sendo interpretada como uma má conduta por livre e espontânea vontade. Não por acaso, no ocidente se tornou comum achar que pessoas com transtornos psicológicos estavam possuídas por espíritos ou mesmo eram deliberadamente más, logo, não poderiam estar em contato com o meio social. Assim, podemos perceber que apesar de algumas tradições tentarem explicar e conduzir esse mundo interno, próprio de cada ser humano, muitas vezes a má compreensão dos seus motores e as fragilidades nesse aspecto geraram ainda mais dor e sofrimento.
O símbolo da psicologia
Como sabemos, o mundo é traduzido em símbolos. Estes, mais do que imagens ou representações, guardam ideias e fazem com que rapidamente possamos nos conectar a algo ou a alguém. Por exemplo, poderíamos passar horas explicando o quanto o tempo se esvai pelas nossas mãos, como não controlamos os minutos e as horas que possuímos, ou mesmo explicando que, após anos e mais anos, um dia nosso tempo chegará ao fim. Entretanto, ao invés de explicar todas essas ideias, poderíamos apenas colocar uma ampulheta com areia caindo da parte superior para a inferior e assim, de maneira sintética e objetiva, traduzir uma ideia.

Esse é o poder do símbolo: nos fazer entender rapidamente uma ideia ou nos conectar com algo diretamente. Não por acaso, nações investem em seus símbolos, como o hino nacional, a bandeira do país, seus brasões e tudo que gere uma identidade nacional de maneira rápida. Nesse sentido, conhecer o símbolo é fundamental para sintetizar, em poucos termos, o que essa nobre área do saber tem a oferecer ao mundo.
Como já apontamos, esse símbolo é representado pela letra grega psi (Ψ), formada por um tridente estilizado. O psi é a 23ª letra do alfabeto grego e sua escolha está ligada à primeira letra da palavra psykhē em grego antigo. Historicamente, letras gregas já eram usadas para representar conceitos abstratos em matemática, filosofia e ciência. Dessa forma, adotar o psi como símbolo da psicologia foi uma forma de afirmar a conexão da disciplina com a tradição intelectual ocidental.
O psi também é interpretado como um tridente, que alguns associam a ideias mitológicas, como o tridente de Poseidon, símbolo de poder e profundidade. De fato, ao refletirmos sobre essa relação, podemos entender o motivo do tridente estar ligado a letra Psi, uma vez que é Poseidon, o deus dos mares, que impõe provas aos heróis para superarem; e muitas delas, nas turbulentas águas do mar, se assemelham a nossa psique quando se encontra desestabilizada. As tempestades internas que nos provocam medo, ansiedade, angústia e temor lembram, de fato, esse símbolo importante da mitologia grega.

Outra metáfora para relacionarmos a ideia de Poseidon com a letra psi é a da profundeza do mar, que se associa a nossa própria profundeza psicológica. Assim como conhecemos apenas um pouco dos mistérios que habitam os oceanos, onde mais de 90% da constituição ainda é inexplorada, o mesmo podemos afirmar de nossa mente. Quanto potencial possuímos dentro de nós e não sabemos explorar, com medo de nos encontrarmos com nós mesmos? Quanto ainda existe em nós que está inconsciente? Desse modo, assim como Poseidon revela o segredo dos mares, a psicologia nos convida para o mergulho nas profundezas da mente humana.
Frente a isso, entendemos que profissões consolidadas costumam ter símbolos que funcionam como marcas de identidade para que tanto os profissionais como o público-alvo daquela profissão reconheçam o tipo de atividade que será exercida. Como exemplo, podemos citar o bastão de Esculápio para a medicina, representado por duas cobras subindo até o alto do bastão. Símbolo da saúde na Grécia Antiga, a serpente buscando o mais alto ponto do bastão é símbolo da busca por uma melhora, tanto no aspecto físico quanto mental. Assim, em um pequeno símbolo, podemos entender o que um paciente e um médico buscam com aquela prática: restabelecer a saúde do corpo como um todo.

Outro exemplo clássico é a balança do direito, que é o símbolo da justiça por excelência desde o Egito Antigo. Assim, a busca pela justa medida é o que todos os profissionais dessa área devem buscar. Portanto, o psi não é apenas uma marca gráfica: ele é um lembrete constante de que o trabalho vai além da técnica, tocando dimensões profundas da experiência humana. Ao entrar em um consultório e ver o psi na porta, o paciente reconhece que está num espaço dedicado à escuta, à compreensão e ao cuidado. Esse simples sinal pode transmitir segurança e confiança, reforçando a missão do psicólogo como alguém que busca compreender e ajudar.
O papel do psicólogo no mundo contemporâneo
Em um mundo marcado por estresse, ansiedade e sobrecarga emocional, é vital a expansão da psicologia para garantir a saúde mental da população. Diferente do papel de um médico, que atua naquilo que vê, o psicólogo tem a árdua tarefa de adentrar ao mundo invisível dos seus pacientes para poder ajudá-los a conseguir sintetizar experiências. Assim, enquanto um trabalha no aspecto somático e visível, o que, em parte, é mais “fácil” de diagnosticar e tratar, psicólogos precisam de tempo, dedicação e uma grande colaboração dos pacientes para que seu trabalho seja efetivo.

Por essa natural “demora” nos resultados, ainda há, infelizmente, quem pense que fazer terapia seja algo a ser ignorado ou até mesmo ridicularizado. Entretanto, não é por acaso que no mundo em que vivemos, rodeados de tecnologia e informação, estejamos adoecidos psicologicamente. Isso faz com que psicólogos estejam na linha de frente da busca pela saúde da nossa sociedade, oferecendo terapias baseadas em evidências para ajudar indivíduos a enfrentar depressão, transtornos de ansiedade, luto, traumas e outras condições tão paralisantes que nos tornam incapazes de atuar no mundo com uma psique tão desestabilizada.
Assim, atualmente os psicólogos saíram dos seus ambientes naturais e agora são quase uma parte obrigatória de todo e qualquer ambiente de trabalho. No mundo corporativo, por exemplo, psicólogos ajudam empresas a melhorar o clima organizacional, prevenir burnout e promover bem-estar; na educação, trabalham para compreender dificuldades de aprendizagem e desenvolver estratégias que respeitem a individualidade de cada aluno.
Em situações de desastre natural, violência ou tragédias coletivas, psicólogos são convocados para prestar atendimento emergencial à população, pois é fundamental que tais traumas coletivos sejam superados, para o bem dos indivíduos e do próprio funcionamento daquela coletividade. Esse trabalho exige não só conhecimento técnico, mas também resiliência emocional e empatia profunda, pois o psicólogo não pode se contaminar com a doença que aflige seus pacientes. Assim como um médico precisa evitar ser infectado por um vírus, o psicólogo precisa manter sua serenidade e sua psique estável para ajudar os demais, o que recai na necessidade dos próprios profissionais estarem sempre se observando e aprendendo mais sobre si mesmos.

Observando por esse ângulo, podemos notar que não é simples cuidar da saúde mental, seja a nossa ou de algum paciente. Esse é um ato que exige de todos nós lucidez assertiva, capaz de apontar erros e saber lidar com as frustrações e limitações dos momentos em que vivemos. Além disso, é preciso saber manter uma correta manutenção de nossa saúde mental, algo que ainda hoje é difícil de fazer.
Assim como prevenimos doenças físicas com hábitos saudáveis, a psique também precisa de manutenção constante. Atividades como meditação, exercícios físicos, hobbies criativos e até a prática da gratidão são recursos eficazes para manter o equilíbrio emocional. Um exemplo simples: alguém que organiza a rotina para evitar sobrecarga mental está, na prática, fazendo um ato de higiene mental, ou seja, prevenindo possíveis crises emocionais. Do mesmo modo, evitar práticas que machuquem a nossa psique de forma descontrolada – como alimentar rancores, raivas e medos – é uma forma de ir criando pequenas brechas em nossa mente para que tais aspectos se manifestem com constância, podendo gerar crises e descontroles.
Infelizmente, para uma boa parte da população, falar sobre o tema da saúde mental é um tabu. Tais exemplos que apontamos acima são vistos como ações “desnecessárias”, o que prova a nossa ignorância sobre o tema e sua seriedade. Assim, o estigma de que ir para psicólogo é algo de “louco” ou de quem é “fraco” vai se reproduzindo ao longo do tempo. Esse preconceito impede que muitas pessoas busquem ajuda. Romper com esse estigma e com outros, portanto, é um dever coletivo. Conversas abertas sobre saúde mental em escolas, empresas e mídias ajudam a naturalizar o cuidado psicológico, assim como ocorreu com a medicina preventiva.
.Visto todas essas questões, podemos entender o quanto a psicologia é fundamental no mundo atual. Não por acaso, é uma das profissões que mais crescem no mundo; porém, ainda há um longo caminho a ser enfrentado diante dos preconceitos. Essa é uma luta constante, pois o maior dos desafios que o ser humano pode enfrentar é o de autoconhecer-se. Em um mundo em constante mudança, onde o ritmo acelerado ameaça nossa saúde mental, a psicologia se mostra indispensável. Agora, sempre que observarmos a letra psi e seu tridente, não veremos apenas um desenho, mas um convite à reflexão e à busca por melhorar nosso universo interior.
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