Filme “The Wild Robot”: A História de um Robô na Natureza que nos Ensina Sobre Evolução e Pertencimento

Vivemos em um mundo cibernético. A era digital está, pouco a pouco, avançando e dando espaço para a era dos robôs. Podemos não percebê-la ainda, porém, a cada ano novas tecnologias e meios de facilitar nossa vida a partir da robótica passam a fazer parte de nosso dia a dia. Na indústria, essa é uma realidade de décadas, mas agora em nossas casas começamos a ter pequenos ajudantes para limpar, organizar e nos lembrar de nossa agenda.

O que aconteceria, porém, se essas máquinas estivessem na natureza? Como se comportariam sem comandos, sem supervisão, tendo apenas a vida real ao redor? Como ela sobreviveria? O que aprenderiam? Seriam capazes de evoluir, de se adaptar? É evidente que com a nossa tecnologia atual, os robôs não poderiam sobreviver muito tempo, uma vez que dependem de energia elétrica. É nesse momento, porém, que a arte entra e faz a imaginação ganhar asas e nos coloca nesse cenário improvável e, ao mesmo tempo, curioso. 

Capa do filme The Wild Robot
Capa do filme The Wild Robot

Essa é a premissa de “The Wild Robot”, uma animação que surpreende pela delicadeza com que mistura a frieza da tecnologia com a complexidade das emoções humanas e da vida selvagem. Baseado no livro de Peter Brown, o filme nos apresenta a Roz, uma robô de última geração que, após um acidente, vai parar em uma ilha isolada e precisa aprender a viver como parte de um ecossistema natural, algo para o qual nunca foi programada.

Como um robô se comportaria sem a supervisão humana? Será que poderia desenvolver outras habilidades sem ser as para que foram programadas? Em tempos em que discutimos os perigos e avanços da inteligência artificial, “The Wild Robot” nos leva a aprofundar ainda mais tais questões e a pensar sobre o potencial que essa tecnologia ainda pode alcançar. Apesar de ser um filme feito “para crianças”, as reflexões em torno dele são pertinentes aos adultos devido à sua profundidade.

O que aprender com “The Wild Robot”?

À primeira vista, “The Wild Robot” pode parecer uma simples história de sobrevivência com um toque de ficção científica. Entretanto, já avisamos que podemos extrair belas lições sobre o significado do que chamamos de “ser vivo” e como a evolução é uma lei da natureza que atua em diferentes níveis, até mesmo dentro do mundo artificial.

Comecemos pela protagonista. Roz representa aquilo que muitos de nós experimentamos em algum momento da vida: sentir-se deslocado, perdido, diferente dos outros. Quem nunca passou por isso? Seja ao mudar de cidade, começar em um novo emprego, encarar uma nova fase da vida ou até se reconstruir após uma perda, todos nós já fomos “robôs em uma ilha” tentando entender o que fazer, como agir, como se conectar.

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Visto isso, já podemos entender que a jornada de Roz é, antes de tudo, uma jornada humana. Apesar de ser uma máquina, Roz precisa se adaptar ao novo momento que vive e suas leis, e entender como fará para continuar a existir em um contexto que foge, inicialmente, ao seu alcance. Tudo isso precisará acontecer por meio de seu próprio esforço, e não por meio de uma atualização do seu sistema feita por quem a criou, ou seja, precisará aprender a partir das vivências com o mundo e com o outro. Naturalmente, assim como todos nós, a robozinha comete erros, é rejeitada, sente-se inclusive insegura – emoções que não condizem com um robô.

Logo, percebe-se claramente que Roz está desenvolvendo um aspecto que está além da sua programação e ganha novas habilidades. Pouco a pouco, ela constrói uma identidade que vai muito além de sua carcaça metálica, pois é algo interno, o que demonstra um grau de consciência na máquina.

Apesar de sabermos que as máquinas no momento atual não possuem uma autoconsciência independente, ou seja, que respondem ao que estão programadas, será que algum dia não poderá existir algo dessa magnitude? Por enquanto, a ideia presente em Wild Robot é apenas uma ficção, mas que pode ganhar ares de realidade daqui há alguns anos ou décadas.

O desejo de pertencer

O filme ainda nos convida a refletir sobre questões fundamentais como o pertencimento. O desejo de pertencer é demasiadamente humano; porém, não é exclusivo de nossa espécie. Todos os animais que vivem em bando também possuem tal sentimento, desde uma matilha de lobos até um grupo de abelhas, pois todos desejam fazer parte de uma sociedade e pertencer a um grupo. Não por acaso, tais espécies possuem um sistema e hierarquia bem definidos e respeitados.

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Entendendo essa ideia, podemos dizer que o pertencer é uma busca de todo ser vivo, seja ele autoconsciente ou não. Assim, Roz também tenta se integrar nesse novo ambiente e fazer parte da dinâmica que a envolve. E, mais uma vez, isso reflete diretamente em nossa vida cotidiana. Quantas vezes já estivemos em situações totalmente novas e desafiadoras? A todo momento, podemos nos colocar nesse papel, mesmo que, em geral, nosso instinto nos faça preservar nossos “grupos” por justamente nos sentirmos pertencentes a eles. 

Um ponto interessante no filme se dá no processo de adaptação de Roz a sua nova realidade. No começo, a robô chega à ilha como uma intrusa. Porém, com o tempo, ao mostrar intenções genuínas de ajudar, de participar e de cuidar, ela passa a fazer parte da comunidade. Isso se reflete no nosso dia a dia. Em um novo emprego, em uma nova vizinhança, ou até mesmo em grupos sociais, é preciso tempo e disposição para pertencer de verdade. Pertencer não é apenas estar ali fisicamente, mas contribuir, ouvir, respeitar e ser um ponto de fortalecimento do grupo.

Frente a isso, é necessário refletir sobre como o sentimento de pertencimento está diretamente ligado à capacidade de adaptação e evolução de nossas interações sociais. No filme, é nítido o avanço de Roz ao longo dos seus desafios, percebendo a dinâmica daquele ecossistema e sendo capaz de adaptar-se. 

Assim, pertencer está diretamente ligado a perceber as “regras” daquele grupo ou situação e aceitá-las, adaptando-se a essa realidade. Uma pessoa que não aceita a conduta de um grupo não pode pertencer, visto que não concorda com aquela dinâmica; e, em alguns casos, caso tente pertencer, ainda assim poderá destruir aquele meio ao invés de ajudar.

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Nós tendemos a fazer isso em um ambiente natural. Ao invés de nos conectarmos e nos sentirmos pertencentes a essa natureza, acabamos machucando e destruindo o meio ambiente. Essa falta de percepção de que é preciso estar de acordo com a dinâmica natural daquele local faz com que o ser humano, em muitos casos, queira dominar a natureza ao invés de se perceber como partícipe desse meio.

Visto isso, “The Wild Robot” acaba nos lembrando que viver é mais do que funcionar, ou seja, de cumprir papéis: é sentir, conectar, cuidar e pertencer. Quando nos colocamos na vida desta maneira, podemos perceber que não há separação na natureza. Apesar das distintas formas – belas em sua diversidade –, há um mágico e invisível fio que conecta a todos nós. Que sejamos, enfim, um pouco mais como Roz: abertos ao novo, corajosos diante do desconhecido e dispostos a crescer um com o outro.

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