Aprendendo a Viver com Sêneca: Como o Estoicismo Pode Transformar Sua Vida

O livro Aprendendo a Viver com Sêneca resgata ensinamentos estoicos atemporais e mostra como essa filosofia pode transformar nossa forma de viver em um mundo acelerado e ansioso. Ao mesmo tempo, com o ritmo que empregamos em nossas agendas ao ceder a esses impositivos, nossa psique, cada vez mais, sofre duros golpes.

É nesse cenário que a doutrina estoica apareceu como um bote salva-vidas. Redescobrimos nomes como Epíteto e Marco Aurélio, grandes expoentes dessa filosofia moral que ajudou – e ainda ajuda – a lidar com os problemas diários. A bem da verdade, a filosofia estoica tem atravessado os séculos como um farol de sabedoria para aqueles que buscam uma vida com mais plenitude. Seus princípios, porém, não foram bem compreendidos no mundo atual, que limitou a grande “Arte de viver” a uma série de conselhos e frases prontas que muitas vezes beiram a autoajuda e não a filosofia.

Quem foi Sêneca?

Retrato artístico de Sêneca, filósofo romano que escreveu o livro Aprendendo a Viver com Sêneca
Sêneca: um dos maiores nomes do estoicismo romano

Frente a isso, é importante entendermos o que é de fato o estoicismo e, para nos ajudar nessa tarefa, usaremos um dos mais destacados mestres dessa doutrina: Sêneca. Nascido em 4 a.C., Sêneca é filho da nobreza romana, logo, ele teve uma educação esmerada e desempenhou alguns cargos públicos como advogado, senador, chegando a fazer parte do círculo interno do imperador Nero e a ser seu conselheiro nos primeiros anos de governo. Além de sua influência política, Sêneca foi um exímio filósofo, capaz de perceber as angústias de seu tempo e refletir sobre a condição humana em seus mais variados níveis.

Entretanto, sabe-se que os últimos anos de sua vida foram no exílio. Isso se deu por conta do seu aconselhado, o imperador Nero, perdido em sua sede de poder, acreditar em boatos de que o filósofo estaria tramando um golpe de estado. Com medo de perder o trono, Nero mandou Sêneca para o exílio na ilha da Córsega, local onde viveria até o fim de sua vida.

Apesar desse ser um dos momentos de tristeza na vida de qualquer pessoa, ainda mais sob acusações infundadas, Sêneca manteve-se firme em seu propósito e, como um bom estoico, acatou a decisão do imperador sem medo ou contestação, aceitando seu destino. Assim, nos anos que se seguiram, muitos discípulos o visitaram e moraram junto com o filósofo. Sua família, vivendo em Roma, também escrevia para Sêneca com constância e não raramente pedia seus conselhos, visto que o filósofo era o mais recomendado a se falar sobre os dilemas da vida na época.

É nesse contexto em que grande parte da doutrina estoica desenvolvida por Sêneca chega até nós. Suas cartas em resposta às perguntas do seu irmão, filho e amigos são verdadeiras aulas de filosofia. Graças a essas epístolas é que grande parte do pensamento estoico desse filósofo romano se preservou e podemos entender não apenas os problemas comuns vividos pelos romanos daquele tempo, mas também a maneira de pensar e refletir sobre a arte de viver.  

Cartas manuscritas representando os escritos de Sêneca
As cartas de Sêneca: lições eternas sobre a arte de viver

No mundo atual, essas cartas foram compiladas e lançadas sob o título “Aprendendo a Viver”, um livro que versa sobre diferentes temas da vida e as nossas angústias existenciais. Sêneca fala sobre a morte, a guerra, os desejos, o divino e diversos temas que permeiam nossa mente, mas em que muitas vezes não conseguimos nos aprofundar. Por isso, hoje queremos mergulhar um pouco em alguns dos conselhos que esse sábio dava a seus amigos e parentes e aprender um pouco mais sobre todas essas temáticas. Vamos aprender a viver com Sêneca. 

Aprendendo a viver como um estoico

Antes de entrarmos diretamente nos seus ensinamentos, precisamos entender o que de fato é o estoicismo. Em linhas gerais, podemos apontar que o estoicismo é uma escola filosófica que enfatiza a razão, o autocontrole e a aceitação dos acontecimentos que estão fora de nosso controle. Pensando nisso, reflita: quantas vezes queremos resolver uma situação/problema que não está ao nosso alcance? Comumente opinamos sobre a vida alheia e criticamos as ações de outras pessoas, por exemplo, mas sabemos que fazer isso é uma atitude desnecessária, visto que não resolve o problema. Entendendo isso, por que continuamos a fazer tal ação? 

O estoicismo nos ensina, portanto, que não devemos gastar energia com aquilo que não somos capazes de resolver. Assim, de maneira prática, os estoicos nos mostram como a crítica é uma ação desnecessária e que não nos faz avançar na arte de viver, mas que, sim, deixa-nos presos em nossa própria mente. Para Sêneca, viver bem é viver de acordo com a razão e a virtude, evitando se deixar levar por emoções destrutivas como a cólera, a inveja e o medo.

Frente a isso, um dos ensinamentos centrais de “Aprendendo a Viver” é que devemos concentrar nossa energia naquilo que podemos controlar e aceitar com serenidade aquilo que não depende de nós. Um dos nossos grandes males parte disso: sempre queremos colocar nossa energia naquilo que está fora e não no que é interno. Assim, ao invés de protestar, por exemplo, sobre a desigualdade que há no mundo, deveríamos nos perguntar quantas vezes tratamos os outros de maneira desigual. Será que damos o mesmo tratamento para amigos e desafetos? E será que existe, de fato, igualdade? 

Pessoa refletindo diante do espelho com frases estoicas ao redor
O estoicismo ensina a focar no que podemos controlar

A riqueza de “Aprendendo a Viver” está justamente na possibilidade de refletirmos sobre nossa conduta. Muitas pessoas veem o estoicismo como um escudo, uma filosofia que nos torna “duros” perante o mundo e suas adversidades, ou seja, que nos protege e ensina a encarar os problemas. De fato, isso é correto e podemos usar essa doutrina desta maneira. Entretanto, os estoicos não resistiam de forma apática às adversidades da vida, mas usavam sua filosofia como uma arma de construção de si mesmos. Assim, a chama do estoicismo é muito mais voltada para nos fazer evoluir do que apenas resistir e aceitar a vida de maneira passiva.

Insistimos em falar: a filosofia é uma ferramenta de construção, logo, nos exige ação e a capacidade de atuar no mundo. Não devemos apenas repetir palavras e chavões, mas demonstrar com atitudes como colocamos esses ensinamentos em nossas vidas cotidianas. Frente a isso, o estoicismo nos chama para o campo prático da vida e não nos perder em pensamentos complexos e que beiram o devaneio. Assim, se formou essa filosofia moral, que atua diante dos problemas do mundo real.

A importância do tempo em “Aprendendo a Viver”

Outra temática fundamental dentro das cartas de Sêneca é o tempo. O filósofo aponta que o tempo é um dos recursos mais valiosos da nossa vida, afinal, não podemos comprá-lo de volta ou recuperar aquilo que foi perdido. Em diversas epístolas, Sêneca aconselha seus parentes a aprender a lidar com o tempo, a não desperdiçar de forma imprudente os valiosos minutos que possuem, seja pensando naquilo que não podem resolver ou sofrendo por antecipação uma situação que ainda nem se concretizou.

Esse ensinamento é fundamental no mundo moderno. Quantas vezes desperdiçamos nosso tempo, por exemplo, com redes sociais, no qual entramos no “piloto automático” e ficamos rolando nossa tela de forma mecânica? Frente a isso, só podemos concluir que se quisermos viver melhor, precisamos aprender a valorizar o tempo, dedicando-o àquilo que realmente importa: aprender, crescer e cultivar relações significativas.

Isso só pode ser conquistado à medida em que deixamos de lado esse modo automático de viver, algo que se tornou um grande desafio visto a necessidade de “otimizar” nosso tempo quando, na verdade, apenas deixamos de lado nossa presença e passamos a atuar como um robô diante das telas. Existe uma metáfora belíssima em que Sêneca nos faz pensar sobre essa questão. Ele compara a vida a um rio: se não estivermos atentos, seremos arrastados pela corrente e, quando percebemos, o tempo passou. Por isso, é essencial viver conscientemente, aproveitando cada momento de forma plena, percebendo ideias e não apenas fatos, e sempre compreendendo o que está se passando em nosso mundo interno.

Relógio de areia representando a importância do tempo segundo Sêneca
Tempo: o bem mais precioso segundo a filosofia estoica

A atemporalidade dos ensinamentos estoicos

Como podemos perceber, os ensinamentos de Sêneca continuam incrivelmente relevantes nos dias de hoje. Sendo assim, o livro “Aprendendo a Viver” é mais do que uma série de cartas escritas há dois milênios: é um tesouro da filosofia que podemos acessar de maneira objetiva e que possue uma linguagem direta. As palavras de Sêneca são um convite para refletirmos sobre como levamos nossa vida e como podemos transformá-la por meio de uma percepção mais consciente de nossa existência, sem nos deixar levar pelas águas da vida.

Ao adotarmos essa postura diante de nossos dilemas poderemos, sem dúvida, lidar melhor com os desafios, valorizar nosso tempo e buscar uma vida mais significativa. Dito isso, nos parece evidente que filosofia não é apenas uma reflexão teórica, mas uma ferramenta prática para alcançar um estado de maior serenidade e sabedoria. Se queremos realmente aprender a viver, devemos olhar para a filosofia como uma poderosa aliada e para os ensinamentos de Sêneca como uma bela e formidável ferramenta para nossa construção interior.

Comentários

Compartilhe com quem você quer o bem

MENU

Siga nossas redes sociais

Ouças nossa playlist enquanto navega pelo site.

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência, de acordo com a nossa Política de privacidade . Ao continuar navegando, você concorda com o uso de cookies.