Se existe vida ou não após a morte, isso ainda não sabemos. A verdade é que, apesar de muitas teorias, a ciência ainda não conseguiu provar; e as religiões, por sua vez, costumam tratar essa questão no âmbito da fé, dos valores e das crenças pessoais. Todavia, especular sobre o que acontece após a morte é uma dúvida que acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos. Para se ter ideia, seja no oriente ou no ocidente, essa temática sempre foi o eixo central que estruturou as grandes discussões e debates sobre uma vida ética e moral, pois, inevitavelmente, esses debates levaram a humanidade a refletir sobre o sentido da vida e o seu comportamento diante dele; e, a depender das várias visões e respostas a que se chegou sobre esse tema, se foi possível construir normas de condutas de valores éticos que nos norteiam até hoje.
Entretanto, enquanto não há consenso acerca do assunto, a única certeza que temos é que a vida passa rápido demais. Uma vez que, se vista como uma energia ou um tempo a ser exaurido, é uma fonte que não se renova. Assim como não dá para parar o tempo ou estocá-lo, apenas gastamos, logo gastamos a vida. E o pior de tudo isso é que não sabemos quanto tempo nos resta desta energia vital, se são dez anos, um ano ou um dia. Assim, por essas e por todas as outras razões, deveríamos aprender a viver a nossa existência com mais consciência e plenitude, aprendendo com cada coisa que nos acontece porque se temos algum controle sobre essa energia vital, ele está no presente, não no passado ou no futuro.
Sem dúvida, nas últimas décadas tem crescido o interesse sobre a reencarnação, vidas passadas ou o que acontece ao indivíduo quando morre. Psiquiatras, pesquisadores e estudiosos têm se debruçado sobre estudos e experiências de pessoas que alegam que tiveram experiências fora do corpo em situações de estado de coma etc. O cientista, professor e psiquiatra Ian Stevenson da Universidade da Virgínia foi um dos grandes estudiosos na temática das experiências espirituais. Stevenson se dedicou a estudos sobre lembranças que crianças tinham de vidas passadas e chegou a catalogar mais de 2.000 casos de reencarnações.
É interessante que quando pensamos na possibilidade de vidas futuras, duas ideias nos vêm à mente: a primeira é a reencarnação; e a segunda, a ressurreição. Vale lembrar que, segundo as religiões do hinduísmo e do budismo, a doutrina da reencarnação é tida como uma verdade, assim como a ressurreição é para o cristianismo e para o judaísmo. Dessa forma, para essas tradições, ressalvadas as proporções e as abordagens de suas diferentes hipóteses, o que se pode concluir é que existe a “ideia” de que possuímos uma alma para além do nosso corpo e que ela continuará existindo após a morte dele.
Quanto à etimologia, a palavra ressurreição significa “nascer outra vez”. A ideia de ressurreição, geralmente, se apresenta como um anúncio da morte de alguns deuses que posteriormente regressarão à vida para salvar a humanidade, preparando-a para o porvir. O que está como pano de fundo é um conjunto de valores e crenças sobre a possibilidade de um juízo no final de todos os tempos. Acredita-se que os mortos ressuscitarão para receber a sua sentença baseada na conduta que tiveram na sua existência. Ou seja, aqueles que tiveram uma boa conduta, fizeram o bem e tiveram boas práticas morais, poderão viver pela eternidade no paraíso ao lado de Deus; já as pessoas que tiveram uma conduta moral diversa a bondade e a justiça serão conduzidas ao inferno e por lá sofrerão, também, pela eternidade. Vale lembrar que a ressurreição dos mortos é uma doutrina central em várias religiões como o judaísmo, o islamismo e o próprio cristianismo. A própria bíblia, por exemplo, está repleta de histórias de personagens que ressuscitaram, sendo uma das mais importantes a de Jesus.
Já a palavra reencarnação vem do latim e significa, literalmente, “entrar na carne outra vez”, no grego, o termo que mais se aproxima é o “palingenesis” que significa nascer outra vez. O argumento da reencarnação se estrutura a partir da compreensão de que a vida faz parte de uma Consciência Una, uma Inteligência Divina que é onisciente e onipresente, seria mais ou menos o que conhecemos por Deus. Dessa maneira, essa mesma consciência se expressa de múltiplas formas em todos os seres vivos e no ser humano, por exemplo, ela se plasma através das naturezas física, energética, emocional e mental por intermédio da alma.
Para o oriente, essa Inteligência Una, ao se expressar no ser humano, se particulariza dando-lhe vida ou energia vital. Assim, a vida, a alma e a Consciência Divina fazem parte da mesma natureza, ou seja, da mesma origem. Portanto, se a Consciência Divina é eterna, a alma e a energia vital também são eternas. Consequentemente, ainda que o corpo possa esmorecer e ser finito, a alma advém de uma substância que não é da matéria e por isso é imortal e não se acaba com o corpo.
A tradição oriental acredita ainda que todo o universo está evoluindo num processo contínuo e o ser humano passa a cumprir a sua evolução quando reconhece e toma consciência de sua natureza divina; sendo assim, toda a sua existência nada mais é do que uma longa caminhada de aprendizados e superações. Nesse contexto, a reencarnação faz parte do processo evolutivo da alma dentro de um ciclo contínuo de nascimento-morte até que a Lei de causa e efeito da consciência conclua toda a sua evolução.
Diante do que foi apresentado acima a respeito da possibilidade ou não da existência de uma vida após a morte, cabe a nós refletir sobre três pontos. Primeiro, que a vida é algo inerente à morte, ou seja, a origem de uma está atrelada à origem da outra, e por enquanto essa origem ainda é um mistério para todos nós. O segundo ponto é que, o fato dessa origem ainda ser um mistério para todos nós, deve ser um compromisso nosso continuar a busca por essas verdades, pois buscar respostas sobre essas questões tem nos ajudado e a humanidade a encontrar um sentido para sua existência, uma vez que, se por hora nos escapam respostas como a origem da vida ou a vida após a morte, nos sobram motivos para darmos sentido a nossa misteriosa existência. E é nisto que reside o terceiro e último ponto, independente da existência ou não de uma outra vida, o que nos cabe nesta é viver a que temos no aqui e agora. Pelo sim ou pelo não, a dúvida só nos garante esse intervalo de espaço e tempo e deveria ser um compromisso vivermos ele de forma inteira, aproveitando cada experiência ao máximo para aprender, treinar, crescer e superar os desafios que nos acontecem.
Por fim, sejamos nós cientistas, religiosos, herdeiros de uma tradição cultural ocidental ou oriental, vemos que a vida deve ser vivida e se apresenta como uma linda oportunidade para nos conhecermos e conhecermos tudo o que nos rodeia… Tomar consciência de si e do Cosmos nos permite participar da vida não como meros espectadores, mas como criadores de nossa própria existência e por isso não podemos perder a oportunidade de fazer o nosso melhor. Como bem nos lembrou o romano Marco Aurélio, se damos o nosso melhor nesta vida e se tivermos uma outra, certamente, progrediremos para mais um passo evolutivo; mas, caso só nos reste essa existência e dermos o nosso melhor, fizemos tudo o que nos coube, ou seja, honramos a oportunidade que tivemos. Portanto, vivamos e façamos valer cada momento!