Somos fascinados pelos astros. Não por acaso, todas as Civilizações antigas adoravam o Sol e a Lua como Deuses, além disso, enxergavam nas Estrelas verdadeiros Mistérios e enigmas que jamais poderiam alcançar com suas mãos, mas apenas vislumbrar através da razão. Foi desse encanto que surgiu a Astronomia e a Astrologia, por exemplo, que, ao buscar compreender a natureza desses corpos celestes, tentaram revelar também um pouco da nossa própria natureza Humana.
Talvez tenha sido por este encanto que, à noite, o único momento em que as Estrelas estão visíveis no Céu, esteja sempre permeada de Mistérios e Simbolismos nessas Culturas. Ainda hoje, em nossa Cultura Popular, a noite é o momento em que o sobrenatural revela-se ao mundo manifestado. É o momento que os “fantasmas” aparecem, que Homens se tornam lobisomens e outra série de histórias que nos contam quando crianças. Daí, talvez, venha o nosso medo da noite, momento em que o mundo se esconde sob uma grande escuridão e tudo que enxergamos são sombras em meio à Luz da Lua, reflexo do Sol.
Para os Antigos, a noite é um Símbolo desse Mistério profundo. No Antigo Egito, por exemplo, Nut é a abóbada celeste que com seu corpo cria as Estrelas para iluminar nosso Céu durante a escuridão. Na Mitologia Grega, por sua vez, temos a Deusa Nix, a Titã que representa esse momento da natureza. E também temos Selene, a personificação da Lua para os antigos Gregos que, com sua carruagem de cavalos prateados, ilumina o mundo enquanto seu irmão Hélio descansa. Hoje conheceremos um pouco mais do seu Mito e Simbolismos.
Selene é uma Titã na mitologia Grega, ou seja, ela faz parte da segunda geração de Deuses, sendo mais antiga que as próprias Divindades que habitavam o Olimpo. Ela é a personificação da Lua e é representada como uma Bela Mulher de rosto pálido e possuindo uma Lua Crescente em sua cabeça. Filha de Hipérion e Téia, ela tem como irmãos Hélio – o Sol e Eos – a Aurora. Quanto a isso, os Símbolos de Selene trazem aspectos bem semelhantes ao dos seus irmãos.
Assim como Hélio, por exemplo, Selene também possui uma carruagem para movimentar a Lua durante toda a noite, fazendo o movimento do astro no Céu. Enquanto Hélio possui uma carruagem de Fogo, com cavalos dourados a puxá-la, Selene conduz sua carruagem com cavalos prateados, similares ao brilho da Lua. Ao fim da jornada, Hélio, o Deus do Sol, banha-se nas águas do Oceano para descansar, de igual modo, Selene inicia sua jornada após um banho purificador nas mesmas águas que o seu irmão.
As semelhanças desses dois Deuses não ocorrem por acaso e os seus Símbolos mostram de forma nítida a dualidade que existe entre ambos. Para além da dualidade óbvia entre Sol e Lua, há também suas características de Expansão e Luminosidade em contraste com a Quietude e o Mistério. Ainda de acordo com a Mitologia Grega, é da união de Hélio e Selene que nascem as horas que, para os Gregos, também são expressões do Divino.
Outro ponto importante ao estudarmos sobre Selene é a sua relação com Ártemis. Como sabemos, a Deusa da Caça e irmã gêmea de Apolo é também relacionada com a Lua, pelo seu aspecto de Pureza e Mistério. Assim como Apolo é considerado o Sol “invisível” ou o Espírito do Astro-rei, Ártemis simboliza o Espírito da Lua, enquanto Selene é sua projeção material no mundo. Desse modo, as duas Deusas têm Ideias parecidas, porém uma está atrelada à matéria e a outra ao aspecto mais Sutil da Vida.
Porém, um dos aspectos em que Selene se distancia de Ártemis são os seus cultos. Adorada em festivais agrícolas, Selene tinha uma importância fundamental para a Agricultura. As fases da Lua, para os Antigos, representavam micro e macro Ciclos, determinando assim períodos de colheita e semeadura. Ártemis, entretanto, era uma Deusa adorada pelos caçadores, que protegia a Natureza e mantinha as florestas e animais a salvo. Seu culto se relaciona, desse modo, muito mais a uma atividade de caça do que à Agricultura.
Também enxergamos semelhanças entre Selene e seus irmãos quando tratamos de suas relações amorosas. Enquanto Eos, a Aurora, apaixona-se por Titono e deseja que Zeus o torne Imortal, Selene também se apaixona por um mortal, Endimião, e sofre por saber que um dia o seu amado encontrará a morte. E Selene também pede ao Deus dos Deuses para intervir sobre esse destino e tornar seu amante um ser Imortal. Zeus atende ambas as Deusas, porém, não do modo que elas desejavam.
Enquanto Titono foi condenado a nunca morrer, envelhecendo eternamente, Endimião foi colocado em um sono profundo, preservando sua vida e juventude, mas sem poder acordar e apreciar sua amada. O “trágico” destino das irmãs em suas relações amorosas guardam grandes semelhanças, mas nos mostra um Símbolo muito importante: a diferença entre o Divino, que é atemporal, e os mortais, que naturalmente sofrem com o tempo. Enquanto a Lua e a Aurora, respectivamente astro e momento da natureza, conservam sua Imortalidade ao longo das eras, os Seres Humanos estão presos ao tempo e jamais poderão chegar, em nível material, ao Divino.
Refletindo essa Ideia para a nossa vida prática, quantas vezes desejamos ser Eternos? Se nos dias atuais, dedicamos grande parte dos nossos recursos para tratamentos estéticos e buscamos a eterna juventude, estamos revivendo o mesmo dilema de Eos e Selene, tentando eternizar aquilo que, por natureza, não pode durar para sempre. Mas, como podemos alcançar a Eternidade?
Há, neste mundo, poucos elementos que vencem o tempo. As Ideias são um deles. Nossas obras podem ruir, as Civilizações podem chegar em seu apogeu e declínio, mas as Ideias seguem seu rumo em direção ao atemporal. No fim, os grandes personagens históricos deixaram sua marca na terra devido às suas Ideias e, ao apagar das luzes, é somente isso que nos sobra. Pensemos, portanto, quais Ideias estamos deixando como Legado? Será que, em nosso leito de morte, veremos que as sementes que plantamos foram boas ou ruins? Essa, talvez, seja a nossa única maneira de atingir a Eternidade: garantindo que as Ideias, os Valores e as Virtudes que plantamos em nossas vidas finalmente germinem e assim passem a ser as marcas que deixaremos no mundo.