Consciência: um desafio para a Ciência

Você já parou para pensar sobre o que é a Consciência? Quando falamos sobre “vivermos de forma mais consciente”, ou vimos em alguma rede social sobre campanhas de conscientização, será que entendemos realmente o que isso significa? Se nos basearmos em nosso senso comum, dizemos que a consciência nada mais é do que a atenção que colocamos sobre um determinado ponto ou aspecto da vida. Desse modo, quando passamos a prestar atenção em algum problema, por exemplo, dizemos que estamos conscientes dele, não é verdade?

Apesar de ser  uma palavra utilizada de maneira ampla em nosso cotidiano, pouco sabemos sobre o que, de fato, é a nossa consciência. Podemos dizer que o Ser Humano é o único ser vivo que possui autoconsciência, ou seja, a percepção de que é um ser pensante e que um dia deixará de existir. Essa percepção de nós mesmos permite-nos investigar os mistérios da natureza e nos questionar sobre nossos problemas existenciais, ou melhor, aquelas famosas perguntas que todos nós fazemos em algum momento da vida: Quem eu sou? Para onde vou? Os animais, por exemplo, não possuem essa capacidade e por isso não utilizam dessa faculdade racional para perceber o seu entorno, mas sim seus instintos.

Mas o que torna, então, os Seres Humanos possuírem tal capacidade e os animais não? A Ciência busca investigar, cada vez mais profundamente, esse enigma da Consciência, mas talvez nem ela seja capaz de nos dar uma explicação completa sobre esse tema. Isso porque a Ciência como a conhecemos hoje, baseada no método científico e em seus experimentos, encara uma série de desafios para estudar a mente humana. A primeira e mais óbvia delas é o fato de que a Consciência não é um fenômeno observável, logo, não podemos estudá-la de maneira sistemática, através de experimentos e seu comportamento com a introdução de outros elementos. 

Um outro ponto que limita a visão científica acerca da nossa Consciência é a sua composição. Não sabemos de que a Consciência é feita, apesar de entendermos que ela reside em nosso cérebro. Como sabemos, o cérebro é o órgão que comanda todo o nosso organismo através de uma grande rede de comunicação – o sistema nervoso. Composto por trilhões de neurônios, o cérebro é capaz de interpretar o mundo à nossa volta a partir da captação das sensações feita pelos nossos cinco sentidos, além de fazer relações diretas de prazer e dor com tudo que interagimos. Porém, apesar da sua grande capacidade, ainda não está claro como a partir disso se gera a Consciência, pois os animais também possuem um cérebro que também os dá a sensação de prazer e dor, e captação através dos sentidos. Logo, a Consciência precisa ser, necessariamente, um ponto além disso. 

Por causa dessa percepção, ao longo da história, diversos filósofos e sábios buscaram traduzir a Consciência como um elo de ligação com o Divino, ou o mais sutil e atemporal que existe em nós. Desse modo, a Consciência não seria somente uma percepção do mundo, mas principalmente uma maneira de nos conectarmos com o sagrado, tanto internamente como externamente. Ao direcionarmos nossa Consciência para questões que vão além da matéria, ou seja, aquilo que os nossos sentidos percebem, e passarmos a buscar e investigar o mundo “invisível”, também chamado de metafísico, seríamos capazes de entrar nessa dimensão que foge ao tempo e ao espaço. 

Na doutrina Hindu, por exemplo, fala-se do Antahkarana, a linha de conexão entre o espírito e a matéria, aquela que conecta esses dois mundos. Já Platão, filósofo da Grécia Antiga, nos apresenta a teoria das ideias, na qual fala-se de que o mundo visível e mensurável é apenas uma sombra imperfeita do mundo invisível e imensurável, na qual residem os arquétipos. Como acessar tal mundo? Através de uma busca racional da percepção destes. Desse modo, fala-se em diversas culturas sobre a capacidade da Consciência transladar-se entre esses dois planos, mas coloquemos em exemplos para que isso fique mais nítido.

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Pensemos em nós mesmos. Ao longo de um dia, nossa Consciência, que entendemos como essa possessão de nós mesmos, ou seja, a capacidade de saber quem somos, vagueia por diferentes aspectos. Quando sentimos fome, por exemplo, nossa consciência foca em realizar uma refeição para saciar esse instinto. Ao fazê-lo, sentimos prazer e enquanto não o realizamos, sentimos dor. A dor, neste sentido, é definida como qualquer coisa que nos deixe desconfortáveis. Sentir fome, neste caso, é algo que nos deixa mal, pode abalar nossas emoções e humor, logo, entendemos isso como dor. Nesse momento, nossa consciência está focada neste aspecto. Em outro momento do dia, imaginemos que recebemos uma mensagem carinhosa de uma pessoa que amamos. Nossa Consciência, neste momento de ternura, foca nas emoções que aquela mensagem nos faz sentir. Mais adiante, neste mesmo dia, olhamos o pôr do sol, um momento de extrema beleza da natureza e nos sentimos conectados com a Vida, com aquele momento, e nos sentimos inspirados. Nossa Consciência agora transita por esses pensamentos e emoções, mais elevados e sublimes do que qualquer um dos nossos instintos.

Percebemos, portanto, que a Consciência não é estática, pois a todo momento está transitando em diferentes aspectos da nossa vida. A nossa grande dificuldade é, portanto, fixá-la nesses aspectos atemporais, tão bem descritos pelo Hinduísmo e por Platão, pois na maioria esmagadora do tempo, deixamos ela acorrentada aos nossos instintos e problemas cotidianos. Assim, ao invés de nos elevarmos às mais altas ideias, deixamos nossa Consciência rastejar pela terra. 

Mas, ainda assim, ainda nos faltam palavras para explicar cientificamente como esse processo pode ocorrer. A Ciência, portanto, não consegue explicar como fisicamente somos levados a esse estado, mesmo que se entenda que ele pode ocorrer através de estímulos externos (como ver o pôr do sol) ou mesmo por meio de processos internos, como o pensamento sobre tais questões. O que nos parece claro neste dilema sobre a natureza da Consciência, é que ele não é um processo meramente biológico, pois se assim o fosse todos os outros seres da natureza também o teriam. Há, sem dúvidas, um mecanismo que nos faz despertar tais questões, mas por trás dele é provável (para não dizermos certamente) que haja uma causa invisível (primeira), que coloque os seres humanos em contato com esses aspectos mais sutis da vida. 

Infelizmente, é provável que a Ciência atual nunca prove, de fato, como ocorre essa formação da Consciência em nós, uma vez que o método científico apresenta limitações claras quanto a essa questão. Ainda assim, a Consciência é uma realidade humana, experienciada todos os dias pelos mais de 7 bilhões de seres humanos que habitam o nosso planeta. O mais próximo que a Ciência consegue transmitir sobre esse assunto é como o cérebro consegue operacionalizar todos os estímulos e percepções que possuímos, através da sua rede neurológica. Como então, podemos nos aprofundar quanto a essa questão?

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Como dissemos, a Consciência sempre foi um mistério para o Ser Humano. A Filosofia é, ainda hoje, uma eterna buscadora desse enigma e muitos foram os filósofos que se dedicaram ao assunto. Apesar de não possuir o rigor científico, muito menos buscar por comprovações exatas e imutáveis, a Filosofia nos direciona a refletir sobre a finalidade da nossa Consciência. Assim, as respostas que buscamos acerca da natureza da Consciência não estão em dados, estatísticas e experimentos, mas sim na própria experiência humana e sua relação com a vida. Esse valor prático, que é constatado a partir da nossa própria vivência, está para além de qualquer embasamento científico. A nossa percepção de que a Consciência está para além de sinais de neurotransmissores, por exemplo, nos abre portas para investigar o mundo das ideias, como diria Platão, e transladar nossa autopercepção para além dos nossos instintos mais evidentes. 

Observando por esse aspecto, somos capazes de nos assemelhar aos animais e vivermos somente nossos instintos ou ascender até o patamar dos Deuses, como diria o filósofo do século XV, Pico Della Mirandola. O caminho que nos faz transitar por esses dois mundos é a Consciência, que está sempre atenta, mas nem sempre desperta para os nossos propósitos. Dito isso, a Ciência, por mais avançada e investigativa que seja, talvez ainda se limite a buscar na matéria a explicação primeira para a Consciência que orbita também no “invisível”. Neste caso, nenhuma resposta científica será 100% assertiva, muito menos capaz de explicar os diferentes fenômenos que ocorrem na psique humana. No fim, esse caminho entre o “céu” e a “terra” seja ainda mais longo e enigmático do que nossa vã Ciência possa enxergar. 

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