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Contos, Lendas e Mitos: Como diferenciá-los?

Todos nós crescemos ouvindo histórias, das mais fantásticas aventuras até os pequenos causos cotidianos, que fizeram parte da nossa infância e formação social. São através das fábulas e contos de fadas, por exemplo, que aprendemos nossas primeiras lições de moral, incutindo valores e princípios. Em muitos casos, o interesse pela arte da narrativa nos acompanha até os nossos últimos dias. 

Porém, todos nós sabemos que nem todas as histórias são iguais. O mundo da Literatura é um fértil campo em que podemos passar centenas de páginas, apresentando suas variações, porém, há alguns tipos específicos de narrativas que normalmente nos confundem. Estamos falando das Lendas, Contos e Mitos, que, de maneira geral, acreditamos serem iguais, mas se tratam de gêneros literários diferentes. 

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Em linhas gerais, atribuímos a esses gêneros literários uma característica específica: a ficção, ou seja, algo irreal que não representa a realidade tal qual ela é, e, naturalmente, que não se baseia em fatos. A bem da verdade, se realmente observarmos essas três formas de histórias sob o olhar puramente objetivo, no sentido de buscar encontrar algo factível em suas narrativas, provavelmente não o encontraremos. Porém, todas elas cumprem um papel muito mais significativo do que apenas narrar um fato imaginado: elas ajudam na nossa Educação.

Educação vem do latim “educare”, que significa “tirar de dentro” ou “evocar”. Neste sentido, para os antigos, educar não seria colocar informações e decorar fórmulas, mas sim um meio de formar o caráter e tirar de cada um o que naturalmente o indivíduo expressa, sua verdadeira Natureza Humana. Não por acaso, um Educador e Biógrafo Grego radicado em Roma, chamado Plutarco, escreveu que “a educação não é um copo a ser enchido, mas uma vela a ser acesa”. Assim, o papel do Educador seria o de conduzir seus discípulos a reconhecer essa chama (que seria a sua Natureza) e mantê-la viva para iluminar a Vida dos demais.

Para tamanha missão, portanto, eram necessárias ferramentas específicas. Diferentemente dos dias atuais, o conhecimento técnico só poderia ser passado para aqueles que, primeiramente, tivessem um caráter bem formado, pautado em valores e princípios daquela Civilização. Uma vez tendo tais pontos consolidados, o indivíduo poderia começar a aprender um ofício e ser um membro ativo da sociedade. Assim, os Contos, Lendas e Mitos eram fundamentais na formação desses valores, uma vez que estavam repletos de símbolos e valores estimados por esses homens e mulheres da Antiguidade.

Mas, afinal, o que são Lendas, Mitos e Contos?

Vamos por partes. Primeiramente, podemos definir os Contos como a “arte de contar”. No caso Literário, os Contos são ficções que representam uma Ideia geral. Assim, por exemplo, quando lemos um Conto de Fadas, podemos perceber que há uma mensagem que permeia toda a narrativa, e sendo desenvolvida a partir de fatos reais ou não. Para fixarmos tais preceitos, peguemos outro exemplo: a história de Pinóquio, o menino de madeira que quando mentia seu nariz crescia. A sua saga para se tornar um menino de “carne e osso” passa por diversas etapas, mas a lição central da narrativa reside no fato de como a mentira não pode ser escondida, bem como nos afasta do Ideal de Ser Humano.

Para uma pessoa adulta e que pouco se interesse pelos símbolos nos Contos, essa pode ser uma história “boba”, até desinteressante. Entretanto, não podemos ignorar o seu valor na formação das crianças. Faz-se necessário lembrar que o universo infantil não se baseia no Mundo concreto, tal qual um adulto. Nele, o lúdico e o fantástico são leis, e comunicar valores fundamentais como a Verdade, a Bondade e a Justiça, por exemplo, só podem ser feitos através desse tipo de linguagem. Assim, os Contos cumprem um papel importante na formação dos valores ainda na fase infantil e, gostemos ou não, são narrativas que não podemos abrir mão quando estamos educando uma criança.

Por outro lado, a Lenda já compõe um aspecto distinto dos Contos. Há diversos tipos de Lendas, porém, todas, em maior ou menor grau, remontam a uma Tradição de cada Sociedade. Se pensarmos nas nossas Lendas Brasileiras, perceberemos com facilidade sua ligação com o Folclore e a Cultura Popular. Nelas, personagens como o Saci, a Cuca e tantos outros ganham Vida e criam uma ligação estreita entre o local e os indivíduos. Assim, é possível afirmar que as Lendas constroem uma conexão com a Tradição e história local, remontando um passado místico e que, até certo ponto, ainda vive no cotidiano dessas pessoas.

As Lendas são fundamentais na formação da identidade de uma região. Sentir-se parte e herdeiro desse legado, seja pelo fato de transmitir tais narrativas ou de se integrar àquela crença, constrói um senso de coletividade entre os indivíduos. Assim, mesmo partindo de uma ficção, a Lenda pode indicar a origem e o sentimento de pertencimento de um grupo. Nos tempos modernos, em que a força das Tradições locais está sendo substituída por uma Cultura de massa, as Lendas ganham cada vez menos importância. Já não nos reunimos em volta de uma fogueira e falamos sobre essas histórias, muito menos nos interessamos em escutá-las dos mais velhos e, infelizmente, parece-nos que a Lenda ficou somente nos livros de história, como um passado que não volta mais.

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Visto isso, o que seria um Mito? Em grande parte, o Mito guarda algumas semelhanças com a Lenda, uma vez que alguns deles remetem à origem de um lugar ou mesmo de uma Civilização. Porém, as narrativas míticas guardam, em si, um sentido ainda mais profundo que a Lenda e o Conto, pois buscam, através de uma linguagem simbólica, responder às perguntas mais íntimas do Ser Humano. Nos Mitos, encontramos, de modo geral, explicações de como surgiu a Vida e o cosmos, a origem do Ser Humano e uma série de relações do Universo para com a Humanidade. Tais aspectos naturalmente, permeiam o campo Religioso e Filosófico.

Por causa disso, o valor dos Mitos na Educação é essencial. Os Gregos foram exemplares nesse quesito, uma vez que usavam os Mitos, não apenas como uma bússola moral, para respeitar os Deuses e a Natureza, mas principalmente como meio de responder às perguntas existenciais: de onde viemos? Para onde vamos? Qual a finalidade da Vida? Podemos encontrar essas respostas dentro de cada Mitologia.

Para além desse aspecto formativo, vale ressaltar que toda Civilização cria seus Mitos, ou seja, Ideias que representam aquele povo que, por sua vez, buscam vivê-las. Um ótimo exemplo de como os Mitos impulsionam uma Civilização é o Antigo Egito e o Mito de Maat, a deusa da Justiça, da Ordem e da Verdade para os Egípcios. Desse modo, todo cidadão, principalmente o Faraó, era responsável por manter essas qualidades em todo o Império. O Mito, portanto, servia como inspiração para guiar a Vida desses homens e mulheres, dando-lhes um caminho a seguir, um sentido e uma direção.

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Portanto, podemos perceber que esses gêneros Literários são muito mais do que maneiras de narrar uma história. Seu papel dentro da formação Humana é de suma importância para construir, em cada um de nós, valores e princípios que resistam às intempéries da Vida. Além de nos ajudar em nossa formação, podemos aprender um pouco mais sobre o Universo a partir dos seus símbolos. Mesmo que não sejam histórias factíveis, suas Ideias se apresentam como um modelo de explicação do Mundo e do que devemos fazer enquanto Seres Humanos.

Por fim, podemos refletir sobre como essas histórias vencem a barreira do tempo e atravessam as Eras da Humanidade. Talvez esse seja um indício do quão valorosos são os símbolos e pensamentos que tais narrativas carregam, ao contrário do que o senso comum atual prega. Assim, o fato delas conterem alguma Verdade objetiva ou não pouco importa, pois seus valores continuam reverberando na alma da Humanidade, como estrelas que nos guiam nas horas mais sombrias. Visto tudo isso, não sejamos nós a desvalorizar as pérolas que tantas Culturas Humanas fabricaram, resultado de uma profunda investigação Filosófica acerca dos mistérios que nos rondam.  

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