O filme “Boundin”, em português conhecido como “Pular”, é um curta-metragem lançado no início dos anos 2000 e produzido pela Pixar Animation Studios americano. A animação foi escrita, narrada e animada por Bud Luckey e teve a co-direção de Roger Gould. Essa produção traz consigo importantes temas sociais para serem trabalhados junto com o público infantil. Entretanto, é uma animação que pode ser assistida por todas as idades que, certamente, ajudará e proporcionará uma boa reflexão sobre a importância de ressignificar, com um novo olhar, as dificuldades que nos acometem no dia a dia.
O objetivo da animação é trabalhar com as crianças temas como a superação de dificuldades e a ressignificação de momentos difíceis da vida. A narração do curta gira em torno de um simpático carneiro que possui uma linda e longa lã da qual se orgulha muito em ter. A alegria de possuir uma pelagem tão brilhante e branca o motiva a sapatear longas horas por dia naquela planície. Sua alegria acaba por contagiar todos os seres que vivem por ali.
Porém, em um certo dia de primavera, toda a lã é retirada do seu corpo e o carneirinho perde não só o seu orgulho, mas a alegria e todo o seu sapateado, passando a viver triste e cabisbaixo naquela memorável planície. Mas, eis que num determinado dia, passa por lá um grande sábio “Lebríope”, uma espécie de coelho com chifres, que ao perceber aquela tristeza do carneiro procura entender a situação e se prontifica em o ajudar.
Ao ouvir atentamente as queixas do carneiro, o Lebríope tomou a palavra e disse ao carneirinho que, uma vez que tenha perdido o seu lustroso “casaco”, não deveria ficar triste tendo em vista que o mais importante seria a sua essência e não a sua aparência. Assim, a chave para recuperar a sua alegria de viver estava no interior e não fora de si. Por fim, explica ao carneirinho que se sapatear é bom com o peso da lã, pular é melhor ainda sem a pele.
O vídeo é uma graciosidade do início ao fim e, apesar de trabalhar a temática da capacidade de superar adversidades, “coisa de gente grande”, consegue mostrar às crianças a importância de vermos tudo o que nos acontece como uma chance para aprendermos algo novo. Quanto mais cedo pudermos aprender e acolher os desafios que a vida nos trouxer menos energia vamos gastar com as situações desnecessárias.
Há várias lições que podemos aprender com este curta. Uma delas é que há várias formas de lidar com as dificuldades que a vida nos traz, mas para além de aprender a lidar com as dificuldades, devemos perceber o quanto podemos retirar ensinamentos com os momentos mais difíceis da nossa vida. Dificuldades na vida sempre existirão, mas nunca durarão eternamente porque assim como tudo o que há na natureza, a vida é cíclica e repleta de altos e baixos. Se compreendermos isso, podemos aproveitar cada momento e nos fortalecermos para dar o passo a seguir. Há que se aprender a gostar das tensões e crescer com e apesar delas.
Mas só se consegue tal proeza se tivermos muita identidade e convicções próprias. Isso só acontece quando experienciamos algo e através da prática produzimos a nossa síntese. Durante a narração, a ovelha saltitante era totalmente dependente da opinião alheia e como também padecia do orgulho e da vaidade, precisou superar essas duas limitações para ampliar a sua consciência da vida. Se lembrarmos, a animação inicia-se com a ovelhinha totalmente enamorada por sua pelagem. Mas, ao perdê-la, percebeu o quanto era frágil e dependente daquela imagem para conduzir o seu estado de ânimo. E, no fundo, no fundo, quantos de nós não estamos como essa ovelhinha colocando o centro de nossas vidas em elementos externos como num objeto, numa pessoa, numa determinada profissão ou condição? Mas quando, assim como com a ovelha, a vida nos toma algum desses elementos ficamos sem chão e perdemos totalmente a nossa alegria de viver.
A lição que fica é que quanto menos colocarmos o nosso sentido de vida em coisas que não dependem da gente, mais liberdade e autonomia teremos para viver. Aqui, vale recorrer a uma máxima de um filósofo estóico que viveu em Roma chamado Epíteto: ele dizia que a nossa verdadeira felicidade só é possível se for conquistada através das coisas que dependem de nós como, por exemplo, a prática da Justiça, da Bondade, da Cortesia, do Acolhimento ao próximo etc. Entretanto, todas as vezes que colocamos nossa felicidade ou sentido de vida em coisas que não dependem de nós, ficamos sujeitos e dependentes das circunstâncias externas e isso nos fragiliza e nos traz estados de dor e sofrimento. Esse também foi o ensinamento que o “Lebríope” ensinou para a ovelha.
Por fim, é muito importante observarmos a Vida: analisarmos o momento que estamos vivendo, quais as perguntas que ela nos faz e quais as respostas necessárias precisam ser dadas. No curta-metragem, a ovelhinha precisou aprender a pular porque sapatear já não era mais necessário. Compreender esse fato a ajudou a ressignificar aquele momento doloroso pelo qual passava.
Embora seja difícil reconhecermos isso quando estamos no momento difícil, há sempre um lado bom em tudo o que nos acontece, portanto, diante de uma adversidade, procuremos enxergar os pontos positivos da situação e continuemos de pé, firmes, com os olhos fixos no horizonte, pois não vai tardar para atravessarmos e conquistarmos mais uma vitória.