Aprendendo sobre a Vida com a Deusa Bastet

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Toda sociedade tem seus mitos. Nas culturas antigas, associavam-se os mitos a ideias que guardavam sentido com a Vida Humana. Em linhas gerais, os mitos explicavam, de maneira simbólica, uma visão do mundo para os antigos. Entretanto, com o tempo perdemos a condição de compreender essa linguagem simbólica e passamos a interpretar tudo “ao pé da letra”. Esse fato nos fez acreditar que todas as mitologias, das mais distintas civilizações humanas, não passavam de histórias inventadas por pessoas que não sabiam explicar como a natureza funcionava. 

Entretanto, basta investigarmos um pouco sobre esses povos ditos “antigos” que perceberemos o contrário: a Sabedoria e a Compreensão do funcionamento da Natureza desses povos era imensa. Exemplos desse fato temos muitos: o alinhamento e construção das pirâmides com o cinturão de Órion; a precisão dos calendários das culturas pré-colombianas; a filosofia e matemática gregas. Isso nos faz repensar a relação dessas culturas com a mitologia, pois não faria sentido que essas histórias fossem levadas ao pé da letra. Visto isso, hoje iremos conhecer uma Deusa essencial dentro da mitologia egípcia: a Deusa Bastet. 

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Não é novidade que a religião do Antigo Egito era politeísta, ou seja, cultuava diversas Divindades. Cada Deus assumia um aspecto da Natureza, com seus atributos e templos próprios. No caso de Bastet, que em geral representava a fertilidade, a saúde e os lares, se verifica que os egípcios cultivavam-na desde o Império Antigo, em torno de 3200 a.C. Ela era considerada uma Deusa Solar, uma vez que era filha do Deus Rá, mas com o passar dos milênios seus atributos sofreram algumas variações, embora, como veremos ao longo do texto, sua essência manteve-se.

A principal representação de Bastet é a de uma Deusa com corpo de mulher e cabeça de gato. É interessante refletir sobre a forma da Deusa porque, nos dias atuais, achamos que os gatos não são, em geral, animais que gostam do espaço doméstico. O senso comum, a bem da verdade, nos diz que gatos são “interesseiros” e que não criam laços reais com os Seres Humanos, porém, não é o que apontam as evidências.

Na cultura egípcia a domesticação dos gatos era algo comum. Ao contrário da sociedade atual, o gato para os antigos egípcios era responsável pela purificação dos ambientes domésticos, assim como um protetor da casa. Tais aspectos fizeram os egípcios criarem uma verdadeira devoção a esse animal e por isso Bastet é representada com a cabeça do felino. Outras representações da Deusa, entretanto, a mostram como um gato preto com brincos dourados.

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Porém, alguns historiadores defendem a ideia de que o culto a Bastet nasceu a partir de uma outra Deusa: Sekhmet. Sekhmet é a Deusa-Leoa, feroz e caçadora dos que ousam ir contra a ordem de Maat, a Deusa da Justiça. Ela é responsável por proteger a Ordem Divina. Por esse caráter agressivo e protetor da Ordem, as duas Deusas guardam muitas semelhanças. Ademais, Bastet aparece em algumas fontes egípcias lutando ao lado do Faraó em algumas batalhas. Logo, ela garantia a proteção e saúde do governante nos momentos de guerra.

Essa dualidade, e em certos momentos confusão, entre Sekhmet, a leoa, e Bastet, a gata, guarda um simbolismo muito interessante e que vale refletirmos. Primeiramente, Bastet, como já citamos, era a Deusa da Fertilidade e, por extensão, era muito cultuada pelas mulheres no papel de mães. Tal qual muitas sociedades antigas, o papel da mulher estava, na maior parte das vezes, ligado à educação dos filhos e a gerência das casas, isso explica a forte relação de Bastet como uma Deusa protetora do lar. 

Porém, a “outra face” da Deusa-Gato é justamente a Leoa, que protege a Ordem e as Leis. Se pensarmos no papel de uma mãe e a maneira como ela protege seus filhos certamente entenderemos que, para os egípcios, o papel de Sekhmet ao defender a Ordem era similar ao de uma mãe que busca defender sua prole.

Seguindo essa ideia, podemos refletir sobre a necessidade de proteção e como ela é fundamental ainda hoje para nós. Sabemos que, a grosso modo, o que nos faz sentir essa necessidade é o instinto de sobrevivência que, direta ou indiretamente, está sempre buscando nos preservar. Essa proteção física, como o cuidado com a saúde, por exemplo, é importante e é a mais fácil de percebermos enquanto símbolo. Porém, há outro tipo de proteção: a das ideias. Enquanto Bastet estaria ligada mais a proteção física e vital do Ser Humano, Sekhmet atuaria em uma proteção mais sutil, que seria na garantia dos Princípios e da Vida Moral dos egípcios. 

Trazendo para a nossa vida, podemos pensar quantas vezes no dia nos preocupamos com a preservação do nosso corpo. Tomamos medidas para não ficarmos doentes, nem exaustos, e isso é algo prudente e válido. Entretanto, será que temos a mesma dedicação em preservar nossos Princípios e Ideias? É possível que, em alguns contextos, busquemos preservar nossa vida física em detrimento de uma vida moral, agindo de maneira desrespeitosa para com os nossos Valores. Logo, cabe a nós enxergar que aspecto de nossa vida estamos buscando proteger e se podemos arcar com as consequências de não preservá-lo. 

Para além desses aspectos morais, há vários indícios de que a influência da Deusa Bastet não se limitava apenas à simbologia. Em seus templos, por exemplo, foram encontrados dezenas de gatos mumificados, como sinal de respeito ao animal e homenagem à Deusa. Vale lembrar que a mumificação era um rito funerário destinado a ajudar os Seres Humanos em sua passagem para o outro mundo, portanto, o fato de encontrarmos gatos nessa condição é um forte indício da veneração que os egípcios tinham para com esses animais. Outro episódio que demonstra a força da Deusa e a adoração pelos gatos está na batalha de Pelúsio, que fora travada entre o Império Persa e os egípcios no ano de 525 a.C.

Segundo os relatos, os persas tentaram conquistar o Egito e nessa batalha os guerreiros persas amarraram gatos na frente de suas armaduras. Esse fato abalou de tal forma os combatentes egípcios que estes não conseguiram defender-se como de costume, uma vez que tentavam ao máximo não ferir os animais. Além disso, diversos gatos foram arremessados para dentro da cidade com o uso de catapultas, o que fez o exército egípcio se render frente ao massacre que ocorria. O Egito acabou sendo dominado pelo Império Persa que soube usar, estrategicamente, essa característica cultural a seu favor.

Ao olharmos para esses dois fatos isoladamente poderíamos pensar muitas coisas: que os egípcios eram supersticiosos, ingênuos e, em alguns casos, ignorantes. Porém, apesar de acharmos algo absurdo para a nossa mentalidade, se faz fundamental perceber como esses fatos atestam somente a favor da importância de Bastet para a cultura egípcia. Não por acaso, os gregos, que também dispunham de uma linguagem simbólica avançada, entenderam tão bem os símbolos desta Deusa que a associaram à Deusa Ártemis, protetora das florestas e caçadora dos Humanos que desrespeitam seu território.

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Essas relações, por fim, nos mostram que a mitologia está muito além de simples histórias. Elas guardam chaves fundamentais para entendermos como aqueles homens e mulheres do passado enxergavam o mundo e relacionavam esses símbolos com a própria vida. Sabemos que hoje em dia vivemos em um modelo social completamente diferente, porém, a Essência Humana continua a mesma: vivemos conflitos psicológicos e morais muito similares aos dos gregos, romanos, hindus e egípcios. Por isso, entendermos profundamente algum mito pode, em grande medida, nos ajudar a compreender problemas que vivemos no mundo atual. Para isso, devemos começar aprendendo essa linguagem simbólica. Comecemos então pelos mitos, que talvez sejam mais fáceis, e, a medida que aprendermos a decifrar esses códigos, seremos capazes de enxergar os símbolos que a Vida nos revela todos os dias.

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