Shakespeare, o teatro como metáfora da vida

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Tantas são as obras e os diálogos que podemos citar de cor quando nos referimos a Shakespeare. Romeu admirando Julieta na sacada, ser ou não ser proferido por Hamlet, Otelo, e tantas outras obras saltam na nossa imaginação. Embora nem sempre compreendamos o Valor Humano que elas carregam, é certo que todos nós em algum momento da vida tivemos contato com suas histórias. Mas se nos debruçarmos sobre sua obra com um olhar mais profundo, perceberemos porque Shakespeare superou a prova do tempo, chegando até os momentos atuais. As peças teatrais deste grande dramaturgo renascentista, reconhecido ainda em vida e influente até hoje, são como espelhos onde enxergamos toda a Jornada Humana na busca por si mesmo.

Para embarcarmos nesta jornada acerca do dramaturgo inglês precisamos entender o seu contexto. Shakespeare era um homem renascentista que viveu no séc XVI e XVII, portanto, buscava resgatar os valores da cultura greco-romana. Visto isso, sua inspiração estava em entender as respostas que estas tradições encontravam para a Vida e para a Natureza Humana, representando por fim, estas ideias atemporais no pano de fundo do seu tempo.

William Shakespeare nasceu em Stratford-upon-Avon, no ano de 1564 e ali mesmo cresceu e alcançou fama, ainda em vida, como um grande dramaturgo e poeta. O bardo, como era apelidado, escreveu inúmeras peças e sonetos, muitas vezes trazendo um aprofundamento de histórias que já circulavam no imaginário popular da época.

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Globe Theater, teatro construído em 1599, do qual Shakespeare era sócio e onde apresentou várias  peças de sua autoria.

As peças de Shakespeare, em síntese, são como espelhos onde devemos nos ver refletidos, seja através de personagens caricatos e engraçados que nos fazem rir de nós mesmos, seja através de dramas retratando bem o cotidiano e nos ajudando a lidar com os nossos próprios problemas. Até mesmo nos personagens com grandes falhas morais acabamos por nos enxergar, o que nos ensina a importância de sermos éticos. Essa última característica das obras shakespearianas, inclusive, é inspirada no teatro grego, uma vez que estes eram pedagógicos, propondo sempre uma transformação humana em prol do melhor em si mesmo.

Abaixo vamos fazer uma síntese de algumas de suas obras por um olhar filosófico, para entendermos como Shakespeare pode nos ensinar a viver. Para quem já leu as peças, no nosso portal, temos este outro texto Shakespeare para Todos os Gostos, onde listamos algumas obras cinematográficas adaptadas das peças deste grande poeta e dramaturgo, vale à pena conferir também.

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Romeu e Julieta,1884, tela de Frank Dicksee

Romeu e Julieta
Uma de suas obras mais conhecidas vai além de uma história de amor entre dois jovens de famílias rivais. “Romeu e Julieta” é uma tragédia sobre dois jovens que se apaixonam à primeira vista e cujas mortes acabam unindo suas famílias, antes rivais, os Montéquio e os Capuletos.
No contexto de Verona, na Itália, Shakespeare nos mostra como é arrebatador o  encontro de todos nós, simbolizado por Romeu – o peregrino, aquele que vai a Roma, – com a nossa Alma, Julieta – a pequena Júlia, nos remetendo a Júlio aquele que é consagrado ao Deus romano Júpiter.

Romeu se une com sua Alma, ele e Julieta se casam, mas por uma falha moral, a impulsividade, acaba tomando atitudes que culminam na morte de ambos. Entretanto, como é próprio do gênero tragédia, depois da transcendência desta fase da vida, aqui ocorrendo através da morte, as famílias antes rivais superam as divergências e harmonizam o convívio.

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Hamlet, tela de Pedro Américo

Hamlet

A peça conta a história do Príncipe Hamlet, herdeiro legítimo do reino da Dinamarca, e sua tentativa de vingar a morte do Rei Hamlet, seu pai, que fora assassinado pelo irmão Cláudio com o intuito de tomar o trono.

Novamente a sinopse não dá conta de nos dizer a imensa profundidade e relevância desta obra de Shakespeare. Aqui o dramaturgo nos mostra a importância de não hesitarmos, não procrastinarmos, não colocarmos em dúvida uma decisão necessária que tomamos diante de uma encruzilhada da vida por medo das consequências, por medo de crescer, por medo de ter que abrir mão de algumas coisas que já não fazem mais sentido.

Hamlet tentando retomar o trono que é seu por direito, nos lembra o épico hindu Bhagavad Gita onde Arjuna, príncipe pandava, luta contra seus parentes corruptos, pelo trono de Hastinapura. Nos mitos gregos, lembramos de Jasão e os argonautas na luta pela retomada do seu trono, de Ulisses também voltando para Ítaca depois da guerra de Tróia e precisando lutar contra os usurpadores do seu reinado, na Odisséia. A ideia profunda por trás destas histórias nos mostra o quanto o Ser Humano precisa muitas vezes lutar para ser rei de si mesmo, conquistar a si mesmo e retomar este trono, este lugar elevado de Sabedoria e Identidade, todas as vezes que a vida o coloca uma adversidade e titubeamos, duvidamos de quem somos.

A indecisão é a falha trágica de Hamlet. Sabendo da importância do ato que ele precisava tomar para tornar-se rei da Dinamarca, trono herdado do seu pai, ele acaba duvidando, hesitando e toda a tragédia que se segue será consequência disso.

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Otelo, o mouro de Veneza

Otelo é um mouro que chega a Veneza depois de inúmeras conquistas em terras estrangeiras, apaixona-se por Desdêmona, uma mulher bela e virtuosa, e tem seu amor correspondido. Porém, sofre com a inveja, ciúmes e tramoias de pessoas que fingem ser suas amigas. Acaba por desconfiar da fidelidade de sua amada e, cego por emoções descontroladas, mata-a. A tragédia segue nos mostrando as vítimas desta postura irracional dos personagens.

O trágico em Otelo é quando percebemos que um homem tão cheio de Virtudes e conquistas, ainda assim desconfia de si mesmo, é inseguro, e esta insegurança é sua falha moral, de tal maneira que ela é uma brecha para todos os males entrarem em sua vida.  Através de Otelo, Shakespeare nos mostra a importância de sermos nós mesmos. Quando um Ser Humano não sabe seu valor, mas espera que os outros o valorizem, que os outros lhe validem, a vida perde aquele elemento singular que contribui para a Harmonia de tudo.

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Uma cena de peça sobre a vida e obra de Shakespeare

Por fim, o teatro como metáfora da vida nos ensina o quanto precisamos ser protagonistas da nossa história. Seja nos erros ou nos acertos, somos sempre responsáveis por aquilo que está no palco principal e pelo que está nos bastidores. Quantos papéis nos cabe viver durante a vida? De filhos, de pais, de advogados, de serventes, de justos, de injustos, de bondosos, de manipuladores. Para além disso, como Seres Humanos devemos escolher com Sabedoria quais papéis de fato são apropriados para nós, de acordo com nossos Valores.

Quando Shakespeare, em sua genialidade artística e visionária na busca por Ideais Humanos, nos faz experienciar em suas obras as comédias e tragédias dos seus personagens, nos ensina, cravando na nossa Alma, todas as consequências de não buscarmos a todo momento sermos melhores, de não corrigirmos nossas falhas, de projetarmos nos outros as nossas debilidades, de hesitarmos diante do que é importante ser feito. O dramaturgo inglês é mestre em mostrar com Beleza as adversidades que todos nós encontramos nesta Jornada Humana.

Em síntese, trouxemos neste singelo texto algumas de suas obras como uma espécie de convite para nos debruçarmos ainda mais sobre as lições que Shakespeare proporcionou ao mundo. Se buscarmos nos aprofundar e refletir sobre o que Shakespeare nos mostra da Alma Humana, através dos enredos, dos personagens e dos desfechos, poderemos sair de suas peças mais vivos do que antes, pois compreenderemos um pouco mais do Mistério escondido no Ser Humano. 

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