Diz um velho ditado que a única coisa permanente na vida é a mudança. Em resumo, isso significa dizer que mesmo que busquemos conservar alguns hábitos, prazeres e condições, elas irão, uma hora ou outra, mudar. Pensando nisso, uma das maiores mudanças na vida de qualquer pessoa é sair de casa. Seja para morar sozinho, ou com amigos ou mesmo para formar uma nova família, a saída da casa dos pais marca, definitivamente, o último passo na transição do jovem para o adulto. Essa transição pode, muitas vezes, acontecer contra nossa vontade e requer determinação, pois estamos diante de uma realidade que era, até então, desconhecida.
O curta-metragem “Leaving Home” (saindo de casa, em português) que indicamos para a apreciação e reflexão por parte dos nossos amigos leitores, não se trata exatamente de sair de casa, como sugere o seu título, mas sim, de deixarmos a nossa famosa “zona de conforto.” Produzido pela Il luster, uma empresa holandesa que desenvolve curtas-metragens, e animado por Joost Lieuwna, o pequeno vídeo mostra como é muito comum adiarmos decisões importantes em nossas vidas, até que seja inevitável tomarmos aquela atitude que nos faz “tremer de medo.”
É muito mais simples e confortável poder delegar as nossas responsabilidades para terceiros, que por amor e por não querer nos ver sofrer acabam realizando nossos deveres. Desse modo, de maneira indireta eles acabam contribuindo para que nos tornemos dependentes de seus cuidados, e infelizmente cada vez mais fracos e incapazes de conquistar autonomia e liberdade. Essa dependência, física e mesmo psicológica, é perigosa para ambas as partes: de um lado temos os filhos, por exemplo, que se acostumam a ter “tudo na mão” e não aprendem a cuidar de si mesmos e a sobreviverem sozinhos; por outro, temos os pais que não os preparam para a Vida, desejando que eles nunca saiam de casa e vivam suas próprias trajetórias. Desse modo, todos os envolvidos acabam sofrendo, uma vez que, inevitavelmente, o momento da despedida virá e, naturalmente, os filhos precisarão sair de casa.
O fato é que não existe aprendizado sem tentativa e erro. Errar não é um demérito quando se está tentando aprender, ao contrário, é natural e saudável lidar com algumas falhas no processo de aprendizagem. De igual maneira, os ensinamentos que recebemos dos nossos pais, mestres, amigos, etc, só poderão nos ajudar a crescer se tivermos a oportunidade de colocá-los em prática.
A natureza nos apresenta um caso bastante interessante sobre “deixar o ninho” e aprender a voar. Imagine que você está observando um ninho de águias e uma mamãe águia quer incentivar seu filhote a se lançar no seu primeiro vôo, em um ninho a dezenas de metros de altura. Ela o segura com suas garras e voa o mais alto possível com ele preso. Numa certa altura, ela o solta e deixa-o cair em direção ao solo. Chegamos a sentir calafrios achando que o pobre filhote não irá resistir à tamanha queda, porém ele faz a única coisa que poderia fazer naquele momento: ele voa. Não é, certamente, o voo mais bonito e estável do mundo, mas no final ele sempre voa.
Da mesma forma, para sairmos de nossa zona de conforto precisaremos enfrentar os nossos medos. É fundamental encará-los de frente se quisermos de fato superá-los. A vida, em todos os momentos, está nos colocando à prova, com obstáculos aparentemente intransponíveis, que sempre estarão surgindo em nossa caminhada. Um desses obstáculos, provavelmente o maior e mais assustador, é o desconhecido. Não saber o que vem a seguir, o que nossas ações irão resultar é, definitivamente, uma trava mental que nos apavora e paralisa. O desconhecido é, por fim, o nosso maior temor.
A possibilidade de errar, fracassar, decepcionar a nós mesmos e a quem amamos nos paralisa diante das nossas missões, mas a incerteza do resultado de uma ação para nós é o que nos amedronta. Portanto, não nos resta alternativa, a não ser aproveitar todas as oportunidades que a vida nos oferece para aprender, crescer e evoluir. Ela não vai desistir de tentar nos ensinar porque sabe que somos capazes. Assim como o nosso amiguinho, o filhote da poderosa águia, lancemo-nos também ao nosso voo solo. Os prováveis tombos que tomaremos serão apenas lições inevitáveis que nos forjarão a sermos a melhor versão de nós mesmos.