Como o Cristal de Buda Revela a Verdadeira Nobreza Humana?

Qual o valor de manter uma promessa? Se para algumas culturas cumprir o que se propôs é uma questão de honra, nos dias atuais percebe-se que esse valor tem se perdido em detrimento de outros. Na rede internacional de computadores, ou seja, a internet, somos bombardeados diariamente com propagandas e promessas de riqueza, fama e prosperidade, mas será que elas se cumprem? Sabemos que o mundo atual é um campo fértil para as oportunidades nesse aspecto, mas nem sempre quem está nos prometendo algo é de confiança.

Não por acaso, a partir do advento da internet, o número de golpes e crimes dessa natureza tem se espalhado exponencialmente. Não viemos, porém, falar sobre as mazelas do mundo virtual, mas sim trazer uma história de nobreza e o valor de cumprir com aquilo que prometemos.

Essa história é passada na cultura japonesa desde a antiguidade e, após centenas de gerações, segue tendo um valor inestimável para este povo. Estamos falando do “Cristal de Buda”, você a conhece?

A lenda nos relata uma história de Nobreza, uma das virtudes mais difíceis e deturpadas em nossos dias. Nobreza é uma daquelas palavras que foram mudando de significado ao longo do tempo. É verdade que ela sempre representou um grupo de pessoas com poder político, militar e econômico em uma nação. Mas, se voltarmos à antiguidade clássica, veremos que a Nobreza era sinônimo de comportamento fidalgo, cortês, polido.

Além disso, perceberemos que o Nobre era o símbolo da Bravura e do Heroísmo, sendo o primeiro soldado a se alistar para a batalha, ou o primeiro a se sacrificar numa situação difícil. Esperava-se de um Nobre algumas características, como Honra e Autodomínio. Em outras palavras, eles carregavam os Valores da sociedade e eram os modelos de Seres Humanos a serem seguidos.

A história que contaremos começa com um pai e uma filha: Kohaku Jo, uma bela princesa e seu pai, um governante do Antigo Japão chamado Kamatari. A tradição da época dizia que as filhas precisavam se casar com quem seu pai ordenasse, esse sendo um sinal de respeito e obediência para com o patriarca. Porém, a princesa nunca havia se interessado por nenhum monarca, e Kamatari, sem querer forçar sua filha, a deixou vivendo livremente. Tudo mudou quando, certo dia, escutando os boatos sobre a beleza da princesa, o imperador da China, o maior império do Oriente na época, apareceu no reino governado por Kamatari com um exército para ver de perto a beleza de Kohaku Jo.

Cena realista de Kohaku Jo, princesa japonesa, em um kimono detalhado, ao lado de seu pai Kamatari em um palácio tradicional, com o imperador da China se aproximando ao fundo.
Kohaku Jo e Kamatari: Uma visita inesperada do imperador da China.

Apaixonando-se à primeira vista, o imperador chinês quis a mão de Kohaku Jo. Kamatari, dividido entre seu reino e sua filha, precisou decidir cumprir sua obrigação de governante ou manter Kohaku Jo livre. Frente a essa grande dúvida, Kamatari escolhe salvar o reino e aceita casar sua filha com o imperador chinês. Kohaku Jo, por sua vez, fica um pouco relutante acerca do casamento, mas a obrigação de honra com a tradição e com seu pai a leva a aceitar o matrimônio.

Após ser cortejada e antes de ser desposada pelo Imperador da China, ela faz uma promessa no templo de Kofuku-Ji. Se tudo ocorresse bem em sua nova vida de casada, ela voltaria ao local de oração com os três melhores presentes que pudesse.

Templo Kofuku-Ji no Japão rodeado por cerejeiras em flor, com arquitetura tradicional e céu azul ao fundo.
Kofuku-Ji: A serenidade de um templo japonês cercado por cerejeiras.

Aqui já podemos observar duas grandes características de quem é Nobre. Kohaku Jo não queria se casar. Ela amava demais sua terra para aceitar deixá-la. Mas, antes de pensar em seus gostos e inclinações, ela pensou em seu compromisso com o Estado e com o seu pai. Um ato verdadeiro de sacrifício pessoal ainda hoje é considerado Nobre. Apesar de aceitar ser esposa do imperador da China, ela não esquece de suas tradições e faz uma promessa que vai lhe acompanhar por toda a história.

Já seu pai, Katamari, por sua vez, também demonstra o mesmo tipo de nobreza ao colocar o interesse do reino à frente dos seus desejos pessoais. Antes de ser pai, ele é o governante, o grande responsável por milhares de cidadãos da cidade e jamais seu dever familiar poderia ficar à frente de suas obrigações com o Estado. 

Para nós, talvez essa seja uma ideia difícil de aceitarmos, afinal, vivemos em um mundo completamente distinto do que o do Japão Antigo. Além disso, nossa cultura moderna, baseada no materialismo e individualismo, não concebe que alguém faça um sacrifício tamanho em nome de uma ideia ou mesmo do próprio Estado. Somos levados cada vez mais a pensar que é “cada um por si”, logo, vale tudo, inclusive vender os próprios valores, para se manter confortável e com seus desejos realizados. Visto isso, achamos que ser Nobre é ter riquezas, ou algum título hereditário, como nos conta a própria história do Ocidente, que classificou os “Nobres” como pessoas que herdaram títulos e terras.

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Voltando a história do Cristal de Buda, a sorte sorriu para nossa protagonista e seu marido se mostrou Bondoso e Generoso. Com todas as gentilezas que fez para deixar sua esposa feliz, o imperador da China encarna mais um elemento Nobre: a Generosidade. Ele a enche de presentes e homenagens, e ela lhe fala da sua promessa. Imediatamente, o governante coloca toda a sua riqueza à disposição para que ela possa cumprir sua palavra. Kohaku Jo escolhe os três presentes que quer ofertar: um instrumento musical mágico, um suprimento de tinta indiana que nunca se acaba e um cristal belíssimo e fantástico com a imagem do Buda dentro, sentado em um elefante. Como lemos no texto:

“O Cristal, de transcendente beleza e reluzente brilho como de uma estrela, proporciona paz de espírito eterna para quem olhasse através do conteúdo líquido e visse a figura sagrada de Buda.”

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O almirante Banko foi escolhido para a tarefa de transportar os presentes. Porém, no meio do caminho, o Dragão Rei do Mar, cria uma tempestade e rouba o precioso cristal. Consternado e envergonhado por não ter cumprido a missão, Banko pensou até em suicídio, mas decidiu viver e procurar a joia até poder cumprir sua promessa. Como nos conta a história, Banko consegue recuperar o cristal e entregá-lo à terra natal de Kohaku Jo. O almirante demonstra sua Nobreza ao cumprir o seu dever, mesmo que isso possa lhe custar a vida. 

Tempestade no mar com dragão e cristal brilhando
A batalha entre o almirante e o Dragão Rei.

Essa fixação em cumprir uma promessa que vimos no almirante e na imperatriz pode nos parecer exagerada hoje em dia, mas, é um dos Valores mais importantes para a Vida em sociedade, e sempre foi considerado um ato Nobre. Quem não gostaria de conhecer um profissional que cumprisse os prazos que promete, por exemplo? Ainda assim, embora Banko e outros pescadores tenham se esforçado muito, não encontram o cristal. Katamari, pai de Kohaku Jo, fica aborrecido, pois ama demais sua filha e reconhece a importância de cumprir uma promessa.

Até que o presente real é encontrado no fundo do mar, em posse do Dragão Rei. E uma jovem pescadora dá a nós a última lição de Nobreza desse mito. Ela se oferece para recuperar o tesouro, desde que seu filho seja criado como um Samurai, e não como um simples pescador. Ela mergulha no mar, enfrenta os dragões e rasga o peito para esconder a joia e trazê-la à superfície. Ela cumpre com o que prometeu, mas infelizmente não resiste à aventura. Dessa forma, ela nos deixa uma linda lição. A Nobreza não vem de berço e não é uma dádiva da sorte. Ela é uma escolha, uma atitude. Qualquer um de nós pode ser Nobre. 

Pescadora resgatando cristal do fundo do mar
O ato heroico da pescadora.

É interessante observarmos que em toda a história a mesma virtude é apresentada de diferentes formas: a Nobreza. Há Nobreza em Katamari ao proteger seus súditos; há Nobreza em Kohaku Jo ao abrir mão dos seus desejos pela obediência às leis e costumes; há nobreza em Banko ao fazer tudo para cumprir com seu dever; e há nobreza na humilde pescadora, que, sonhando com uma vida melhor para o seu filho, sacrifica-se para lhe dar uma oportunidade melhor. Quantas virtudes podemos agregar a essa sublime natureza, não é mesmo?

O “cristal de Buda” nos deixa a mais bela lição que podemos aprender hoje: a de que não precisamos viver todos da mesma maneira, mas se cultivarmos a Nobreza dentro de nós, ela encontrará uma forma de se expressar. Apesar de não sermos mais princesas e príncipes, nem mesmo imperadores, em nossa vida cotidiana podemos executar melhor nossos deveres, ao não abrir mão das leis que nos regem e ao se sacrificar um pouco mais em prol dos demais.

Cristal com imagem de Buda sentado em um elefante
O místico Cristal de Buda.

Talvez seja a hora de se inspirar na Nobreza das personagens desse conto para vivermos mais conscientes e alimentarmos a Nobreza que existe dentro de cada um de nós. Eis o desafio a ser vivido em nossa vida comum para que possamos, através dessa virtude, reviver os valores de um tempo em que a nobreza humana era um valor inestimável.

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