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O Cinema Nacional nos Ensina Sobre Nós Mesmos!

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Selos em homenagem ao Cinema Brasileiro, anos 90

Há exatamente 113 anos, a primeira filmagem cinematográfica foi feita no Brasil pelo português Antônio Leal, inaugurando assim a história do Cinema Nacional. História esta que pode ser dividida em épocas muito distintas: de influências hollywoodianas, do cinema sonoro, das chanchadas, do cinema novo, da crise e de uma atual retomada. Todas estas fases foram moldando as produções nacionais e a nossa relação com o cinema, no decorrer de mais de um século da sétima arte no país.

O cinema teve seu pontapé inicial no Brasil em 1896, com exibições na cidade do Rio de Janeiro de uma série de filmes curtos retratando o cotidiano nas cidades europeias. Depois dessa primeira exibição, o país foi construindo sua história cinematográfica, atravessando muitas fases e conquistando reconhecimento ao redor do mundo, por seu valor cultural, social e histórico, incorporando assim, aos poucos, a nossa realidade e transmitindo com riqueza o cenário nacional.

Ainda hoje, algumas pessoas comemoram o Dia do Cinema Nacional no dia 5 de novembro, devido a filmagem da primeira obra de ficção nacional, em 1908, de 40 min, “Os Estranguladores”, apesar de oficialmente a ANCINE, Agência Nacional do Cinema, declarar o dia 19 de junho como mais apropriado para esta homenagem. De certo, o que podemos afirmar, segundo a Agência, é que o cinema nacional tem crescido a cada ano. Seus dados nos dizem que, no ano de 2017, o público de filmes nacionais ultrapassou 17 milhões de espectadores, gerando uma renda de 240 milhões de reais. Entre os 463 longas-metragens lançados no país, 160 eram brasileiros.

O INÍCIO

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Foto da fachada do primeiro cinema na cidade de São Paulo

Os irmãos italianos Paschoal Affonso e Segreto podem ser considerados os primeiros cineastas do país, pois foram eles que realizaram as primeiras gravações da Baía de Guanabara em 19 de junho de 1898. O curta-metragem “Os Estranguladores” (1908), de Francisco Marzullo e Antônio Leal, é considerado a primeira película de ficção do Brasil, exibida em 5 de junho de 1908. Já o primeiro longa-metragem foi “O Crime dos Banhados” (1914), dirigido por Francisco Santos.

A primeira dificuldade encontrada na implementação do cinema no país foi a falta de eletricidade. No início, a maior parte dos filmes exibidos, era importada de outros países – principalmente da Europa.

Aos poucos, foram se vencendo os entraves iniciais e as primeiras produções nacionais começaram a ser produzidas. Os filmes conhecidos como “posados” (filmes de ficção), eram realizados pelos proprietários das salas de cinema do Rio de Janeiro e de São Paulo e muitas das histórias eram inspiradas em crimes reais, mas haviam algumas comédias. Os chamados filmes “cantados”, nos quais os atores dublavam a si mesmos por trás da tela, também fizeram sucesso nesse período. Outra fórmula bem-sucedida junto ao público eram as adaptações para o cinema de obras literárias como “O Guarany”, baseado na obra de José de Alencar; “Iracema”, entre outros.

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Os primeiros projetores do cinema brasileiro.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o cinema brasileiro, ainda em seus primórdios, sofreu com uma grande diminuição da produção europeia, e as salas de exibição passaram então a ser dominadas pelos filmes hollywoodianos (que entravam no país isentos de taxas alfandegárias), o que, sem dúvida, enfraqueceu o ainda imaturo cinema produzido nacionalmente.

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Filme Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro

CICLOS REGIONAIS

Fora do eixo Rio-São Paulo, o cinema brasileiro produziu filmes de pequena duração que ficou conhecido como Ciclo Regional. Em Pelotas, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Campinas, João Pessoa, Manaus e Curitiba, todos estavam imbuídos deste entusiasmo inicial, mas ainda com realizações precárias e respondendo da forma possível às dificuldades de um mercado dominado pelo produto estrangeiro.

INFLUÊNCIA HOLLYWOODIANA E O CINEMA SONORO

Na década de 30, foi criado o primeiro grande estúdio do Brasil: a Cinédia, ainda sobre muita influência do cinema hollywoodiano. Os filmes brasileiros mais relevantes desse período foram: “Limite” (1931), de Mario Peixoto; “A Voz do Carnaval” (1933), de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro, e “Ganga Bruta” (1933), de Humberto Mauro. Foi também nessa época que se propagou no país o cinema sonoro, cujo filme nacional pioneiro foi a comédia “Acabaram-se os Otários” (1929), de Luiz de Barros. Era um grande sucesso as histórias românticas, musicais, com grandes cenários e estrelas como Carmen Miranda. Exemplos disso são os filmes “Alô, Alô, Brasil” (1935), “Alô, Alô, Carnaval” (1936), “Bonequinha de Seda” (1936) e “Pureza” (1940).

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As irmãs Miranda em cena do filme Alô, Alô, Brasil

CHANCHADAS

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Cena do filme Moleque Tião com o ator, em destaque, Grande Otelo

Na década de 40 surgem os gêneros das chanchadas, filmes cômicos-musicais de baixo orçamento, que despontou juntamente com a companhia de cinema Atlântida Cinematográfica. Os principais destaques foram Oscarito, Grande Otelo e Anselmo Duarte que protagonizaram películas como: “Moleque Tião” (1941), “Tristezas Não Pagam Dívidas” (1944) e “Carnaval no Fogo” (1949).

Aos poucos, as histórias vão abandonando a temática do carnaval e explorando a comédia de costumes, a partir dos tipos folclóricos do Rio de Janeiro. O público gostava bastante, mas os críticos de cinema diziam que as chanchadas não eram cinema arte. Aos poucos, as películas vão se esgotando e no final dos anos 50, quando o público parece cansar da fórmula, as maiores estrelas são chamadas para trabalhar na televisão.

PRIMEIRO PRÊMIO INTERNACIONAL

Em 1949 foi criado o estúdio Vera Cruz, baseado nos moldes do cinema americano, em que os produtores buscavam realizar produções mais sofisticadas. Mazzaropi foi o artista de maior sucesso do estúdio. Nessa época também tem destaque o filme “O Cangaceiro” (1953), o primeiro filme brasileiro a ganhar o festival de Cannes.

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Cartaz e sinopse de O cangaceiro (1953), de Lima Barreto

CINEMA NOVO

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Filme Vidas Secas, 1963, de Nelson Pereira dos Santos

O estúdio Vera Cruz, em pouco tempo declara falência, mas de alguma forma, já inaugura o que estava por vir com o Cinema Novo. Uma fase do cinema nacional que se consolida na década de 60, focando nas temáticas de cunho social e político. Do cinema novo destacam-se as produções do cineasta baiano Glauber Rocha: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1968).

Em todos os filmes é mostrado um Brasil até então desconhecido, com muitos conflitos políticos e sociais. Um dos seus cineastas de destaque, Glauber Rocha, dizia que os instrumentos do cinema novo eram “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, e que tinha também um objetivo: a construção de uma “estética da fome”.

EMBRAFILME

Fundada em pleno contexto da ditadura militar, 1969, a Embrafilme, Empresa Brasileira de Filmes, apesar de ser uma importante ferramenta de controle estatal, também foi um grande incentivo às produções nacionais que ainda sofriam por conta da concorrência com o cinema hollywoodiano.

O Estado então financiava as produções cinematográficas, estimulando a exibição de longas nacionais nas salas de cinema de todo o país, o que culminou em alguns sucessos de bilheteria, incluindo “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), de Bruno Barreto, que bateu recorde de público (10,7 milhões de espectadores). As comédias dos Trapalhões também atraíram milhares de pessoas aos cinemas, naquela época.

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Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto

A CRISE

Com a chegada do videocassete nos anos 80, o fim da ditadura, o despontar de uma crise econômica e o esgotamento dos estilos de filme produzidos leva o cinema nacional a sofrer um grande declínio.

Ainda assim, nessa década merecem destaque “O Homem que Virou Suco” (1980), de João Batista de Andrade, “Jango” (1984), de Silvio Tendler, “Cabra marcado Para Morrer” (1984), de Eduardo Coutinho e “Pixote, A Lei do Mais Fraco” (1980), de Hector Babenco.

Com a chegada de um novo governo, o cenário se agrava pois se extingue o Ministério da Cultura, a Embrafilme, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro, desestimulando mais ainda a produção nacional.

A RETOMADA

Trailer do filme Central do Brasil

O período entre 1992 e 2003 é conhecido como a fase da Retomada, principalmente por conta da criação da Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, responsável pela regulamentação do que viria a se tornar a conhecida Lei do Audiovisual. Isso possibilitou a produção de centenas de filmes nacionais como o longa “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1994), de Carla Camurati, o primeiro realizado por meio desse recurso.

Grandes filmes desse período são “O Quatrilho” (1995), de Fábio Barreto, “O Que é Isso, Companheiro?” (1997), de Bruno Barreto, e “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, todos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro, sendo que o último também levou uma indicação na categoria de melhor atriz, para Fernanda Montenegro. Fatos que demonstram não só um incentivo à produção nacional, mas também uma maior identidade cultural brasileira na sétima arte.

Nesta época também, a Globo Filmes expandiu suas produções da televisão para o cinema, conquistando bilheterias milionárias, principalmente com suas comédias. O longa “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, marcou o final da retomada do cinema brasileiro, sendo indicado a vários prêmios nacionais e internacionais. Esse sucesso de crítica e de público deu um novo fôlego ao cinema contemporâneo brasileiro que não para de crescer.

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O longa Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles

Segue abaixo duas listas para mergulharmos ainda mais no cinema brasileiro.

As maiores bilheterias brasileiras:

Anos 1970:

  1. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto
  2. A Dama do Lotação (1978), de Neville de Almeida
  3. O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977), de J.B. Tanko
  4. Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), de Hector Babenco
  5. Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978), de Adriano Stuart

Anos 1980:

  1. Os Saltimbancos Trapalhões (1981), de J. B. Tanko
  2. Os Trapalhões na Serra Pelada (1982), de J. B. Tanko

Anos 1990:

  1. Lua de Cristal (1990), de Tizuka Yamasaki

Anos 2000:

    1. Se Eu Fosse Você 2 (2009), de Daniel Filho
    2. Dois Filhos de Francisco (2005), de Breno Silveira
    3. Carandiru (2003), de Hector Babenco

Anos 2010:

    1. Os Dez Mandamentos – O Filme (2016), de A. Avancini
    2. Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010), de José Padilha
    3. Minha Mãe é Uma Peça 2 (2016), de César Rodrigues
    4. De Pernas pro Ar 2 (2012), de Roberto Santucci
    5. Nosso Lar (2010), de Wagner de Assis

Obs.: Todos esses filmes tiveram mais de 4 milhões de espectadores.

20 filmes imperdíveis da história do cinema brasileiro

(de acordo com a professora da Agência Internacional de Cinema Lucilene Pizoquero)

    • Barro Humano (1929), de Adhemar Gonzaga
    • Sangue Mineiro (1929), de Humberto Mauro
    • Limite (1931), de Mário Peixoto
    • Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro
    • Carnaval Atlântida (1953), de José Carlos Burle e Carlos Manga
    • Sinhá Moça (1953), de Tom Payne e Oswaldo Sampaio
    • O Cangaceiro (1954), de Lima Barreto
    • O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte
    • Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha
    • São Paulo, Sociedade Anônima (1965), de Luiz Sérgio Person
    • Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha
    • O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla
    • Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Júlio Bressane
    • O Homem que Virou Suco (1981), de João Batista de Andrade
    • Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho
    • Central do Brasil (1998), de Walter Salles
    • Notícias de uma Guerra Particular (1999), de João Moreira Salles e Kátia Lund
    • O Invasor (2002), de Beto Brant
    • Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles
    • Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho

É interessante percebermos que o cinema é uma Arte, a sétima arte, e como tal pode nos levar a uma conexão sensível conosco mesmo e com o mundo ao nosso redor. Neste caso, para além de entretenimento e diversão, conhecer o cinema nacional é entender, de algum forma, os motores que nos fazem ser o país que somos hoje. Essas obras nos ajudam a conhecer melhor a nós mesmos, nos ajudam, inclusive, a conhecer realidades muito diferentes da nossa, mas que muitos brasileiros vivem cotidianamente. Toda vez que assistirmos uma das grandes obras do cinema brasileiro, que possamos refletir sobre toda essa história e, que possamos desenvolver sentimentos de Fraternidade por nossos compatriotas, e de Amor pela terra onde colocamos nossos pés.

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