A Verdadeira Justiça só Pode Nascer do Amor

Archie Williams emocionou o público do American’s Got Talent. Sua voz marcante cantando “Don’t Let The Sun Go Down On Me”, sucesso de Elton John, levou muitos dos presentes às lágrimas. Mas, embora o programa tenha dado volume ao talento de Williams, foi a sua história, que representa a história milhares de outros anônimos, o que realmente tocou os corações. Coincidentemente, Archie é o nome escolhido pela família real britânica para o primeiro filho do príncipe Harry e Meghan Markle. O que contam os tabloides (ok, a fonte não é exatamente confiável) é que seu nome seria originado do nome Ercanbald; Ercan significaria forte e Bald, corajoso.  Não conferimos essa informação, mas no caso do personagem que inspira este texto, ela se encaixa perfeitamente. Definitivamente ele precisou desenvolver algum grau de Força e Coragem.

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E o que faz esse homem de quase sessenta anos ser uma história inspiradora? A resposta está exatamente naquilo que ele não fez. Archie foi acusado, condenado e sentenciado à prisão perpetua, sem direito à condicional, pelo estupro e assassinato de uma mulher na região de Baton Rouge, Louisiana. Embora nunca tenham encontrado suas impressões digitais no local do crime; Ainda que três testemunhas tenham afirmado que ele estava em casa no momento do ataque; Mesmo que ele, com ajuda da organização Innocence Project, tenha por vinte anos procurado realizar uma busca no banco de DNAs, que provaria sua inocência; Ainda assim, ele viu trinta e sete anos de sua Vida passarem do lado de dentro das grades da Penitenciária do Estado da Louisiana.

Durante esse tempo, seus cabelos caíram, sua pele encheu-se de rugas, seus pais morreram… Mas, as únicas coisas que pareceram não se degenerar foram seu talento musical e sua fé cristã. Esses foram os alicerces sobre os quais ele manteve a Esperança, escreveu a carta para Barry Scheck e conseguiu a atenção que tanto precisava. Scheck é diretor do “Innocence Project”, fundado em 1992 por ele e Peter Neufeld, na Cardozo School of Law, o projeto trabalha para libertar pessoas inocentes que estejam encarceradas injustamente no “país da liberdade” (EUA). Além disso, tenta reformar o sistema judiciário criminal para evitar novas injustiças.

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Um simples exame de DNA, disponível há décadas, provou que Archie era inocente… Joseph Abbitt, 14 anos; Habib Abdal, 16 anos; Christopher Abernathy, 28 anos; Malcolm Alexander, 38 anos; George Allen, 30 anos; James Bain, 35 anos; A lista é imensa. Todos eles presos por uma equação que soma falhas processuais, pressão da opinião pública, promotores ambiciosos, defensores inaptos e uma Justiça cega, ou de olhos fechados para todos esses erros. O projeto americano cresceu e hoje integra o “The Innocence Network”, porque essa equação, infelizmente, não é escrita apenas em inglês. Essa realidade acontece em todos os continentes. Inclusive no Brasil.

Em que ponto a nossa Humanidade falhou para que estas monstruosidades continuem a se repetir? Não existe resposta fácil para esta pergunta. O problema da Justiça é alvo da reflexão Humana desde tempos imemoriais. As culturas mais antigas sempre identificaram a importância desse elemento, dando-lhe uma dimensão Divina. Ela sempre foi uma das faces de Deus. Ultimamente, costumamos olhar para a Justiça com os olhos da nossa sociedade científica, laica, cética e materialista. E jocosamente, julgamos que aquelas sociedades ligadas ao Sagrado eram primitivas e supersticiosas. Não se pode negar que ao longo do tempo, muitas atrocidades foram cometidas em nome do Divino. Esse vínculo entre Justiça e Religião carrega em si um risco: o de que cada um ache que a sua visão da Justiça é a única verdadeira. Concordamos que essa é mais uma daquelas discussões que não têm fim. Sem pretensão de esgotar o diálogo, acrescentamos um ingrediente a ele. Será que as guerras santas, especialmente da idade média para cá, eram deflagradas por lideranças verdadeiramente comprometidas com os Valores Religiosos, ou eram movidas por interesses econômicos e políticos? Em outras palavras, o problema pode não ter sido somente o vínculo da Justiça com a Religião, mas uma união excessiva desta com interesses materialistas egoístas. E nesse caso, o casamento é monogâmico. Ou nos “religamos” à Justiça, ou aos interesses egoístas. Não há como montar dois camelos, ou servir a dois senhores ao mesmo tempo.

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Se em grande parte das culturas, Deus é Justiça, nelas Deus também é Amor. A visão Religiosa tem o potencial de Religar essas duas necessidades para a Vida Humana em sociedade. E o que é o Amor? Aqui vamos recorrer à filosofia do interminável Platão. Amor é uma lembrança do tempo em que éramos Uno, quando toda a Natureza estava Unida nesse indescritível Deus que está para além de todas as coisas. O Amor é uma força que nos move na direção dessa Unidade, e que entre os homens se expressa como Fraternidade, Tolerância, Compreensão, Generosidade e Bondade. Para muitas formas religiosas, assim como também para a filosofia platônica, não é possível ser Justo, se não houver Amor. Ousamos afirmar que o caso de Archie e tantos outros é resultado do divórcio dessas duas Virtudes. Uma Justiça sem Amor, se torna fria, cruel e desumana. É somente um rancor que busca vingança.

Talvez a visão religiosa não seja assim tão menosprezável. A Justiça deveria buscar dar a cada um de acordo com sua natureza e seus atos (olha Platão aqui outra vez). E o Amor tem como único objetivo o Bem da pessoa amada. Imaginem então um sistema que busque aplicar penas tendo como fim último o melhor para o réu. Esse tipo de Justiça não mereceria um lugar no altar de todas as Religiões? Vamos imaginar que o juiz do caso Williams fosse por essa ideia guiado. Não teria ele suspendido o julgamento para que o réu pudesse ser defendido por um advogado mais comprometido? E se o advogado de defesa fosse movido pelo mesmo ideal, não teria apelado de uma decisão tão frágil? E se os promotores pensassem dessa forma, teriam acusado Archie, ignorando a falta de provas e o seu álibi? Ou mesmo, os investigadores, movidos por esse sentimento, teriam pressionado as testemunhas para acusarem um homem de um crime tão bárbaro por meio de fotografias? Como podemos concluir, no fim das contas, as Religiões não são tão ultrapassadas assim. Afinal de contas, todos os seus grandes fundadores não repetiram um mesmo mantra? O Amor é o único caminho.

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A tradução da música que Archie Williams cantou diz: “não deixe o sol se pôr em mim”. Se observarmos como ele reagiu a esse acontecimento, parece que ele manteve um pouco de luz em si mesmo. Elton John disse sobre a apresentação:

“Fiquei comovido até às lágrimas quando ouvi a história de Archie e o vi cantar “Don’t Let The Sun Go Down on Me”. A coragem e o perdão demonstrados por ele são verdadeiramente inspiradores. O mesmo espírito que o mundo achou tão inspirador em Nelson Mandela.”

Archie não se entrega a queixas e choradeiras. Ele não exibe o brilho sanguinário e vingativo nos olhos. Ele saiu da prisão com um grande sorriso e a Vontade de cantar. Segundo suas próprias palavras, sua mente nunca entrou naquelas celas.

Quando juízes, promotores, advogados, investigadores, garis, professores, médicos, políticos, soldados… abandonam o Amor como farol de Ação na Vida, caminham mais um passo na direção do crepúsculo de suas Humanidades e da nossa também.

Então, que o Amor seja o nosso guia, em todas as nossas ações.

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