As produções educativas sempre tiveram espaço e público garantidos nas TVs nacionais. Quem não lembra do Mundo de Beakman, Castelo Rá-Tim-Bum ou Telecurso 2000? Esses programas exibidos entre as últimas três décadas tinham um cunho educativo e trabalhavam conceitos científicos através de experiências que podiam ser reproduzidas em casa, de forma divertida, por toda a família. Seguindo essa mesma linha, o “Mundo Mistério”, série produzida por Felipe Castanhari e lançada recentemente pela Netflix, traz aos telespectadores uma sequência de curtos episódios com conteúdos interessantes, leves e com uma proposta educativa voltada para todos os públicos e idades.
A série documental é resultado de um trabalho desenvolvido por Castanhari no Canal Nostalgia, na plataforma do YouTube. Se esse tipo de conteúdo já agradava ao público e aos milhares de seguidores do canal, ele se tornou ainda melhor com este formato de roteiro usado no programa da Netflix, pensado para facilitar o conhecimento e aguçar a curiosidade dos telespectadores. Muitos temas interessantes são abordados com o foco na história e na ciência, por exemplo: como eram os cachorros no período pré-histórico? Ou o que de fato aconteceu no Triângulo das Bermudas? São só algumas das perguntas que podem ser respondidas e refletidas nos episódios.
A edição da Netflix conta com a presença do próprio produtor Felipe Castanhari, além de mais três personagens que ajudam o público a navegar pelos mistérios e encantos das narrativas. A série se passa direto do laboratório da Dra. Thay (Lilian Regina), cientista responsável pelas pesquisas do Complexo Curie. Um outro personagem é o zelador Betinho, interpretado pelo ator Bruno Miranda. E para fechar o time, temos o supercomputador Briggs, dublado por Guilherme Briggs (dono da marcante voz que dublou o Super Homem). Os personagens explicam os fenômenos, fatos e experimentos científicos através de efeitos especiais e animações.
A produção do youtuber foi alvo de várias críticas nas redes sociais, chegando a ser um dos temas mais comentados em algumas plataformas. Uma das polêmicas girou em torno de que, cada vez mais os influenciadores digitais ocupam o espaço dos cientistas, o que desvaloriza a importância de uma formação específica para produzir um conteúdo cultural e científico. Um dos seguidores questionou na plataforma do Twiter: “Do que adianta ficar quatro anos numa universidade se qualquer pessoa pode produzir conhecimento histórico? Do que adianta participar de congresso, escrever e publicar artigos, se qualquer pessoa pode fazer um vídeo como bem entender sobre determinado assunto histórico?”.
A proposta educativa da produção em questão, supera todas as formas de polêmicas em torno da legitimidade de quem deveria ter o certificado para produzir ou não os conteúdos históricos e científicos. Segundo Castanhari, em uma de suas entrevistas, o seu interesse por ciência despertou ainda quando era criança, por meio de séries como “O Mundo de Beakman”, que passava na TV Cultura nos anos 1990 e explicava a ciência de uma forma simples, que se tornou também o objetivo principal do “Mundo Mistério”. Castanhari também reforça que, apesar dele não ser um profissional da área, todo conteúdo produzido é assessorado por uma equipe de especialistas. O apresentador é apenas uma parte de uma grande equipe comprometida com o respeito à investigação e ao conhecimento científico.
Isso nos faz refletir sobre a importância de se aprender sobre a ciência, tendo em vista ser um dos pilares sociais que move o mundo.
O grande mérito desta série é a incrível capacidade de apresentar conceitos científicos e fatos históricos a partir de elementos simples e interessantes. Esta simplicidade do programa é o que consegue nos aproximar de um dos grandes Mistérios da Vida e do Universo. Num ano tão atípico para todo mundo, em que os meios de comunicações nos trouxeram tantas notícias tristes, contar com uma produção como o “Mundo Mistério” é um presente para todos nós, sejamos das gerações das décadas de 80, 90 ou do ano 2000. Os episódios despertam em cada um de nós o desejo por aprender, não somente de uma forma intelectual, mas sim nos colocando frente aos mistérios com uma curiosidade genuína da criança que mora dentro de nós.