Mitologia Chinesa: O Mito de Pan Ku e o Despertar da Consciência

O mito da criação do mundo na Mitologia Chinesa é contado de uma forma muito simples, mas a riqueza da narrativa está nas entrelinhas filosóficas: no princípio, quando nada existia, o caos primordial choca um ovo negro. Unificados no interior desse ovo estavam Pan Ku, o primeiro, e um “conjunto de forças” chamado Yin-Yang, todos em estado primordial. Pan Ku então quebra o ovo, criando o Universo, e em seguida, com um golpe de machado, divide o par de forças. Como Yin é mais denso, desce dando origem à Terra, e Yang, por ser mais sutil, sobe dando origem ao Céu. Por muito tempo, Pan Ku esteve esticado como uma corda ligando o Céu à Terra, mas depois de milhares de anos ele descansou e seu corpo se desfez em vários pedaços. A sua respiração tornou-se o vento; sua voz, o trovão; seus olhos, o Sol e a Lua; as curvas de seu corpo, as montanhas; seu sangue, os rios; seus músculos, as terras; sua barba, as plantas; seus cabelos, as florestas; sua pele, a crosta terrestre e seus ossos, os minerais.

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Essa é a cosmogênese chinesa. Na verdade, estamos diante de um código que, ao decifrá-lo, nos deparamos com aspectos filosóficos muito profundos. Nessa narrativa há a presença de números. O caos primordial está relacionado ao zero, o ovo representa o número um, Pan Ku e o conjunto Yin-Yang, o dois, e a ruptura do ovo com o golpe de Pan Ku no par de forças, representa a tríade formada pelo Céu, o Homem e a Terra. A partir daí, da interação desses elementos, surgem todas as coisas que existem manifestadas no Mundo: os ventos, os rios, as plantas, os animais, etc. Desse modo, visualizamos no mito uma contagem matemática, começando do zero e seguindo pelo um, dois, três, quatro e assim sucessivamente.

Na mitologia chinesa, Pan Ku representa a Consciência. No início, mesmo antes de qualquer coisa se manifestar, ela já estava presente. Na sequência, se manifesta como o ovo da Unidade Primordial, depois como a dualidade Yin e Yang, em seguida, como a tríade: Céu, Homem e Terra, e assim segue se tornando cada vez mais múltipla, até se tornar os rios, o vento, as montanhas e os animais, ou seja, aquilo que entendemos por mundo físico. Este é o Mistério da Unidade, que se torna múltipla, mas sem deixar de ser sempre a mesma coisa. Muitos mitos que tratam da origem do Cosmos trazem estas ideias, que são muito complexas para a nossa capacidade Humana de compreensão. Mas em uma das chaves de interpretação, podemos entender que esses símbolos fazem referência à Alma Humana. Atualmente, vivemos confundidos com o mundo material, nós pensamos que somos um corpo de carne e osso controlado por um cérebro. Porém, a nossa essência, nosso Eu verdadeiro existe desde os tempos primordiais, já passou por várias experiências diferentes, e atualmente vive uma experiência de encarnação em corpos físicos, mas isto é somente uma fração da nossa História.

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Esta experiência, neste mundo em que estamos mergulhados, é muito surpreendente e cativante. Mas nós não somos daqui. Tudo isso é transitório, e todos sabemos disso de alguma forma. Dentro de todo Ser Humano palpita uma Intuição da Eternidade, do Transcendente, pois é isso o que originalmente somos.

No mito, essas forças Yin e Yang são representativas dos aspectos densos e dos aspectos sutis. E, trazendo um pouco o mito para a nossa realidade Humana, podemos facilmente visualizar isso em nossas Vidas. Por exemplo, o nosso corpo físico é denso, enquanto que nossas emoções e nossos pensamentos são realidades sutis. Então, todos esses aspectos densos da existência são representados no mito como a força Yin, enquanto que os aspectos mais sutis são representados pela força Yang. Pan Ku, que representa a Consciência Humana, no princípio está unindo essas duas forças, mas depois ele solta as mãos e esses dois mundos vão ficando cada vez mais separados. Essa separação representa o momento em que a nossa vida está ligada somente aos aspectos materiais: a aparência, ao dinheiro, à ostentação, etc. E infelizmente, essa é uma realidade muito comum hoje em dia, uma vida sem transcendência, sem reflexão e sem espiritualidade… Uma Vida sem sentido.

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Assim, esse resgate do mito chinês de Pan Ku nos lembra a necessidade de buscarmos uma aproximação desses aspectos mais sutis, como Eternidade, Felicidade, Amor, Compreensão, Sentimentos e Virtudes. Isso, no mito, representa a União do Céu com a Terra, ou seja, trazer o mundo sutil, Yang, para a realidade terrena, densa, representada pela força Yin. Mas será que isso é possível?

É possível! E esse é o futuro da Humanidade, é o objetivo principal desta experiência que estamos vivendo. O que podemos fazer, dentro dos limites de nossa vivência individual, é despertar a Consciência, iluminar os aspectos inconscientes dos Mistérios da Vida. Fazemos isso quando nos aproximamos do Sagrado, dos Grandes Ideais, e quando transformamos essas reflexões, inspirações e conhecimentos numa forma de vida prática e cotidiana. Por isso, o despertar da Consciência não é meramente intelectual, é vivencial. Precisamos viver essas ideias e senti-las com todas as porções do nosso Ser, pois só assim podemos despertar a consciência do nosso Eu verdadeiro, e seremos uma ponte entre o Céu e a Terra.

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