A Fênix é uma ave Sagrada parecida com uma águia, que aparece em várias mitologias, notadamente a grega e a egípcia. A característica marcante desse pássaro mítico é que, ao perceber que está morrendo, constrói uma pira funerária e se lança às chamas. Quando todo o seu corpo se transforma em cinzas, desse pó renasce uma nova fênix, renovada, cheia de energia e com um novo ciclo de Vida pela frente. Outras características deste pássaro são a Longevidade e a Força. Os que mencionaram a fênix em seus escritos, como Heródoto, Ovídio e Apolônio de Tiana, falam em um ciclo de vida em torno de 500 anos. Dizem também que ela tinha tanta Força que era capaz de carregar um elefante em suas garras enquanto voava.
Essa ave nunca existiu de fato, é um símbolo, e se estamos falando sobre ela neste momento, é porque ela carrega um ensinamento tão forte que atravessou os séculos, através de várias culturas, e chegou até nós. A Força desse símbolo está em sua capacidade de falar com muita Clareza sobre aspectos muito sutis da nossa Vida. Então, o que essa ave mítica revela? Que sutilezas da nossa existência estão codificadas nos detalhes desse mito?
Pode observar que tudo o que você conquista na sua Vida é resultado da morte de algum estado anterior. Por exemplo, no processo de fecundação humana, o espermatozóide precisa morrer de certa forma para que nasça o zigoto, que é a primeira célula de um novo Ser. Mas esse estado também vai morrer logo em seguida para dar origem a uma outra forma embrionária, e nessas múltiplas transformações, de mortes seguidas de renascimentos, é que todos nós viemos à existência. Para que o Sol desponte no horizonte, uma noite estrelada precisa se desmanchar. Todas as noites, ao dormirmos, de certa forma morremos, mas na manhã seguinte naturalmente renascemos. O nosso coração a cada segundo perfaz um ciclo análogo ao de morte e ressurreição, através dos movimentos sistólicos e diastólicos. Essa lógica se estende desde os aspectos mais vitais até os mais práticos, por exemplo, para alcançarmos um diploma em alguma área profissional, o curso precisa acabar, pois, obviamente, enquanto o curso estiver em andamento não se pode conquistar o novo título.
Toda a nossa existência é ordenada pela lógica que aparece neste mito. Isso acontece com a gente o tempo todo, mas raramente nos damos conta, porque é sutil e óbvio. A mitologia nada mais faz que pegar o sutil, o óbvio, e torná-lo perceptível. O problema é que quando não estamos conscientes dessa Lei Universal da Ciclicidade, a tendência é que nossa psique não compreenda bem o que está acontecendo e entramos em estados de angústia e de ansiedade. Sempre que nos apegamos às formas sofremos muito, pois as formas sempre viram cinzas. Precisamos focar no Renascimento sempre. Tudo que está morrendo renascerá de algum modo, em uma nova fênix. E da mesma forma, a nova fênix somente virá quando queimarmos a fênix velha. Às vezes nos agarramos a formas mentais, e por um instinto de preservação que nos é inato por Natureza, não queremos largar por nada. Isso nos faz sofrer muito. Carregamos por anos e anos uma fênix envelhecida, sem força, sem velocidade, e vamos preservando isso, até o momento em que resolvemos transmutá-la em algo novo, na pira funerária da Vida.
A grande mensagem do Mito da Fênix tem aplicações tanto no campo mais prático da Vida quanto nos aspectos mais profundos. No campo prático, o mito nos diz: renove sempre, na vida profissional, amorosa e pessoal. Destrua as velhas formas mentais, abra-se para o novo. É no desapego das formas que está o ponto de Renascimento para as novas possibilidades. Na esfera mais essencial do Ser, o mito nos diz que morrer é iniciar uma nova jornada com a Alma Renovada. As grandes tradições da Humanidade sempre renovam essa mensagem profunda, de que nossa Alma é Imortal e a morte nada mais é que um Renascimento para uma nova Vida, com outro corpo de fênix, renovado, cheio de energia e de infinitas possibilidades.