O ser humano é o único ser que sonha. Não estamos falando dos sonhos em seu sentido objetivo, como a série de imagens que ocorre em nossa mente quando dormimos, mas no aspecto de aspirações, aquilo que buscamos realizar em nossa vida. Somos movidos por esses sonhos, que são tão variados quanto os tipos de espécies em nosso planeta. Há quem sonhe com viagens para lugares distantes ou turísticos, já outros sonham em formar uma família e ainda há quem sonhe em encontrar sua verdadeira essência em meio à complexa e turbulenta vida social em que estamos inseridos. Porém, é possível deixarmos de sonhar? Qual é, afinal, a importância de ter sonhos? Falaremos disso no texto de hoje através de uma excelente indicação de filme.
“Você não morre quando o coração para de bater, morre quando, de alguma forma, deixa de se sentir importante.” Essa é uma das frases do filme “O Vendedor de Sonhos”, um filme de 2016, dirigido por Jayme Monjardim. O longa-metragem, que é baseado na renomada obra do psiquiatra Augusto Cury, conta a história de um famoso psicólogo chamado Júlio César que em uma situação limite tenta dar fim à própria vida, decidindo se jogar de um prédio.
Em meio a esse estresse emocional, Júlio encontra nas palavras de um mendigo a força para desistir do seu ato e retomar sua vida. A partir desse fato, o psicólogo segue o sábio mendigo, que vai disseminando suas ideias ao longo da trama. Visto como louco pelos amigos e familiares, afinal, em uma sociedade como a que vivemos, seguir uma pessoa que não possui condições básicas e que mora na rua é um sinal de insanidade, Júlio começa a descobrir o valor dos sonhos e de uma vida reflexiva. O mendigo se mostra um verdadeiro mestre para o renomado psicólogo, que, até então, se considerava um expert acerca da mente humana. Porém, à medida que caminha dentro de sua jornada, Júlio percebe que ainda não conhecia nada sobre o verdadeiro espírito humano, aquilo que está para além das emoções e do pensamento.
Um dos pontos mais fortes do longa-metragem é que a todo momento somos brindados com ensinamentos sobre a vida, que nos levam a refletir sobre nossos princípios e crenças e sobre como nos posicionamos diante dos nossos problemas individuais e sociais, da humanidade como um todo. O sábio mendigo não precisa comprovar suas pérolas de sabedoria através de títulos e cargos, pois o valor moral de suas ideias está na vivência das virtudes que emprega na convivência com outras pessoas. Dessa maneira, percebemos que os verdadeiros ensinamentos não são conquistados através de livros e teorias, mas, sim, da constatação a partir da prática das ideias.
Para além de um livro de autoconhecimento, a obra de Augusto Cury traz reflexões sobre o modo de vida que levamos. “O Vendedor de Sonhos” é justamente a obra que dá aos desiludidos uma nova oportunidade, uma vírgula para que continuem a escrever sua própria história. Mas, como já apontamos no início do texto, que sonhos são esses?
O filme nos leva a refletir, principalmente, sobre o que desejamos e como percorremos o caminho para nos realizar. A grande desilusão, a qual o filme tenta retratar formidavelmente, é justamente correr atrás de um sonho que não é real, que não se realiza quando alcançado. Como apontamos, é comum termos algumas aspirações na vida como um bom emprego, viagens, bens materiais etc. Porém, o que ocorre quando alcançamos esses “sonhos”? Geralmente, percebemos que viver somente aquilo não basta e, dessa forma, começamos, quase que automaticamente, a criar novas necessidades. Depois de uma viagem internacional, por exemplo, o que desejamos? Uma nova viagem. Quando compramos o carro do ano, o que desejamos? Outro carro, tão novo e “atual” quanto o que possuímos. Dessa maneira, nossos “sonhos” acabam se convertendo em um poço sem fim de desejos, o que não nos traz felicidade e o que, infelizmente, nos obriga a dedicar grande parte de nossa energia para conseguir tais aspirações. O filme ataca, de forma voraz, o modo de vida da maioria das pessoas, no qual o sonho de ser “bem sucedido” muitas vezes obscurece nossa Humanidade, nossa capacidade de criar laços e, finalmente, nos faz esquecer de todos à nossa volta. Essa mentalidade egoísta vai sendo desmontada a cada reflexão feita pelo sábio mendigo, que é chamado de “O Vendedor de Sonhos”.
Nesse sentido, onde reside os verdadeiros sonhos humanos? Não está, como vimos, na realização de bens materiais, mas, sim, no nosso próprio desenvolvimento, na capacidade de descobrir a si mesmo a cada instante e de perceber o potencial latente que há em cada um de nós. Esse potencial nada mais é do que a vivência de nossas virtudes em consonância com a bondade e a justiça. Por isso que os verdadeiros sonhos não podem ser comprados, muito menos obtidos através de uma troca, mas sim a partir de nossa própria busca de um sentido interno para nossa existência. Ao encontrarmos esse ponto em nós, poderemos levá-lo para os demais, tornando-se inspiração para quem encontramos no caminho. O sábio mendigo faz isso de forma brilhante, uma vez que mesmo em uma condição “inferior”, socialmente falando, encanta a todos com quem convive, inclusive os mais bem-sucedidos empresários que o procuram para receber seus conselhos.
Dentre várias frases e momentos impactantes do filme, destacamos aqui uma em que o vendedor de sonhos diz: “Um suicida não deseja se matar. Ele deseja, antes de tudo, acabar com sua dor”. Ao analisarmos essa ideia, perceberemos que, no fim, é assim que todos nós, sejamos suicidas ou não, nos sentimos: não queremos sentir dor. Quando a sentimos, queremos que ela passe logo. E se essa dor insiste por muito tempo, é capaz de afetar nosso equilíbrio emocional. Estas dores vão nos impactando, pouco a pouco, e se não a eliminamos, não entendermos sua verdadeira causa, vamos morrendo aos poucos. Consequentemente, nossos sonhos deixam de ser importantes, assim como nossas metas e objetivos. Nossos familiares, nossos amigos e tudo que amamos e desejamos vão perdendo as cores, os sabores. Nos esquecemos do nosso propósito de vida e passamos a apenas sobreviver, até que chega ao ponto em que passamos a nos questionar se vale a pena continuar com tudo isso.
Portanto, é fato que não morremos só quando nosso corpo para de funcionar, mas também quando perdemos essa capacidade de nos sentir fortes e vivos, quando pensamos que não somos mais capazes de fazer a diferença. Morremos primeiro na psique, depois no corpo. “O Vendedor de Sonhos”, em síntese, trata de vender uma possibilidade: de mudar e observar a vida a partir de um novo patamar, um novo ponto de vista, mais elevado e Humano, para além do que nos exigem os padrões e formas atuais. No mundo em que vivemos, em que cada vez mais nos afundamos no materialismo, “O Vendedor de Sonhos” é um verdadeiro respiro em meio ao mar caótico em que estamos nadando, muitas vezes sem direção. Desejamos que o filme seja para você, meu caro leitor, um excelente alimento para a alma, especialmente nestes períodos em que o sentimento de Esperança precisa vibrar forte dentro de cada um de nós.