Cada sociedade desenvolveu uma forma de compreender e lidar com a dimensão do tempo. Mas a percepção que se tem sobre esse conceito depende, em grande medida, da época, do lugar, dos costumes e da cultura à qual pertencemos. Segundo o filósofo romano Sêneca, o tempo é uma energia especial que não se renova e, diferente de outras fontes de energia, não se pode ser produzida ou armazenada. As civilizações antigas compreendiam o tempo através da observação da Natureza e de seus ciclos, sobretudo, os ciclos ligados ao desenvolvimento da agricultura e das colheitas. Assim, a importância de conhecer e compreender a dimensão do tempo sempre foi uma busca que os povos expressaram através de vários mitos. Os gregos, por exemplo, nos deixaram como legado da sua experiência os mitos de Chronos e Kairós, considerados como Deuses do Tempo.
Apesar de serem mitos muito antigos, eles possuem um valor atemporal, pois dão respostas ao Ser Humano de qualquer época ou qualquer cultura. Segundo a mitologia grega, Chronos governava sobre todos os seres e devorava todos os seus filhos ao nascer: Héstia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon, pois temia uma profecia antiga de seus pais, Urano e Géia. A profecia dizia que um dos seus filhos o iria destronar, e temendo tal situação, devorava cada um dos seus filhos recém nascidos. Mas Réia, mãe das crianças, criou uma estratégia para proteger o seu último filho, Zeus: escondeu-o em Creta assim que nasceu, fazendo com que Chronos comesse uma pedra enrolada em mantas, pensando que engolia mais um dos seus recém-nascidos. Anos mais tarde, ao chegar à idade adulta, Zeus derrota o seu pai Chronos, e o faz regurgitar a pedra e cada um de seus irmãos, cumprindo assim a profecia dos seus avós. Com isso, se inicia uma nova era com Zeus reinando sobre todos os Deuses.
Como todo mito guarda em si uma mensagem simbólica a ser desvendada, é preciso que estejamos atentos ao que os antigos gregos queriam nos passar com essa narração. Para a Grécia, Chronos é o Deus que representa o tempo quantificado, que se pode medir. É o tempo corrente, rotineiro, ordenado pelo relógio, onde minuto a minuto dá sequência às horas, aos dias e estes aos meses e anos. Representado como um homem velho, tirano e cruel, Chronos controlava o tempo e as ações dos mortais desde o nascimento até a morte. Nada e nem ninguém escapava dele. É importante lembrar, que é da origem do seu nome que se deriva várias palavras como cronômetro, cronologia, cronograma etc. Portanto, todas as vezes que falamos em Chronos, estamos fazendo menção ao tempo cronológico e mensurado de nosso calendário.
Além de Chronos, há uma outra forma grega para designar outra dimensão do tempo, que é Kairós. Na mitologia, ele é retratado como um jovem que tem uma porção de cabelos na testa, possui asas nos ombros e calcanhares, o que lhe confere uma agilidade, habilidade e velocidade imensuráveis. Os gregos afirmavam que Kairós corria tão rapidamente que só era possível detê-lo agarrando-o pelos cabelos, ou seja, encarando-o de frente. Esta era a única maneira de segurá-lo, pois depois que ele passava, era impossível trazê-lo de volta. Diante disso, só um Indivíduo com muita atenção e habilidade pode perceber a chance da oportunidade. Isso quer dizer que, quando Kairós surge diante de nós, ele se apresenta como “a ocasião adequada no momento adequado”, é aí que devemos agarrá-lo. E caso não aproveitemos, a oportunidade passa e não volta mais.
Enquanto Chronos refere-se ao tempo sequencial e objetivo, Kairós representa a dimensão temporal qualitativa, a experiência do momento oportuno. Assim, enquanto Chronos é de natureza quantitativa, o “tempo dos homens”, aquele tempo que nos deixa passivos, que nos devora e nos oprime, Kairós é o tempo que nos eleva e nos faz escapar desta dimensão mecânica e repetitiva..
Em nossas vidas, é inevitável que tenhamos que lidar com Chronos, por isso é importante pensar bem e planejar o nosso tempo. Mas não podemos viver sem tomar consciência de que Kairós passa por nós constantemente. Em nossos dias, inúmeras oportunidades passam na nossa frente, mas simplesmente não percebemos. Na verdade, todo desafio que surge em nossas vidas são oportunidades para podermos conhecer a nós mesmos com mais clareza e profundidade, são oportunidades de crescimento. Se prestarmos atenção, alguns dos nossos dias parecem desgastantes, improdutivos, como se estivéssemos sendo devorados por Chronos. Já em outros dias, é como se estivéssemos dominando o tempo, como se tivéssemos segurado Kairós e ele nos levasse a “voar” pelas atividades, e quando o dia termina, nós nos sentimos como se tivéssemos vivido uma excelente aventura.
Aprender sobre essas duas formas de tempo nos ajuda a compreender que o homem vive entre essas duas dimensões: temporal e atemporal, muito bem representadas por essa narração mítica. Em nossas vidas é inevitável que uma parte nossa seja devorada pelo tempo, a nossa parte material. Mas não devemos admitir que Chronos tome de nós nada mais além disso. Nosso sonhos, nossos sentimentos, nosso entusiasmo… Tudo isso deve se manter muito vivo dentro de nós, por isso devemos sempre estar atentos para as oportunidades de alcançar a dimensão atemporal e fortalecer essa juventude da alma. Então, quando Kairós passar, segure-o pelo cabelo, e quando estiver voando alto junto dele, perceba que a verdadeira Vida é muito mais do que estas coisas que se desgastam com o tempo.
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