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Fé em um Mundo Pós Quarentena

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Após quase três meses de mudanças comportamentais necessárias, em razão da luta contra a crise sanitária mundial, todas as pessoas vêm aprendendo a conviver com novas formas de relacionar-se consigo e com as outras. Temas como o envelhecer, o adoecer e a morte foram os mais debatidos nos mais diversos espaços virtuais e nos trouxeram aquela velha sensação de que na vida não temos garantia de nada. Quem pode garantir que vai ou não vai adoecer?… Quem pode garantir que chegará à velhice? Não é possível saber a data que vai morrer… Ainda, como nos manter motivados diante de tantas incertezas e construir coisas para um amanhã que talvez não venha ou pelo qual não se poderá usufruir? A única garantia que podemos ter é de como podemos reagir diante dessas circunstâncias. E para isso é preciso ter fé em um futuro, é preciso acreditar e ter esperança na humanidade para que essa luz possa iluminar todas as nossas incertezas interiores.

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Há um consenso de que o cenário geopolítico mundial prenuncia um colapso. Nas últimas décadas, muitas guerras e rebeliões explodiram nas quatro partes do mundo tuteladas por ideologias intolerantes e egoístas trazendo uma memória histórica da qual, certamente, não gostaríamos de reviver por todas as dores e sofrimentos que trouxeram a toda humanidade. Por outro lado, também, percebemos nossos Chefes de Estados desnorteados, estimulando políticas dentro de seus países que segregam mais do que harmonizam as suas populações. Como consequência, temos uma sociedade com várias patologias oriundas do que há mais de instintivo e perverso no ser humano. Diante disso, como manter a serenidade e construir um mundo melhor para as próximas gerações confiando no que há de melhor da humanidade? A retração de todas as atividades econômicas, a necessidade de ficarmos mais em casa e conosco mesmo nos possibilitaram uma busca por aquietar a mente. Sem tantos elementos para nos dispersar, o que nos restou foi olhar para dentro… Esse movimento interior nos ajudou a descobrir que para se adequar às necessidades atuais e se preparar para um novo mundo que se descortina, é preciso confiar, acreditar numa força que não está fora, mais dentro de cada um de nós.

Diante desse panorama, a religião precisou reinventar as suas cerimônias. Líderes religiosos trocaram os seus púlpitos pelas transmissões das mensagens através das rádios, Tvs e até lives nas redes sociais. Os encontros físicos foram substituídos pelos virtuais, algumas cerimônias foram adiadas, outras mantidas só em caso emergencial. Com os cultos, as missas e os encontros coletivos suspensos, cada religioso precisou encontrar dentro de si o seu próprio templo e estabelecer um contato com o Divino independente da aproximação física dos sacerdotes ou dos “lugares sagrados” . E o que se percebe é que este período de quarentena oferece uma rica e profunda oportunidade de ressignificação para o sentido religioso. Lembremo-nos que a etimologia de palavra “religião” vem do latim, RELIGARE, que significa atar novamente ou religar ao sagrado. Esse sagrado não está fora, não está nas paredes ou nos objetos de um templo, mas dentro de cada Indivíduo. Esse é o momento de olhar para dentro, se conectar com o nosso sagrado interior e ter fé em um futuro que não tardará em vir.

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Mas o que é ter fé no futuro? O que é confiar em nós mesmos e na humanidade? Como podemos contribuir para um futuro melhor para todos a partir de agora? São perguntas que o homem médio de hoje precisará responder. Pois, se tem uma coisa que todos nós concordamos é que a nossa geração terá grandes desafios daqui para frente diante de um novo mundo que está se descortinando. A quarentena mundial decorrente da pandemia do coronavírus nos trouxe à realidade um panorama que não só expôs as nossas feridas sociais, mas escancarou as feridas do homem pós-moderno que sem ideias e princípios sólidos, no alto de sua amoralidade e amante de uma materialidade inócua, expôs as suas fragilidades e incapacidade de lidar com as verdades sólidas da vida, como a impossibilidade de controle diante da velhice, da enfermidade e da morte. Prerrogativas das quais fazem parte da condição humana e já tratadas largamente por grandes filósofos ao longo da existência da humanidade. Quem não lembra da história do Siddartha Gautama, o Buda, que compreendeu plenamente o sentido da vida após acolher que nenhum homem pode escapar dessas três “terríveis pragas”? O exemplo de Buda nos deixou como legado um caminho de esperança e perspectivas colocando um sentido profundo na existência humana, lhe trazendo uma finalidade.

Só consegue sonhar com o futuro quem desenvolve uma fé interna, quem acredita que a vida não é fruto de um caos. Pois, acreditar que há uma inteligência que rege e harmoniza todos os fatos e acontecimentos não é só necessário, é vital para a própria condição humana porque traz um sentido real, uma finalidade para a existência. O termo Fé vem do latim “fide” e significa a confiança incondicional em algo que não se pode provar cientificamente. Longe de ser uma fantasia, ou um termo restrito ao âmbito religioso à revelia de uma lógica racionalista, a fé é um fenômeno desenvolvido no interior de cada um. Só a conhece quem se permite aprender através dos sentidos e não da lógica. Quem tem fé, tem serenidade para enfrentar as adversidades. Sabe que a vida é composta por ciclos, e como todo ciclo passa, esse que estamos vivendo também passará. A fé produz uma mente estável, que nos ajuda a ler os fatos e aprender com as experiências, fazendo com que canalizemos nossas forças para construir um futuro sem negligenciar o presente. A pacificação mundial depende da superação de conflitos de cada país, mas nada disso é possível se não houver uma reconstrução integral do ser humano, no sentido de recompor o esfacelamento caótico em que ele se encontra.

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O momento atual de crise e confinamento na quarentena que todos nós estamos imersos é, sem dúvida, muito difícil, mas também muito especial no tocante a uma mudança de eixo e possibilidade de superação de vários paradigmas. O medo e as incertezas pelos quais somos tomados podem guardar em si grandes mistérios e segredos. Que o momento nos permita buscar a juventude da alma em vez de querer a todo custo retardar a chegada da velhice dos nossos corpos, que acolhamos as doenças compreendendo que toda a enfermidade deriva de uma falta de equilíbrio e harmonia entre a necessidade e o querer a qualquer custo, que o nosso medo da morte seja substituído pela busca da imortalidade consciente de nossas práticas diárias baseadas nas virtudes. Sejamos fortes e virtuosos para construir um novo mundo pós-pandemia, não por nós, mas pelos nossos filhos, sobrinhos e todas as crianças que esperam para atuar na história. Tenhamos fé, confiemos no futuro que virá, e que será escrito e construído por nossas mãos.

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