O Segredo da Flor de Ouro

Uma leitura imperdível para quem busca autoconhecimento

Se você trabalhasse em uma biblioteca e tivesse que alocar este livro em alguma estante, certamente teria dificuldade em decidir a classificação: psicologia, filosofia, simbologia, história, epistemologia, teologia, psiquiatria ou religião? “O Segredo da Flor de Ouro” é uma obra transversal, ou seja, abarca múltiplas áreas do saber, por isso é de leitura imprescindível a qualquer um que se proponha buscar o conhecimento.

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No campo da psicologia, o livro dá uma enorme contribuição à abordagem analítica, já que explora aspectos muito sutis do inconsciente. Na simbologia, é um achado precioso, pois traduz um velho texto chinês, Tai I Ging Hua Dsung, que gira em torno do símbolo mandálico “a flor de ouro”, o qual é encontrado em inumeráveis culturas e tradições, em épocas diversas e localizações geográficas incomunicáveis entre si. No campo da história e da epistemologia, os comentários de Jung contribuem enormemente para os interessados na crítica do processo histórico, sobretudo no que se refere ao desenvolvimento do iluminismo no ocidente, em paralelo aos avançados dos sistemas de conhecimento do oriente. Na filosofia, teologia e ciências da religião, a contribuição é enorme também, pois o texto chinês e os comentários dos tradutores provocam uma reflexão profunda sobre essa ligação entre o homem e o divino, o homem e o sagrado. A escrita do autor apresenta todos esses elementos sem assumir inclinações religiosas, e nem atéias, mas com o olhar que só um bom filósofo consegue ter.

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A obra nasceu da inquietação do conhecido psiquiatra, psicólogo e psicoterapeuta C. G. Jung. No começo do Século XX, Jung era um psiquiatra muito preocupado com o inconsciente, inclusive foi amigo de Freud, com quem dividiu muitas das suas preocupações. Ele tinha uma característica interessante, dava muito valor ao que seus pacientes esquizofrênicos falavam. Enquanto a maioria dos psiquiatras estavam interessados apenas no tratamento mais denso das patologias, como administração de medicação, aplicação de testes e métodos invasivos, Jung focava nos aspectos mais sutis. Então, o conteúdo das conversas dos pacientes, os desenhos dos pacientes, as danças, os trejeitos, tudo isso interessava muito a Jung. Ele queria entender algo mais profundo, queria chegar à psique do paciente.

Dessas observações, ele começa a notar que o conteúdo dos sonhos, dos desenhos, das danças, e das narrativas por vezes sem nexos, coincidia com o conteúdo de velhos mitos e símbolos espalhados por várias culturas e tradições. É daí que começa a vislumbrar a hipótese de que dentro do nosso inconsciente há uma espécie de espaço onde se encontram registros que não são da nossa individualização, ou seja, não são provenientes da nossa própria construção biográfica, mas que provavelmente são de uma construção coletiva, de toda a humanidade. Essa hipótese de Jung, conhecida hoje como “inconsciente coletivo” nunca conseguiu ser superada até hoje, pois faz muito sentido.

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Entres os símbolos recorrentes nos desenhos dos pacientes de Jung, havia um que lhe intrigava muito, era um desenho mandálico geometricamente ordenado, em geral com uma flor no centro, no entorno do qual todos os detalhes da periferia se concentravam. Um certo dia, um amigo dele, o alemão Richard Wilhelm, que era sinólogo, teólogo e missionário na China, e que gostava de traduzir textos antigos do chinês para o alemão, lhe presenteou com a tradução de um velho texto chinês “O Segredo da Flor de Ouro”. Isso deixou Jung muito entusiasmado, pois aquele texto milenar lançava luz sobre todos os seus estudos a respeito do inconsciente coletivo. Sobre isso, Jung diz no prefácio da segunda edição da obra:

“Os resultados a que chegara, baseados em quinze anos de esforços, pareciam flutuar, sem qualquer possibilidade de confronto. Nenhum campo da experiência humana poderia proporcionar algum apoio ou segurança aos resultados obtidos. (…) O texto enviado por Wilhem ajudou-me a sair dessa dificuldade, pois continha justamente os aspectos que eu buscara em vão (…).” (C. G. Jung, O Segredo da Flor de Ouro, prefácio da segunda edição)

O encontro dessa magnífica obra da cultura chinesa com uma mente tão preparada intelectualmente como a de Jung é o que torna o livro magnífico, pois isso permite que o nosso jeito de pensar ocidental, tão técnico, tão científico, tenha uma oportunidade de se encontrar com a intuição e a sabedoria milenar da cultura chinesa.

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Ao longo do livro, você vai aprender sobre o conceito do “Tao” chinês, que tem a ver com a união entre a consciência e a essência, já que o nosso modo ocidental de viver acaba nos conduzindo a uma desconexão constante da consciência. Ler esse livro é um exercício de autoconhecimento, que desperta em nós o contato com o que há de mais profundo em nosso ser, permitindo-nos revelar em nossa existência esse inconsciente sublime, que tenta se expressar o tempo todo. É uma obra imperdível.

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