O Mito de Prometeu e o Enigma da Condição Humana

Você já ouviu falar no mito de prometeu, o titã que roubou a chama dos deuses e a entregou aos humanos? E quais os símbolos estão contidos nesse antigo mito grego? Será, afinal, que temos algo a aprender com uma história tão antiga quanto essa? Responderemos a essas indagações e outras tantas no texto a seguir. Prontos para embarcar em mais uma aventura mitológica?

Antes de nos debruçarmos sobre o simbolismo deste mito é fundamental conhecermos sua história. Portanto, voltemos no tempo até uma era longínqua, em que os seres humanos ainda viviam em um formato semianimal. Sem a capacidade de produzir fogo, suas noites eram frias e consumiam carne crua, além de viverem com medo da escuridão da noite. Do alto do Olimpo, os deuses apenas observavam a humanidade em seus primeiros passos e, a bem da verdade, quase ninguém sentia pena da condição em que vivíamos. 

Entretanto, entre todas as divindades, existiu um ser que olhou para o ser humano e percebeu seu grande potencial. Seu nome era Prometeu, e este tinha a capacidade de enxergar o resultado de todas as ações, sejam de homens ou de deuses. Com esse poder, conta-se que Prometeu viu algo especial na humanidade, que sua capacidade seria tamanha um dia quanto a dos próprios deuses, mas que para isso precisaria de ajuda.

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Sendo assim e arriscando sua própria existência, Prometeu foi até o Olimpo e roubou um pouco das chamas sagradas que habitavam aquele local sagrado. O fogo, até então, era uma exclusividade divina, que somente os deuses sabiam manipulá-lo corretamente. Prometeu então desceu até os seres humanos e apresentou a eles o fogo. A novidade rapidamente se alastrou por entre os vários agrupamentos humanos e, de uma em uma, diversas fogueiras foram acendidas ao longo do tempo. 

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O brilho das chamas se destacavam na escuridão, e os deuses, que  tudo sabem, observaram de longe os pontos de luz em diferentes partes da Terra. Assim, notaram que a humanidade estava manipulando o fogo, mesmo que de forma ainda tímida. Porém, como já falamos, o fogo era uma dádiva dos deuses, e não cabia ao humano ter essa grande ferramenta. Então Zeus, o deus dos deuses, procurando compreender a situação, investigou e chegou até Prometeu. Este não tentou se defender e afirmou que fez isso conscientemente, uma vez que viu o esplendor da humanidade quando dotada do fogo.

Zeus decidiu punir Prometeu por sua transgressão. Como punição, o titã foi acorrentado em um penhasco e todos os dias uma ave comeria o seu fígado. À noite, o órgão iria se regenerar e assim o sofrimento vivido pelo titã seria eterno. O fogo, porém, continuou com os humanos. Prometeu, mesmo acorrentado e sofrendo pela sua ação, sabia que não sofreria eternamente, uma vez que alguém vindo da humanidade o salvaria. Essa pessoa foi Hércules, que segundo a própria mitologia grega, foi um dos poucos humanos que conseguiram um lugar no  reino dos deuses olimpianos. Ao realizar os seus doze trabalhos, Hércules encontrou Prometeu e o libertou, quebrando assim o ciclo de sofrimento. 

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E quem seriam Prometeu e os deuses? São etapas evolutivas do próprio homem. O mito nos diz que a evolução é tomada à força, ou seja, se cruzássemos os braços e ficássemos aguardando o crescimento, ele nunca chegaria. Assim, uma faceta mais evoluída de nós, representada por Prometeu, rouba o fogo dos deuses, ou seja, arranca à força para nós algo que nos seria dado mais à frente, que é essa capacidade de pensar, conjecturar, calcular e projetar.

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Quem seria então Zeus? Ele representa a força misteriosa do destino, do plano de evolução para toda a humanidade. Esse grande destino cósmico submete Prometeu a consequências adversas, proveniente do encontro do “fogo” com a natureza animal do homem.

A potência da atividade mental, se dominada pelos desejos animalescos que habitam em nós, acorrentam-nos no alto de uma montanha e nos submete a um sofrimento muito cruel. Essa cena da ave comendo o fígado de Prometeu durante o dia, e que à noite se regenera para no dia seguinte ser de novo devorado, representa a nossa condição de reféns das ilusões e das paixões. Esse aspecto nos remete a outro mito da cultura grega, que é o mito da caverna contado por Platão, no livro “A República”. Trata-se de uma sociedade de humanos acorrentados no fundo de uma caverna, para os quais toda a percepção da realidade se reduzia às sombras projetadas na parede, pela iluminação de uma fogueira acesa no interior da caverna. Esses dois mitos estão falando da mesma coisa.

Prometeu é como um dos cativos da caverna de Platão, que chegou a sair da caverna, viu a luz da evolução e retornou para libertar os outros. Mas ao chegar lá no fundo da caverna novamente, foi acorrentado. Esse movimento de evolução e involução é muito recorrente na história humana. Às vezes, erroneamente olhamos para a história como uma linha evolutiva contínua, em que os mais primitivos são involuídos e os atuais, mais evoluídos. No entanto, as descobertas arqueológicas apontam muitas vezes para o contrário disso. A simbologia egípcia, por exemplo, dá sinais de que em uma época remota houve uma civilização ali com valores infinitamente mais evoluídos que os nossos.

Portanto, todos temos dentro de nós esse Prometeu, que habita o mundo dos deuses, mas está acorrentado às paixões que lhe devoram o fígado diariamente. Isso quer dizer que ainda estamos presos na ilusão das sombras, cheios de vícios, de egoísmos, enquanto uma enorme potência jaz adormecida dentro de nós.

A libertação dessa condição somente é possível a partir de outra faceta que também existe dentro de nós, que é representada no mito por Hércules. Esse aspecto em nós representa a nossa capacidade de lutar, capturar e subjugar a força animal que nos habita. Observe que todos os doze trabalhos de Hércules na mitologia representam exatamente isso, a luta para vencer monstros animalescos, como o Leão de Nemeia, que ninguém conseguia matar, ou a Hidra de Lerna, que era uma serpente com corpo de dragão e com nove cabeças, a Corça de Cerineia, que era extremamente veloz e nunca se cansava, entre outros seres mágicos. Todos esses monstros são representativos dos impulsos que nós temos para os vícios, as ambições, os desvios de caráter, as paixões etc. Só uma natureza hercúlea pode nos libertar. É preciso vencer esses monstros, capturá-los, dominá-los, pois só isso nos permitirá partir as correntes das ilusões e sair da caverna, tornando-nos o Prometeu livre.

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O mito de Prometeu abre um portal para uma percepção profunda da potência que somos. Como deuses acorrentados, somos corroídos dia a dia pelas paixões até despertarmos o Hércules em nós. Esse guerreiro que subjuga as forças primitivas dos vícios, e nos devolve a liberdade que só os deuses têm, nascerá em nós no momento em que decidirmos lutar contra essas ilusões de uma vida superficial.

Esse é o futuro da humanidade na teogonia grega. Evolução, nas entrelinhas da mitologia, significa libertação das paixões. É um erro confundir evolução com avanço tecnológico, pois as tradições nos dizem o contrário. Evolução, para todas as antigas tradições da humanidade, está relacionada a conquistas morais. Isso está em todos os livros sagrados e na maioria das narrativas míticas contadas ao longo de milhares de anos. Enquanto concentrarmos riquezas em pequenos grupos, em detrimento do resto da humanidade que padece de fome, enquanto alimentarmos padrões de existência predatórios das condições ambientais, enquanto nos digladiarmos pelo poder a qualquer custo, seremos Prometeus acorrentados no alto do monte Cáucaso, que mesmo em uma posição de altura, cercados das mais avançadas parafernálias tecnológicas, seremos corroídos todos os dias pelas paixões mais abjetas e primitivas. O futuro da humanidade está em sua condição de Hércules, caracterizada pela conquista sobre suas inclinações monstruosas. Então, já é tempo para cada um de nós iniciar essa jornada heroica e começar a lutar contra os nossos monstros internos.

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