Filémon e Baucis eram um casal de idosos muito pobres da Frígia, sobreviviam com pouca comida e pouquíssimas posses, dentre elas um ganso que criavam como estimação. Certo dia, os deuses Zeus e Hermes decidem testar os homens, então se vestem de viajantes e passam de casa em casa pela Grécia à procura de hospitalidade, um pouco de comida e um local para descansar. Por onde passam, todos negam recebê-los em suas casas, o que só aumenta a ira de Zeus. Até que, após um longo percurso, ao chegarem na Frígia, se direcionam à casa de Filémon e Baucis, que imediatamente ao vê-los, convidam-os para dentro de sua casa. Ao adentrarem na casa pobre, o casal começa a arrumar a mesa com todos os alimentos que possuíam, assim como Baucis prepara a carne de seu único animal, o ganso, para servi-los. Preparam suas melhores toalhas, taças e pratos, arrumam a mesa como um verdadeiro banquete, dentro de suas possibilidades, e ofertam aos deuses disfarçados. Ao final, preparam um ambiente para que os mesmos possam descansar após a longa viagem.
Com o ocorrido, Zeus é tocado pela humildade e generosidade dos anfitriões, e logo se apresenta como divindade, oferecendo realizar qualquer pedido que desejarem. O casal, simples de natureza, pede apenas para que possam viver servindo aos deuses do Olimpo, e assim é feito.
Este mito resgata a ideia da verdadeira hospitalidade, o bom anfitrião não é aquele que por ter de sobra em sua casa oferta a alguém, mas sim aquele que dá o melhor de si com o que tem. Essa hospitalidade nos conecta a duas virtudes muito especiais, a generosidade e a humildade. Generosidade tem como raiz a ideia de gerar, pois a verdadeira generosidade consiste em dar algo que não se tem, ou seja, gerar para dar. Dar algo que se tem de sobra na sua vida para ajudar alguém é fácil, mas criar as condições que ainda não existem para ajudar alguém, aí está o valor da virtude. Zeus é tocado pelo ato generoso do casal, afinal mal tinham comida e bebida, e o que tinham guardado que os sustentariam por dias, ofertaram de prontidão aos deuses. A expressão da generosidade é justamente essa, apenas dar, sem considerar consequências, sem pena, sem avareza.
Muito inspirador também no mito é a humildade do casal em receber os dois viajantes cansados e esfomeados, sem se sentirem superiores a eles, diferente de todas as outras casas por onde passaram. Filemon e Baucis recebem os dois com um banquete digno de deuses, mesmo sem saber sua origem olimpiana. A verdadeira humildade permite que nunca nos coloquemos acima de ninguém, e que tratemos todos como se fossem pessoas especiais, simplesmente porque são…
O desejo concedido por Zeus foi a retribuição de um ato generoso, como já ouvimos muito “é dando que se recebe”. Nada em nossa vida passa despercebido, qualquer gesto puro, limpo, com boas intenções, com virtudes, de alguma forma nos direciona a algo, nos direciona ao serviço dos Deuses, ao Olimpo, à melhor esfera que podemos alcançar como homens dentro de nós mesmos.
A grande lição que o casal de idosos deixa para nós é a mesma que vários outros mestres ensinaram ao longo da história: “Fazer o bem sem olhar a quem”, ou seja, ser bom não por recompensa ou por desejo de reconhecimento, mas sim por identidade. Ser tão identificado com a generosidade e com o serviço aos demais até que isso seja uma parte sua, que você e o Bem se tornem uma coisa só. O casal não passou a morar no Olimpo, junto aos deuses, por uma sorte ou uma premiação. Eles subiram aos céus pois já eram a encarnação da virtude, ou seja, já viviam como deuses.
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