Salvar Vidas ou a Economia? A pergunta mais injusta do momento

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Não sei se você se lembra, quando nas aulas de história o professor explicava sobre a “Quinta-Feira Negra”. O dia 24 de outubro de 1929 marcou a história por causa do famoso crash na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Este evento econômico foi tão grave que deu início aos 12 anos da Grande Recessão, que foi o pior e mais longo período de recessão econômica em praticamente todos os países do mundo. Bem, os especialistas consideram esta a pior crise da história, pois ninguém viveu ainda os anos pós crise de 2020. Sem dúvida nenhuma, este período será ainda mais marcante para a história mundial.

O nosso mundo tem vivido sob muita tensão. As mudanças de governo que aconteceram nos últimos anos, em vários países do mundo, têm trazido muito receio de que esses novos líderes, tão polêmicos em suas palavras e ações, entrem em conflito com outros líderes que são igualmente polêmicos. Em janeiro de 2020, o mundo todo se preparava para uma nova guerra por causa da tensão entre Irã e EUA. Fora isso, há décadas muitos alertam sobre o risco de alguma “reação” da Natureza, como consequência da tamanha poluição gerada pelo Homem. Bem, motivos para nos preparar para uma crise nós sempre tivemos, mas o que ninguém havia previsto foi que um ser minúsculo como um vírus iria parar o mundo todo. Na verdade, algumas pessoas previram, como foi o caso do biólogo Atila Iamarino e do bilionário Bill Gates.

Bill Gates – palestra em 2015

Atila Iamarino – podcast em 2015

Ninguém sabia que isso aconteceria, mas aconteceu. Agora não adianta mais olhar para trás. Precisamos pensar no “daqui pra frente”. O caminho está sendo muito difícil para o mundo todo, e o pior de tudo é que, logo ali na frente, o que nós encontramos é uma bifurcação e teremos que escolher uma das duas rotas:

  • Manter o isolamento
  • Ou retomar a atividade econômica.

Qual é a melhor opção?

Esta é uma situação extremamente complicada e poucas vezes na história os chefes de estado tiveram que tomar decisões tão críticas quanto esta. Então, já podemos dar uma coisa por certa: não existe “melhor opção”. Só temos duas opções ruins pela frente. Na primeira delas, nós arriscamos a economia para tentar reduzir o número imediato de mortos. Na segunda delas, nós arriscamos aumentar o número imediato de mortos, na tentativa de reduzir os danos na economia.

A princípio, parece ser uma decisão muito simples do ponto de vista ético, não é? Muitos estão pensando neste momento: “Vidas ou Economia? Somente uma pessoa desalmada teria dúvidas. Claro que precisamos escolher salvar vidas. Depois pensamos na economia”.

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Acontece que, se as escolhas fossem assim tão simples, nós nem teríamos um problema. A forma simplista e irresponsável que muitas vezes essa questão tem sido apresentada, não passa de uma estratégia de manipulação de muitos veículos de mídia. Impor a questão “Vidas ou Economia?” é uma falácia conhecida como falsa dicotomia.

Uma grave crise na saúde com milhares de mortos afeta muito a economia. E uma grave crise econômica também afeta muita a vida das pessoas. E não é só a vida dos ricos e empresários que será prejudicada, como muitos tem até comemorado. Ou essas pessoas fazem isso por maldade ou por pura ignorância. A lógica é muito simples: Se uma empresa encerra as suas atividades, ela joga vários desempregados no mercado de trabalho. E se esta primeira empresa era um importante cliente de alguma outra empresa, é possível que esta última também venha a falir. E se isso acontece com muitas empresas, o número de desempregados será enorme e o de empresas contratando muito menor, ou seja, não haverá trabalho para todo mundo. E esses desempregados, se antes contratavam empregados domésticos ou babás, por exemplo, terão que demiti-los também. E aqueles que estão no mercado informal, como os vendedores de rua, que muitas vezes dependem do dinheiro que ganham durante o dia para poder comprar o jantar, esses terão suas vendas reduzidas de forma drástica com a economia desaquecida e com muitas pessoas precisando cortar gastos. E o que acontece com essa massa de pessoas sem fonte de renda, mas com as mesmas necessidades de pagar seu aluguel, suas contas e levar alimento para seus familiares? É difícil imaginar que muitos deles irão cair na criminalidade?

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Então é óbvio que uma crise econômica é ruim para todos, mas é terrível principalmente para os mais pobres. Não dá para simplificar. Infelizmente, uma crise econômica também resulta em mortes.

Então a saída é fingir que esta é só uma gripezinha e voltar tudo ao normal?

Claro que não. Ignorar que esta pandemia é a mais grave em pelo menos 100 anos é uma tremenda irresponsabilidade, que também pode custar vidas. As medidas que tomamos até agora ajudaram a amenizar o avanço do vírus em nosso país.

Então a saída é o governo pagar o auxílio para que todos fiquem em casa?

Não é tão fácil assim. Se isso fosse possível de se fazer sem nenhum critério, poderíamos acabar de vez com essa ideia de trabalhar, e o governo nos pagaria um auxílio para o resto da vida. O dinheiro tem que sair de algum lugar. E se não tiver em caixa, ou o governo pede emprestado para algum outro país (que também estará em crise e sem dinheiro para emprestar), ou vai ter que “imprimir mais dinheiro”, que vai jogar os índices de inflação nas alturas. Ou seja, em breve, esses R$ 600,00 podem não ser suficientes para comprar nem a cesta básica durante o mês.

Então a saída é tirar dinheiro dos muito ricos, já que não vai faltar para eles?

Também não é tão simples. Sem dúvidas, se aqueles que têm mais condições ajudassem os que têm menos, o sofrimento seria muito menor. O risco que existe é, se o governo taxar muito aqueles que possuem muito dinheiro no país, eles podem transferir a sua riqueza para outro país que seja mais interessante para os seus negócios. E se isso acontecer, teremos ainda menos dinheiro rodando por aqui e a crise vai piorar mais ainda. Infelizmente essa é a realidade.

Então, qual é a saída?

Desculpe-nos se você chegou até esse ponto da leitura esperando que tivéssemos uma resposta definitiva para lhe dar. Realmente esta é uma situação difícil, e o nosso objetivo era justamente mostrar isso.

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Os governantes que deverão tomar essa decisão, precisam saber que não há saída fácil. E seja qual for o caminho que eles irão decidir para o nosso povo, a escolha irá custar muitas mortes, de um lado ou de outro. Esperamos que eles decidam pelo menos pior.

Já do nosso lado, nós, pessoas comuns, reconhecendo a dificuldade desta questão, deveríamos desenvolver um pouco mais de empatia por aqueles que têm opinião diferente da nossa. Todos nós estamos unidos nessa, então, vamos tentar entender qual é a dor do outro.

Se uma pessoa deseja prolongar o isolamento, pode ser que ela tenha um pai, uma mãe, um avô ou até um filho no grupo de risco. Não o julgue por isso, pois você também não quer perder ninguém que ama.

Se um profissional autônomo deseja voltar a trabalhar, pode ser que ele tenha uma família para sustentar e está entrando em desespero, pois já está há semanas sem ganhar o suficiente. Não o julgue por isso, você também não iria querer ver um filho seu passando fome.

Se um empresário deseja reabrir a empresa dele, pode ser que ele esteja desesperado, pois a empresa não está faturando o suficiente para continuar pagando os salários de seus funcionários. Não o julgue por isso, pois você também não quer ter que dar más notícias para pais e mães de família e vê-los chorando na sua frente quando receberem os papéis da demissão.

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Vamos parar de semear o ódio e a discórdia, pois aquele que tem uma opinião diferente da sua, não é um inimigo. É um ser humano como você, e que também está sofrendo com essa crise. Se não formos capazes de nos comover com a dor do outro, que direito teremos de criticar o bilionário que não pensa nos pobres?

Esse momento é difícil, mas também possui uma pérola brilhando no meio dessa lama. Esta jóia é justamente a oportunidade que o vírus está nos dando de percebermos que somos uma só Humanidade, e aquilo que fere a um de nós, fere a todos. Esta consciência de fraternidade é nossa única chance. Cultive-a dentro de você!

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