O coronavírus chegou em nossas cidades. Trouxe medo, pânico, mortes, caos, crise econômica… Mas ao mesmo tempo, despertou aprendizados, generosidade, altruísmo e iniciativa em todos nós. Quantos elementos para reflexão podemos extrair desse ser minúsculo que conseguiu parar o mundo em questão de semanas?
“Nada acontece ao homem que não seja próprio do homem” disse o imperador Marco Aurélio. Todo o mundo hoje está passando pela mesma experiência, e fica o questionamento do porquê estamos passando por isso. Se tudo que acontece com o ser humano é próprio dele, se é necessário para seu crescimento, como compreender qual é a necessidade deste vírus? Como enxergar um motivo mais profundo por trás desse grande caos gerado por um microorganismo? Nossa sociedade tão marcada pelas brigas entre classes sociais, etnias, discriminações sexuais, hoje está se unindo por um mesmo motivo, o combate ao coronavírus e a covid19. Todas as diferenças, rixas e preconceitos foram deixados de lado, para o combate a este inimigo incomum, que parece que, diferente dos seres humanos, não discrimina ninguém. Será esse um dos aprendizados que devemos extrair desta pandemia?
Um dos “marcos” desta pandemia foi a quarentena, na qual todos, dentro de suas medidas, se submeteram. Alguns pelo medo de adoecer, alguns por que queriam uma desculpa para ficar em casa, outros por medo de adoecer seus familiares, outros por respeito aos decretos governamentais. Independente do motivo, todos sentimos na pele o drama da quarentena.
Mas o que fazer em casa durante tanto tempo?
Uma solução muito compartilhada nos meios digitais e que muitos acataram foi de fazer planejamento do tempo. Definir horário certo para cada tarefa, definir horários de lazer, ou seja, manter o máximo possível uma rotina. No geral, são todas dicas de como ser produtivos no meio da quarentena. Porém, em meio à produtividade ou ociosidade, surgiu um fenômeno curioso, as pessoas começaram a olhar mais para si mesmas, começaram a “entrar para dentro” de si, e passaram a se redescobrir. Os que se denominavam anti sociais perceberam o quanto amavam as pessoas à sua volta, e como se alegravam de sair para encontrá-las. Outros impactados pela mudança no trabalho, passaram a se reposicionar sobre o futuro, fizeram novos planos profissionais que até então eram adiados. Alguns passaram a fazer exercícios físicos diariamente, ato que era procrastinado há anos… E outros, começaram a ficar ansiosos, a se angustiar por estarem a sós em casa, por não poder ver mais as pessoas, por não sair, e por ter que ficar em silêncio.
E mesmo cumprindo uma rotina de home office, de treinos, de filmes online, ainda assim sobrou um tempo para o silêncio. Parece que a quarentena nos forçou a ficar a sós conosco mesmos, a ter momentos de calar as vozes da nossa mente sempre atarefada com algo e de concentrar no interior. Fomos forçados a cultivar uma vida interior.
Helena Blavatsky, filósofa russa, afirma que somente quando calarmos as vozes de nossa mente ouviremos a voz que surge do silêncio, a voz da alma. Temos uma rotina diária que não estimula um contato com a alma, pelo contrário, estimula nossas preocupações, correrias e medos. Talvez agora seja o momento em que a Natureza gerou as condições para nos interiorizarmos. A angústia do silêncio surge por nossa falta de costume em ouvir este outro lado de nós mesmos, mas nesse caso, não podemos retroceder ante esse medo. Não sabemos ao certo quando a quarentena acaba, então precisamos viver um dia por vez. Que tal conhecer-nos um pouco mais também um dia por vez? Ficar em silêncio, fazer uma reflexão, fazer síntese das experiências, observar como andam as emoções nesse turbilhão de notícias… e anotar tudo num diário para que, no futuro, você possa perceber o quanto cresceu com isso tudo.
Será essa a maior reflexão sobre o coronavírus? Será que esse é o momento próprio do homem viver, como disse Marco Aurélio? Há uma chance de estarmos equivocados quanto a essas ideias, mas só teremos um jeito de descobrir, testando! Ou melhor, silenciando! Então, sigamos em frente!