Durante o período colonial no Brasil, ocorreram várias revoltas com interesses separatistas, como a Inconfidência Mineira em 1789, a Conjuração Baiana em 1798, mas de todas, a Revolução Pernambucana de 1817 foi a única que chegou a se consolidar, e por 70 dias o Estado de Pernambuco se separou da colônia portuguesa e se tornou a República de Pernambuco.
A data em que começou essa revolução foi o dia 06 de março de 1817, daí instituiu-se o feriado da Data Magna, a fim de manter viva a memória desse fato histórico.
Nós, na altura do atual Século XXI, nos perguntarmos: o que isso tem a ver conosco? De que modo nos toca? Quanto evoluímos de lá para cá? O que realmente é importante nesse fato é entendermos os motores por trás desta revolução, as inspirações, os ideais que embalaram os acontecimentos. Por isso precisamos refletir sobre alguns pontos.
A primeira coisa que percebemos é que a data do acontecimento, março de 1817, avizinha-se historicamente de revoluções em outros países, que sem dúvida serviram como influência, como motor para o fato. Em 1775 ocorreu a Revolução Americana, em 1789, a Revolução Francesa, as quais faziam oposição a um paradigma de governo monárquico, à ideia de um Estado centralista e defendiam ideias de republicanismo, democracia, liberdades, igualdades, etc.
Essas ideias, em seu nascedouro histórico, eram tão arrebatadoras que os idealistas que conseguiram alcançá-las se comprometeram ao ponto de darem a vida por elas. Tais ideias se visualizam no corpo da Lei Orgânica da Revolução de 1817. Dentre seus artigos destacam-se: liberdade de consciência, tolerância religiosa, liberdade de imprensa, entre outras. Era uma tentativa de democracia e constitucionalismo.
Na atual posição histórica, podemos olhar para trás e ver o caminho que essas ideias trilharam em nosso país. Os fatos históricos subsequentes, como abolição da escravatura, proclamação da república, surgimento das constituições são frutos desses ideais.
Daí constata-se que o curso da história é embalado pelas ideias. O que move a história são ideias. A realidade é tal qual os homens acreditam que seja. Se quisermos mudar a história, temos que começar a mexer nas ideias. A economia, o desenvolvimento humano, a transformação do espaço, o surgimento das cidades, tudo isso está intrinsecamente relacionado com a cabeça do ser humano e com os mitos que fundamentam a sua forma de pensar e de agir.
Esse é o sentido da Data Magna, ela nos lembra que os ideais que vem costurando o curso dessa história estão vívidos até hoje. Diante disso, a reflexão que podemos fazer é que, se essas ideias que nos movem não têm nos conduzido a um Estado ideal, há algo de errado com o jeito como lidamos com elas. Se falamos de liberdade pelo menos desde 1817, e o que temos hoje em dia é uma sociedade cada vez mais presa e limitada, se falamos de igualdade há duzentos anos e o que temos é um abismo enorme entre as pessoas, há algo de errado em nossas elaborações. Precisamos refazer a leitura do que é liberdade, do que é igualdade, do que é democracia, do que é Estado. Precisamos rever nossas crenças, e talvez tenhamos que voltar à antiguidade clássica para procurar no subterrâneo da filosofia antiga e das tradições as ideias mais raras e preciosas, sem as quais não conseguiremos sair do abismo em que caímos.
Fica para nós o ensinamento: Se quisermos mudar o mundo, precisamos começar por nós mesmos. Se quisermos mudar a nós mesmos, precisamos mudar as nossas ideias. E se quisermos compreender as melhores ideias, não podemos ignorar as grandes mentes que dedicaram suas vidas em nome disso: Platão, Sócrates, Confúcio, Vyasa e tantos outros grandes sábios da antiguidade. Esta é uma forma prática de se fazer Filosofia.