Filme “Um Sonho Possível”: O Poder Transformador do Amor

O filme The blind side (o lado cego), intitulado em português “Um sonho possível”, estreou há exatamente 10 anos, mas trata de um tema muito atual: a desigualdade social, e como seres humanos que estão à margem da sociedade, muitas vezes, precisam somente de uma oportunidade para mostrar seu talento e mudar sua história. 

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Baseado em fatos reais, o filme conta a história do jogador de futebol americano Michael Oher, e como ele foi adotado por Leigh Anne Tuohy, que lhe deu educação e possibilitou sua escalada no mundo do esporte através de amor e incentivo. O filme é inspirador não somente por se tratar de um acontecimento real como também por nos mostrar a verdadeira natureza humana, voltada para sua melhor expressão de bondade e generosidade.

Com roteiro inspirado no livro The Blind Side: Evolution of a Game, de Michael Lewis, “Um Sonho Possível” se inicia com o encontro entre Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock) e Michael Oher (Quinton Aaron), quando ele ainda era um jovem sem direção. Filho de uma mãe viciada que o abandonara, Michael não mantinha uma boa frequência na escola e vivia fugindo dos lares adotivos. Apesar de uma infância difícil, o jovem demonstrava ter um bom coração e muita doçura. Em uma noite fria, ao vê-lo perambulando pela rua e reconhecê-lo por ser aluno da escola onde seus filhos também estudam, Leigh o leva pra casa e aos poucos vai integrando-o a família.

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A princípio, esta mulher bondosa, num mundo onde a bondade parece ser algo raro, enfrentou muitos julgamentos e resistências à sua decisão por parte da sociedade, tudo isso por causa tanto da real motivação de Anne quanto do julgamento precipitado do caráter do rapaz. Mas todas estas dificuldades são encaradas pela família Tuohy com muita leveza, amor e boa vontade. Assim, ele inicia os estudos em um colégio conceituado, e mais tarde começa a jogar futebol americano. No decorrer do filme, vemos que o apreço – e logo o amor – que se desenvolve entre eles é verdadeiro e crescente. 

Os confrontos vividos por Anne ocorrem conosco quase diariamente e muitas vezes impedem o nosso impulso de bondade. Vamos colocar em exemplos: alguma vez você já sentiu vontade de ajudar alguém, mas desistiu? Mesmo algo simples como ajudar uma pessoa a atravessar a rua, dar informação para alguém que está perdido ou qualquer ato banal nesse nível? O que nos faz ir de encontro a esse desejo de ajudar o próximo? Os motivos podem ser inúmeros, mas um dos mais conhecidos é o medo do julgamento social. Ficamos preocupados com o que vão pensar de nós, se seremos recompensados com um elogio ou um simples obrigado, e, infelizmente, também se faz presente o famoso pensamento “isso não é minha obrigação”.

Todos esses motivos são, na verdade, fugas que nós mesmos geramos para impedir esse impulso natural da bondade. Somos inclinados a fazer o bem, a sermos colaborativos, e em um meio natural, sem regras e status sociais, é provável que fôssemos mais próximos dessa virtude. Basta perceber que ao ocorrer um desastre ambiental, em que centenas ou mesmo milhares de pessoas sofrem com falta de comida, água e abrigo, há uma verdadeira comoção natural para ajudar aqueles que necessitam. As pessoas se organizam em entidades, governos e até mesmo de forma anônima para atender as necessidades alheias, provando que essa capacidade de ser generoso, ou seja, de gerar para doar, é própria de nossa mais bela natureza. Sendo assim, por que ainda sofremos tanto e histórias como a de Anne nos parece ser quase um conto de fadas?

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A explicação mais óbvia está na própria maneira em que construímos nossa sociedade atual. Voltados cada vez mais para a competição, para a autoproteção e movidos pelo medo e pela ganância, ter uma atitude de dividir o lar, a comida e trazer um “estranho” para a sua família vão de encontro a todos os valores cultivados em nosso tempo. Sendo assim, as ações de Anne podem ser vistas como um sintoma de loucura, afinal, ela estaria colocando em “risco” sua família ao aceitar um desconhecido em sua casa. 

Infelizmente, esse não é um pensamento isolado, mas todos nós provavelmente já consideramos isso como um ato irracional, pois não conseguimos entender as razões que levariam uma pessoa a fazer tal ato. Isso fala mais sobre nós do que imaginamos, pois demonstra nossa incapacidade atual de pensar a partir de uma virtude. Quando usamos nossa mente de forma altruísta, ou seja, voltada para ajudar e solucionar os problemas alheios, é natural que a virtude seja um guia para as nossas ações. Nesse sentido, uma pessoa virtuosa entende que primeiro se pensa no outro, em como pode ajudar os demais e não a si mesmo somente. Se achamos essa ideia tão “surreal”, é porque nossa mente está contaminada pelo egoísmo, que é uma expressão natural dos nossos instintos.

Isso não nos torna pessoas más, afinal, não é um crime pensar na sua autopreservação, seja física, emocional ou de qualquer outra natureza. Entretanto, devemos aceitar o fato de que a nossa verdadeira natureza não parte dos nossos instintos, pois se assim o fosse seríamos similares aos mais bestiais dos animais, que só buscam sua reprodução e preservação. Assim, os seres humanos podem ir muito além disso, sendo capazes dos mais belos atos de amor, bondade e generosidade; pois é através da razão, da capacidade de discernir e ter consciência de suas escolhas que podemos tomar novos rumos, fazer novas trilhas e chegar ao centro do nosso ser. Isso nos diferencia completamente de qualquer outro ser no Universo e nos possibilita superar o aspecto instintivo que há em nós. Além disso, superação desse estado nos faz viver de maneira mais autêntica, sem estarmos aprisionados em formas mentais que estão pautadas pelos instintos.

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O filme também nos mostra qual é a realidade dos amigos e vizinhos de Michael antes dele ser adotado, e fica claro que o garoto é salvo de um possível destino cruel não pelo dinheiro da família Tuohy ou pela fama que adquiriu ao ser consagrado jogador de futebol americano, mas pelo amor que é desenvolvido na relação familiar. Portanto, a mensagem mais evidente do filme se apresenta nesse aspecto: o amor verdadeiro, aquele que é buscado a partir da prática da bondade, é capaz de transformar a vida de um ser humano. Michael não é fruto do dinheiro ou da caridade da família Tuohy, mas, sim, o resultado de um ser humano quando tocado pelo amor genuíno de outra pessoa.

Por isso, falamos que a virtude é uma fonte inesgotável de inspiração, pois ela irradia sua energia em todas as direções, e aqueles que estão despertos podem percebê-la de forma natural. Esse é o real motivo pelo qual a história de Michael e Anne nos toca profundamente, porque percebemos que as ações humanas guiadas pela virtude são o que, de fato, compõem a nossa natureza. Ao ver tais ações em prática no filme, nos sentimos “abraçados” por essa ideia e conseguimos compreender, mesmo que indiretamente, a força que um ato de amor possui.

Por tudo isso, “Um sonho possível” é um filme válido para nós que acreditamos que o ser humano pode sim, mesmo nos dias de hoje, de tanto egoísmo e poucos valores morais, desenvolver suas virtudes e se realizar através da fraternidade e da bondade.

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