Chegou dezembro em nossos calendários, e com ele todo o espírito natalino… As ruas já estão todas decoradas, começaram as inúmeras confraternizações, a insana busca pelos presentes de Natal nos shoppings, e os papais noéis espalhados pela cidade… Muitos já compraram as agendas de 2020, definiram suas metas para o novo ano e mal podem esperar para que 2019 termine! Todos os anos passamos por esse intenso dezembro. Todos os anos participamos da ceia em família, do amigo secreto, alguns da missa de Natal… Mas a grande pergunta é: por quê? para que? qual o verdadeiro sentido desta celebração?
Dezembro também vem com diversas crônicas e músicas sobre o Natal, além de cartas, mensagens bonitas, poesias… Nossa proposta aqui não é fazer mais um texto abordando os mesmos assuntos, mas sim trazer uma reflexão, para que possamos enxergar um significado mais profundo para esta celebração, diferente dos que já ouvimos e lemos tantas vezes.
Chegar a uma síntese desta data não é tão simples quanto parece, pois o Natal hoje é uma celebração de caráter “universal”, uma mistura de diversas tradições antigas, de origens tão diferenciadas quanto as culturas que existem no mundo hoje. A mistura de religião, contos populares, tradições européias, e mais recentemente, o capitalismo (sim, isso mesmo) geraram essa data em que comemoramos o nascimento de Jesus Cristo, a luz, o verão, e o papai noel, tudo de uma só vez! Como diz o cordelista Bráulio Bessa: “[…] vindo lá do Pólo Norte cheio de luz, Papai Noel é lembrado muito mais do que Jesus. – Oh balança incoerente, onde um saco de presente pesa mais do que uma cruz”.
Para refletirmos sobre como chegamos nesse grande mosaico de símbolos, precisamos primeiramente entender as origens. E o que não é claro para muitas pessoas, é que basicamente todas as tradições celebravam algum tipo de “natal”. Independente da religião, estas celebrações sempre coincidiam em dezembro, por causa do solstício de inverno.
O solstício acontece todos os anos, desde que o mundo é mundo, e é um evento relacionado ao posicionamento e inclinação da Terra em relação ao Sol.
A inclinação do planeta sobre o Sol pode aumentar ou diminuir a incidência de luminosidade nos Hemisférios, e no fim de ano é justamente quando há uma menor luminosidade no hemisfério norte, gerando dias curtos e noites longas, até que chega ao seu ápice, no solstício de inverno, quando acontece a noite mais longa do ano.
Agora imagine viver numa época sem tecnologia e aparelhos de previsão do tempo, numa época em que se confiava na observação dos sábios. Agora imagine-se em pleno inverno europeu, com poucas horas de claridade, seguidas de muitas horas de escuridão. Uma noite tão longa que por um período de tempo alguns até perdiam as esperanças de que o sol apareceria novamente. Nessas circunstâncias, o ser humano precisa de um voto de fé, de uma esperança de que o sol retornará. Por isso o Natal sempre foi associado ao nascimento de um salvador, de um Deus que é mensageiro da luz, daquele que traria o fim para o período de trevas. O símbolo deste salvador muda de acordo com a tradição e a religião. No Ocidente, nós falamos de Jesus Cristo, que nasce no dia 25 de dezembro, data próxima ao solstício que é dia 21. Simbolizando o Sol, Jesus veio trazer luz aos homens em meio à escuridão. Alguns símbolos presentes até hoje nas comemorações, tais como as luzes de pisca-pisca e as velas, representam a luz na noite escura.
O Natal acontece no inverno do hemisfério norte, mas aqui no hemisfério sul, estamos passando pelo solstício de verão nesta época. Devido às nossas raízes culturais de colonização, incorporamos a tradição européia sem adaptação. Por isso que, mesmo que estejamos passando pela estação oposta, nossas celebrações são feitas com símbolos do solstício de inverno.
Com o tempo, outros símbolos foram sendo agregados às comemorações natalinas, como por exemplo as lendas do velhinho bondoso que distribuía presentes às crianças. Na tradição original, se trocavam velas de presente, mais uma vez remetendo à ideia da luz. A ideia da vela era muito mais simbólica do que material. E então, já na idade moderna, a figura do Papai Noel se torna uma ferramenta de comércio, e o espírito natalino vai perdendo sua essência. A troca de presentes perde a sua tônica de busca pela luz espiritual e se torna simplesmente uma prática materialista.
Existem na história alguns exemplos que nos inspiram a resgatar a essência do verdadeiro natal. Em 1914, durante a I Guerra Mundial, soldados ingleses e franceses travaram uma batalha há dias. Na noite de 24/12, os soldados acordaram entre si uma trégua não-oficial, saindo de suas trincheiras e celebrando juntos o natal com canções e comidas. Talvez estes homens, em meio a uma guerra, com poucas chances de sobrevivência, em apenas uma noite, viveram mais o espírito natalino do que nós com nossas casas decoradas, mesas fartas e presentes debaixo da árvore.
Que possamos refletir sobre os valores e ideias por trás desta data, que possamos nos sentir contagiados nessa época do ano e estender este sentimento para o ano inteiro. Talvez este seja o verdadeiro espírito natalino, um ânimo para viver em nome dos ideais de Bondade, Amor, Generosidade e Fraternidade em nossas vidas.
Se pudermos viver este espírito com sinceridade, aí sim chegaremos ao final do ano lembrando do que verdadeiramente importa, pensando mais nas pessoas e nos ganhos conquistados por nossas almas, e não simplesmente em decorações e presentes físicos.