Se perguntarmos qual é uma das principais preocupações da sociedade humana, em diferentes momentos históricos e civilizações, muitos responderão “Educação”. Hoje em dia muito se reflete sobre este modelo de educação que não nos faz despertar para o nosso lado mais humano, mas que se confunde com um repasse de informações, e talvez por isso o filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” é assistido e reassistido ainda hoje, sendo muito eficaz em nos tocar profundamente com sua mensagem e com a beleza de sua história, e por isso é um clássico do cinema contemporâneo.
O filme americano de 1989, com direção de Peter Weir e protagonismo de Robin Williams no papel do Prof. Keating, em atuação magistral e vencedora de vários prêmios, conta a história, que se passa em 1959, deste professor de poesia e ex-aluno de uma escola preparatória para jovens, a Academia Welton, na qual predominam valores conservadores repassados de forma autoritária aos alunos, traduzidos em quatro pilares: Tradição, Honra, Disciplina, Excelência.
Na trama, O professor Keating é chamado para substituir um professor aposentado da matéria de Literatura e a partir daí começa a aplicar seu método nada ortodoxo de ensino, que logo percebemos, até mesmo pela reação dos alunos, que é muito distante daquilo que é vivenciado nos corredores da escola preparatória.
A primeira reflexão que podemos fazer sobre o filme está justamente no choque de gerações causado pela entrada do professor Keating. Rompendo com a forma tradicional de educação, o professor não somente estimula o pensamento crítico e senso de aventura dos alunos, mas lhes mostra a magia que somente a arte pode proporcionar. Nesse sentido, a forma inovadora desse docente conquista a atenção dos alunos e aos poucos os toca profundamente.
Partindo dessa ideia, não temos como deixar de destacar uma das frases mais icônicas do filme, em que o professor Keating afirma:
“Não lemos e escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana e a raça humana está repleta de paixão. Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo.”
A frase é impactante pois mostra o valor da arte perante os demais saberes humanos. Infelizmente vivemos em uma sociedade que, de maneira geral, tende a desvalorizar a arte e suas manifestações. Geralmente vista como rebeldia, o artista muitas vezes assume a máscara do “incompreendido” e se afunda em suas próprias ideias, sem conseguir ser bem-sucedido. Por outro lado, saberes mais voltados para a vida prática, tais como medicina, direito e engenharia ainda hoje se mantêm como as áreas mais valorizadas em nossa civilização. Portanto, a afirmação de Keating apela para a necessidade intrínseca do Ser Humano de expressar sua subjetividade, e a arte é o melhor modo de fazê-lo. Desse modo, mesmo que o senso comum não enxergue a arte – nesse caso, a literatura – como uma parte essencial da vida humana, ela assume o papel mais importante de todos: de traduzir tudo que nos dá razão de existir.
O professor Keating consegue demonstrar essa verdade através da leitura de poemas de Lord Byron, Shakespeare, Henry David Thoreau, Walt Whitman, realizadas a partir de muitas dinâmicas para além do espaço da sala de aula. O prof. “Oh! Captain! My Captain”, como deseja ser chamado, inspirado por um dos poemas de Whitman, incentiva os alunos a pensarem por conta própria, a colocarem suas vozes no mundo, a encontrarem sua identidade, a aproveitarem o dia (a famosa frase Carpe Diem), a desenvolverem crítica e discernimento.
“Carpe diem. Aproveitem o dia, meninos. Façam suas vidas extraordinárias”
Essas são lições importantes para as jovens almas tocadas pelo mestre. Porém, mais uma vez, o choque cultural entre a juventude de Keating e a força da tradição escolar geram embates. Os professores mais antigos, rígidos em suas formas disciplinares, não aceitam a conduta do jovem instrutor. Nota-se, inclusive, certa “inveja” por parte dos demais professores, visto que Keating consegue se conectar com os alunos de modo profundo e os ensina de forma viva e eficaz, sem necessitar de castigos e lições infindáveis.
Durante todo o filme, e essa é uma das suas principais mensagens, fica clara a diferença entre Keating e os demais instrutores, e isso não é fruto do acaso. O que “A Sociedade dos Poetas Mortos” busca mostrar é o valor de uma verdadeira educação quando presente no espírito de quem ensina. O papel do professor, afinal, é apenas ser um canal no qual possa extrair de cada aluno suas potencialidades. Não por acaso, o resultado das aulas inspiradoras de Keating é o descobrimento por parte dos estudantes de seus talentos artísticos. Enquanto os demais professores estimulavam apenas a racionalidade e uma forma mecânica de aprendizado, o formato mais livre e diverso de Keating permite que a criatividade e a verdadeira personalidade de cada um se expressem livremente.
Sendo assim, inspirados pelas ideias profundas do professor, e pelo seu exemplo, alguns alunos acabam por ressuscitar “A Sociedade dos Poetas Mortos”, grupo que outrora o próprio professor Keating frequentava e que consistia em reuniões em um local secreto para não só ler poesias, mas também para falar sobre aquilo que nos dá motivos para estarmos vivos, segundo as palavras do heroico professor.
Outro dos grandes méritos do longa é despertar o interesse e prazer pela literatura. Depois de passarmos as duas horas do filme nos deleitando com trechos de obras de tão grandes escritores, tamanha beleza e profundidade resgata em nós a importância de ler bons livros quando se fala em alimentar nossa alma humana.
Mais do que apenas ler bons livros, somos inclinados, quase que sutilmente, a perceber o valor da atemporalidade dos clássicos da literatura. Keating passeia por diversos séculos e autores, todos com vidas difíceis, mas que foram eternizados por seus escritos. Tais obras não são fruto do acaso, mas resultado das reflexões e experiências dessas almas que continuam vivas apenas em suas obras. Desse modo, podemos entender que a literatura – e a arte como um todo – é uma forma humana de vencer o tempo, de se tornar imortal. Nossos corpos cairão no solo e um dia nosso coração parará de bater, mas as palavras, os poemas, os livros…eles continuarão ecoando nossa voz pela eternidade. Essa é, em última instância, a lição mais importante sobre a qual “A Sociedade dos Poetas Mortos” nos faz refletir. É por isso que devemos viver o hoje, o presente, ou, como na citação romana usada por Keating, devemos viver o dia (Carpe diem). Viver, em seu aspecto mais profundo, não é somente respirar ou realizar atividades comuns, mas principalmente entender que cada momento é uma oportunidade de compreender o que se sente e o que se pensa. Assim, Keating e todos os membros dessa Sociedade nos convidam a perceber a vida por um viés mais consciente, belo e atemporal, ressignificando até mesmo os momentos mais banais e os dilemas mais comuns.
Não é por acaso que o filme se tornou um clássico dos nossos tempos. A rebeldia dos alunos mostram a verdadeira face da juventude, que busca renovar as formas desgastadas pela rigidez mecânica da tradição. É preciso, portanto, encontrar o equilíbrio após o choque de gerações tão distintas. Entretanto, o resultado desse despertar pela arte não vibra apenas nos personagens, mas também em todos os espectadores, e esse talvez seja o grande mérito de “A Sociedade dos Poetas Mortos”: a capacidade de nos fazer vibrar pela vida, pelas novas ideias e ensinar que não podemos abrir mão dos nossos ideais, de nossas próprias vidas, de nossa consciência.
Por todos esses motivos, recomendamos aos nossos leitores assistirem a esse belo e inspirador filme.
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