Proclamação da República: O que mudou?

Dia 15 de Novembro celebramos a Proclamação da República. Geralmente, nós gostamos da data por ser um feriado, mas raramente entendemos o que esse evento representou na história do nosso país. O que mudou com a Proclamação da República? Como era o Brasil antes disso? A mudança foi para melhor? Estes são pontos raramente questionados.

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Como era o Brasil antes de ser uma República?

Antes de refletirmos sobre a Proclamação da República, façamos um pequeno exercício de imaginação: imagine uma pessoa que acorda de um coma, sem nenhuma memória. Não sabe o que aconteceu, não sabe de onde veio, não sabe seu nome, não lembra quem são seus pais… Uma pessoa assim ficaria completamente confusa quando lhe perguntassem: “Quem é você?”. Uma pessoa sem memória é uma pessoa sem identidade. Uma vez que não sabe do seu passado, não sabe quem é e, portanto, fica praticamente impossível definir o que pretende do seu futuro. Tal qual a famosa passagem de Alice no País das Maravilhas, para uma pessoa que não sabe de onde veio e para onde vai qualquer caminho lhe serve.

O mesmo vale para um país. Se não conhecemos nosso passado, quer dizer que não temos história. E uma nação sem história é uma nação sem identidade. E infelizmente é assim que vivemos. Esse não é um problema de informação, visto que abundam de conhecimento histórico pela web, nas salas de aula e livros produzidos diariamente sobre o assunto. No fundo, o que nos falta é um interesse genuíno de compreender um pouco mais sobre o nosso passado. 

Dito isso, nosso objetivo hoje é resgatar um pouco da memória da nossa pátria para tentar chegar mais perto de compreender a nossa identidade nacional, saber nossas raízes e poder pensar em como podemos projetar o futuro do Brasil a partir de nossa história.

Apesar de ser uma nação jovem, nosso país já passou por algumas fases: desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, até 1822, o Brasil era uma colônia de Portugal. Quando a família real portuguesa se mudou para cá, o Rio de Janeiro virou a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Isso durou até 1822, quando Dom Pedro I tornou o Brasil independente do Reino de Portugal. A partir daí se inicia a nossa história como Brasil Império.

Pouco se fala sobre esse período, mas podemos dizer que foi um dos grandes momentos de nossa nação no aspecto econômico, político e cultural. No século XIX, por exemplo, o Brasil era uma nação muito respeitada e reconhecida internacionalmente. Éramos um grande exportador agrícola, tendo como base o café, que, ao longo do século XIX e XX, se tornou um dos produtos mais consumidos do mundo. Tínhamos mais de 26 mil Kms de estradas de ferro, ligando o interior do Brasil com os principais portos para escoar nossa produção. Já no campo da diplomacia, éramos admirados, inclusive sendo requisitados para arbitrar em comissões internacionais e em resoluções de conflitos de outros países.

Fomos o primeiro país da América Latina e o segundo no mundo a ter ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais.​ Foi nesse período também que brotaram nomes como Machado de Assis, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Ruy Barbosa, José de Alencar, Castro Alves, Luís Gama e tantas outras grandes mentes que ainda hoje são o referencial da alta cultura brasileira, seja na literatura ou na política.

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(Créditos: Pinterest)

D. Pedro II: o grande governante do Brasil Império

Além desses grandes nomes, não podemos falar do Brasil Império sem falar de seus governantes, mais especificamente do principal imperador que governou neste período: Dom Pedro II. Seu pai, Pedro I, permaneceu como Imperador por apenas 9 anos, pois em 1831 o garoto de apenas 5 anos, foi nomeado Dom Pedro II, o segundo imperador do Brasil. Nesse período, José de Bonifácio permaneceu como tutor do jovem imperador, e foi ele o responsável pela educação e formação deste grande líder.

A partir do famoso Golpe da Maioridade, em 1840, D, Pedro II, com apenas 14 anos, assume o comando do Brasil. Se por um lado colocar a nação nas mãos de uma criança era um movimento arriscado, o período regencial, marcado por instabilidade política e revoltas, também estava, à época, colocando a unidade territorial em jogo ao não conseguir lidar com tamanhas revoltas provinciais.

O Segundo Reinado (1840 – 1889) tem seu início com esse conturbado cenário social e que exigia um governante forte. D. Pedro II e seu corpo de conselheiros conseguiram, a partir de negociações e também com o uso da força, controlar as revoltas ao redor do país e mantiveram o Brasil unido. Essa é uma importante conquista, afinal, uma das grandes vantagens do Brasil é sua extensão territorial, mostrando que um país grande e com muitos recursos pode crescer rapidamente quando trabalha de modo unificado.

Além de governante, D. Pedro II foi um dos grandes intelectuais do seu tempo. Fascinado pelo conhecimento, o monarca recebeu diplomas honorários de Botânica e Astronomia pela universidade de Cambridge, além de falar 23 idiomas. Graças a sua capacidade de aprender tantos idiomas, o governante dedicou-se, em seu tempo de lazer, a produzir a primeira tradução do clássico “Mil e uma noites”, diretamente do árabe para o português.

No campo da filantropia, D. Pedro II doava 50% de tudo que ganhava para instituições de caridade, centros de cultura e arte, uma vez que não precisava de um grande soldo para viver. Suas roupas eram simples, e por isso muitos críticos tentavam ridicularizá-lo. Apesar de ser um alvo constante de charges, algumas de extremo mau gosto, D. Pedro II nunca tentou censurar ou impedir a liberdade de tais jornais. 

Quanto às críticas que lhe faziam, o monarca achava o gasto com roupas refinadas um tanto quanto desnecessário, ainda mais para impressionar outras figuras. Seus gastos estavam voltados para o que realmente era necessário. Assim, mantinha-se saudável psicologicamente em meio à pressão que seu cargo naturalmente lhe impunha.

Também sabe-se que em suas propriedades não se aceitava escravizados, pois considerava a escravidão uma aberração. Infelizmente, apenas no fim do seu reinado foi possível acabar com esse flagelo que assombrou nosso país, pois os grandes latifundiários, que geravam praticamente toda a economia brasileira, tinham por tradição usar desse tipo de mão de obra.

Por sua postura austera e por ser um grande amante da ciência e das artes, D. Pedro II fez grandes amigos por todo o mundo, pessoas que, em geral, também desfrutavam de prazeres intelectuais. Era amigo de Victor Hugo, o grande escritor francês, e trocava correspondências com Nietzsche e Graham Bell. Sua paixão pelo Egito o levou às Pirâmides duas vezes, e em suas viagens conseguiu comprar alguns artefatos que estavam, até então, no Museu Nacional. Tais artefatos infelizmente foram destruídos no incêndio que acometeu o museu em 2017.

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(Créditos: Jornal NH)

A chegada da República: o golpe que tirou a monarquia do poder

Se vivíamos um período tão bom assim, então porque acabou? Vários motivos levaram à Proclamação da República em 15 de Novembro de 1889, determinando assim o fim do período imperial e enviando Dom Pedro II e toda a família real para o exílio. Muito influenciados por ideais da revolução francesa e pelo positivismo, alguns rejeitavam a ideia de uma família ser sustentada pelos impostos do povo. Outros ansiavam pela chance de poder governar numa democracia presidencialista. O que é inegável é que a gota d’água para os inimigos da monarquia foi a abolição da escravatura assinada pela filha do Imperador, a Princesa Isabel, em 1888.

Diferente do que muitos pensam, a visão humanista e livre de preconceitos raciais era muito forte na família real. O palácio era muito frequentado por pessoas das mais diferentes cores de pele e origens. O ponto que as unia era o interesse em construir um país mais justo e melhor para todos. Antônio Pereira Rebouças, que era filho de uma escravizada e um gênio autodidata, se tornou um dos conselheiros de Dom Pedro II. Existe também um relato que diz que, após ter o pedido de dança rejeitado por uma moça num dos bailes do palácio, André Rebouças, que era um engenheiro negro, foi convidado pela própria Princesa Isabel para uma dança.

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(Créditos: portaldasmissões.com.br)

O dia da assinatura da Lei Áurea, que libertou todos os escravizados, foi um dia de festa para muitos, porém de grande insatisfação para muitos poderosos que faziam uso da mão de obra escrava. Quando alertada de que poderia perder o trono por libertar os escravizados, a princesa imediatamente disse a seguinte frase: “Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para pôr fim à escravidão.”

E foi nesse contexto, e em meio a muitas controvérsias, que aconteceu a então reviravolta de 15 de Novembro, celebrada até hoje por todos nós. O vídeo abaixo explica com detalhes a situação:

Não devemos, entretanto, cair em devaneios e imaginar como o Brasil estaria caso não houvesse a Proclamação da República. A história não permite o “se”, pois nunca viveremos as alegrias nem as tragédias de uma vida que não escolhemos. Entretanto, é fato que perdemos a visão de nação e um espírito patriótico que tínhamos no passado. Não temos, nem procuramos ter, uma identidade nacional, e por isso não enxergamos a nós mesmos como células de um corpo, muito pelo contrário, vivemos pensando cada um em si mesmo.

O reflexo desse egoísmo natural nos leva, consequentemente, a um afastamento do sentimento coletivo, da busca por melhorias sociais a partir do crescimento do nosso país. Portanto, o primeiro e importante passo a ser dado para o resgate de nossa identidade é saber que, acima de nossos desejos pessoais, há uma nação a qual devemos (re)construir. Quem sabe, se sonharmos e trabalharmos juntos, esse sonho não se tornará realidade para os brasileiros do futuro?

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