Proclamação da República: O que mudou?

Dia 15 de Novembro celebramos a Proclamação da República. Geralmente, nós gostamos da data por ser um feriado, mas raramente entendemos o que esse evento representou na história do nosso país. O que mudou com a Proclamação da República? Como era o Brasil antes disso? A mudança foi para melhor? Estes são pontos raramente questionados.

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Imagine uma pessoa que acorda de um coma, sem nenhuma memória. Não sabe o que aconteceu, não sabe de onde veio, não sabe seu nome, não lembra quem são seus pais… Uma pessoa assim ficaria completamente confusa quando lhe perguntassem: “Quem é você?”. Uma pessoa sem memória, é uma pessoa sem identidade. Isso também vale para um país. Se não conhecemos nosso passado, quer dizer que não temos história. E uma nação sem história é uma nação sem identidade. E infelizmente é assim que vivemos.

Então, vamos tentar resgatar um pouco da memória da nossa pátria para tentar chegar mais perto de compreender a nossa identidade nacional.

Apesar de ser uma nação jovem, nosso país já passou por algumas fases:

Desde a chegada de Pedro Álvares Cabral em 1500 até 1822, o Brasil era uma colônia de Portugal. Quando a família real portuguesa se mudou para cá, o Rio de Janeiro virou a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Isso durou até 1822, quando Dom Pedro I tornou o Brasil independente do Reino de Portugal. A partir daí se inicia a nossa história como Brasil Império. Pouco se fala sobre esse período, mas podemos dizer que foi o nosso auge no aspecto econômico, político e cultural.

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(Créditos: Pinterest)

No século XIX, o Brasil era uma nação muito respeitada e reconhecida internacionalmente. Éramos a 4ª economia do mundo, a média da inflação era de aproximadamente 1% ao ano e o crescimento econômico de mais de 8% ao ano. O salário de um profissional sem nenhuma qualificação era o equivalente a algo entre 2 mil e 3 mil reais nos valores de hoje. Tínhamos mais de 26 mil Kms de estradas de ferro, a maior rede do mundo. Nossa diplomacia era muito admirada, inclusive sendo requisitada para arbitrar em comissões internacionais e em resoluções de conflitos de outros países.

Fomos o primeiro país da América Latina e o segundo no Mundo a ter ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais.​ Foi nesse período também que brotaram nomes como Machado de Assis, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Ruy Barbosa, José de Alencar, Castro Alves, Luís Gama e tantas outras grandes mentes que ainda hoje são o referencial da alta cultura brasileira.

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(Créditos: portaldasmissões.com.br)

Não podemos falar do Brasil Império sem falar de seus governantes, mais especificamente do principal imperador que governou neste período: Dom Pedro II.

Seu pai, Pedro I, permaneceu como Imperador por apenas 9 anos, pois em 1831 o garoto de apenas 5 anos, foi nomeado Dom Pedro II, o segundo imperador do Brasil. Nesse período, José de Bonifácio permaneceu como tutor do jovem imperador, e foi ele o responsável pela educação e formação deste grande líder.

Algumas curiosidades sobre Dom Pedro II:

  • Recebeu os diplomas honorários de Botânica e Astronomia pela Universidade de Cambridge;
  • Falava 23 idiomas, sendo fluente em 17 deles;
  • Fez a primeira tradução do clássico árabe “Mil e uma noites”, do árabe arcaico para o português do Brasil;
  • Doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e incentivos para educação, com ênfase nas ciências e artes;
  • Fez um empréstimo pessoal a um banco europeu para comprar a fazenda que abrange hoje o Parque Nacional da Tijuca. Em uma época que ninguém pensava em ecologia ou desmatamento, Pedro II mandou reflorestar toda a grande fazenda de café com mata atlântica nativa;
  • A mídia o ridicularizava por usar roupas extremamente simples, e pelo descaso que ele tinha com o cuidado e a manutenção dos palácios da Quinta da Boa Vista e Petrópolis. Pedro II não admitia tirar dinheiro do governo para tais futilidades. Alvo de charges quase diárias nos jornais, mantinha a total liberdade de expressão e nenhuma censura;
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  • Era um dos líderes mais admirados no mundo. Devido a sua grande cultura e humildade era reconhecido por grandes cientistas, artistas e pensadores, como Graham Bell, Victor Hugo, Richard Wagner e Friedrich Nietzsche.
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(Créditos: Jornal NH)

Mas, se vivíamos um período tão bom assim, então porque acabou?

Vários motivos levaram à Proclamação da República em 15 de Novembro de 1889, determinando assim o fim do período imperial e enviando Dom Pedro II e toda a família real para o exílio. Muito influenciados por ideais da revolução francesa e pelo positivismo, alguns rejeitavam a ideia de uma família ser sustentada pelos impostos do povo. Outros ansiavam pela chance de poder governar numa democracia presidencialista. O que é inegável é que a gota d’água para os inimigos da monarquia foi a abolição da escravatura assinada pela filha do Imperador, a Princesa Isabel, em 1888.

Diferente do que muitos pensam, a visão humanista e livre de preconceitos raciais era muito forte na família real. O palácio era muito frequentado por pessoas das mais diferentes cores de pele e origens. O ponto que as unia era o interesse em construir um país mais justo e melhor para todos. Antônio Pereira Rebouças, que era filho de escrava e um gênio autodidata, se tornou um dos conselheiros de Dom Pedro II. Existe também um relato que diz que, após ter o pedido de dança rejeitado por uma moça num dos bailes do palácio, André Rebouças, que era um engenheiro negro, foi convidado pela própria Princesa Isabel para uma dança.

O dia da assinatura da Lei Áurea, que libertou todos os escravos, foi um dia de festa para muitos, porém de grande insatisfação para muitos poderosos que faziam uso da mão de obra escrava. Quando alertada de que poderia perder o trono por libertar os escravos, a princesa imediatamente disse a seguinte frase: “Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para pôr fim à escravidão.”

E foi nesse contexto, e em meio a muitas controversias, que aconteceu a então reviravolta de 15 de Novembro, celebrado até hoje por todos nós.

O vídeo abaixo explica com detalhes a situação:

Desde esse dia até hoje, tivemos muitas mudanças em nosso país. Os gastos anuais com a casa real, considerados excessivos, foram superados em quase duas vezes pelos custos do primeiro presidente, já no primeiro ano. E de lá para cá a situação não tem melhorado. Nas eleições de 2018, somente com fundo eleitoral, foram usados 1,7 BILHÕES de reais do dinheiro retirado dos trabalhadores brasileiros, para que os políticos usassem em sua campanhas eleitorais. Isso tudo sem contar com os escândalos bilionários de corrupção, e até mesmo acusações de assassinato envolvendo os líderes políticos do sistema. Os prejuízos materiais são enormes, mas não superam a ferida moral e a mancha de indignidade que marca o nosso país.

Agora não adianta ficar imaginando como poderíamos estar se o Brasil ainda fosse uma Monarquia Parlamentarista (como é a Inglaterra até hoje). Porém, uma coisa é evidente: uma visão de nação e um espírito patriótico que tínhamos no passado não existe mais. Não temos uma identidade nacional, e por isso não enxergamos a nós mesmos como células de uma corpo, muito pelo contrário, vivemos pensando cada um em si mesmo.

Vivemos num país cheio de problemas, mas não adianta simplesmente reclamar do que estamos vendo. Mesmo que não tenhamos mais bons símbolos de grandes líderes que nos inspirem a ter uma visão de uma grande nação, de um país próspero e justo, onde a fraternidade é o que reina e supera todos os tipos de egoísmos e preconceitos, nós temos a obrigação de construir dentro de nós mesmos esse sonho e começarmos a trabalhar por ele. Quem sabe, se sonharmos e trabalharmos juntos, esse sonho não se tornará realidade para os brasileiros do futuro?

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