O Dia dos Namorados passou… Muitos casais aproveitaram para trocar presentes e viver momentos românticos, outras pessoas nem dão importância para esta data, já outros ficaram rezando para Santo Antônio para não passar mais um dia dos namorados sozinhos… Mas, por que recorremos a este santo especificamente para resolver nossos problemas amorosos? Como o Santo Antônio se tornou o santo casamenteiro?
Existem duas lendas que explicam como Santo Antônio ajudou moças a se casarem, e por isso ganhou a fama de santo casamenteiro. A primeira conta que certa vez, em Nápoles, havia uma moça cuja família não podia pagar seu dote para se casar. Desesperada, a jovem pediu a ajuda ao Santo que, milagrosamente, lhe entregou um bilhete e disse para procurar certo comerciante. O bilhete dizia que o comerciante desse à moça moedas de prata equivalentes ao peso do papel. O homem não se importou, achando que o peso daquele bilhete era insignificante. Mas, para sua surpresa, foram necessários 400 escudos da prata para que a balança atingisse o equilíbrio.
Nesse momento, o comerciante se lembrou que um dia havia prometido 400 escudos de prata ao Santo, e nunca havia cumprido a promessa. A moça pôde, assim, casar-se de acordo com o costume da época. A outra lenda conta que uma moça muito bonita que não arranjava um marido, apegou-se a Santo Antônio. Adquiriu uma imagem do Santo e colocou-a em um pequeno oratório. Todos os dias, colhia flores e as oferecia ao Santo sempre pedindo que este lhe trouxesse um marido. Mas, passaram-se semanas, meses, anos… E nada do noivo aparecer. Então, tomada pelo desgosto, a moça atirou a imagem do Santo pela janela. Neste momento, passava um jovem Cavalheiro que foi atingido pela imagem. Ele apanha a imagem e vai entregar à jovem, que se apaixona por ele, e se casam.
Desde a época em que estas lendas surgiram, século XIII, foram criadas uma série de simpatias com Santo Antônio para ajudar na conquista do namoro ou casamento. Você já ouviu falar de alguma delas? Colocar a imagem do Santo de cabeça para baixo, tirar espinhos de rosas, colocar água na boca e andar em volta da fogueira no São João… Essas são algumas de muitas simpatias existentes! Algumas curiosas, outras engraçadas e outras até absurdas! É muito comum vermos mais esses movimentos na época junina, pois temos o dia dos namorados no dia 12 de junho, e o dia de Santo Antônio no dia seguinte, 13 de junho, data de sua morte.
É curioso observar o quão antigas essas simpatias são, e quantos adeptos elas arrastam. Por que elas se mantiveram presentes até hoje na nossa cultura? Será que é porque no fundo procuramos sempre as soluções mais fáceis para tudo? Inclusive para a vida amorosa? É mais simples fazer simpatias de amor e esperar que o Santo ajude do que conviver, se expor, conhecer pessoas novas e estar aberto a novas possibilidades?
Se pararmos para pesquisar sobre quem realmente foi Antônio de Pádua, o Santo Antônio, vamos encontrar a biografia de um monge franciscano português cuja vida foi inteiramente dedicada ao estudo, oração e caridade. Independente da crença ou religião, é inegável a beleza de uma vida totalmente dedicada ao Ideal que acredita, e Antônio foi um exemplo que serve como inspiração para qualquer ser humano.
Apesar de ter morrido jovem em 1231, com apenas 35 anos, ele foi canonizado já no ano seguinte pelo papa Gregório IX e, posteriormente, considerado um Doutor da Igreja pelo papa Pio XII. Isso devido ao seu grande conhecimento das escrituras sagradas do cristianismo, mas também pela compreensão profunda de autores da Grécia e Roma Antigas, como Plínio, o Velho, Cícero, Séneca, Boécio, Galeno e Aristóteles.
Entre suas várias qualidades, o que chamava a atenção de seus contemporâneos era o seu admirável dom como pregador. Muitas descrições da época referem o fascínio que sua fala exercia sobre as multidões de pessoas simples e também sobre clérigos doutos, há inclusive um relato que diz que após contemplar o mar por um bom tempo e meditar sobre a presença constante do peixe nas escrituras, os peixes se reuniram aos seus pés para escutar uma de suas pregações.
Sem dúvida nenhuma, Santo Antônio foi um ser humano diferenciado, com vários dons, porém, encontrar namorados para pessoas encalhadas não parece que era um de seus interesses em vida.
Se tivéssemos boas relações de convivência, talvez não precisássemos incomodar o Santo para resolver problemas tão pequenos de nossa vida. Se uma pessoa deseja há muito tempo um parceiro, mas não consegue, será que não tem algo dentro dela que precisa mudar? Ela é uma pessoa fácil de conviver? Aberta a aceitar alguém diferente de si mesma? Disposta a crescer junto com o outro no relacionamento? Se não refletirmos um pouco sobre nós mesmos, podemos fazer todas as simpatias existentes, mas Santo Antônio não vai ajudar, porque nem ele tem poder para mudar quem nós somos! Temos uma visão egocêntrica das tradições religiosas e achamos que os santos ou os deuses, só existem para nos ajudar com os nossos problemas pessoais… Talvez, se canalizássemos a energia das simpatias para nos tornarmos melhores nos ambientes em que vivemos, não precisaríamos tanto apelar ao Santo, que deve ter coisa mais importante para fazer do que nos arrumar um relacionamento. E ao invés de pedirmos tanto, poderíamos apenas agradecer e oferecer nosso próprio crescimento como Gratidão.