A autora Marie Kondo, no seu livro “A Mágica da Arrumação”, faz o seguinte comentário: “Quando você põe a casa em ordem, também organiza suas questões e seu passado. A consequência é que você passa a distinguir com mais clareza o que é essencial e o que é inútil, assim como o que deve e o que não deve fazer. A vida começa de verdade depois que se põe a casa em ordem”. Já notaram que existe uma relação entre como estamos internamente e externamente? Às vezes não conseguimos tomar uma única decisão, tudo está completamente confuso, então decidimos arrumar nossa mesa de trabalho, que por sinal está caótica, e depois que organizamos tudo, sentimos uma ordem interna, e assim, conseguimos tomar a decisão necessária. O nosso exterior reflete o nosso interior, e vice-versa.
Quanto mais ordem e controle sobre nós mesmos, mais isso se refletirá na nossa vida, quanto menos controle sobre nós mesmos, menos controle do nosso entorno. Tudo bem que existem circunstâncias externas que não podemos controlar, como por exemplo, o clima, o engarrafamento, os barulhos da construção no vizinho, mas se não tivermos o mínimo de domínio interno, sempre dependeremos de que as condições externas fiquem perfeitas para conseguirmos realizar algo. O que é difícil, pois os acontecimentos não funcionam exatamente como gostaríamos que fossem. Um exemplo claro disso, ocorre quando às vezes estamos tão concentrados numa leitura ou estudo, que não notamos as buzinas dos carros ou latidos de um cachorro na rua. Porém, quando estamos desmotivados e sem vontade de fazer algo que exige concentração, qualquer ruído, por menor que seja, é o suficiente para nos tirar do sério.
Daí a importância de desenvolvermos a Autarquia, palavra de origem grega, que significa comandar a si mesmo. Quando temos poder sobre nós mesmos, garantimos uma harmonia interna, de modo que o externo não nos influenciará. O vídeo “A Mosca e o Samurai” ilustra muito bem essa ideia. Enquanto a concentração do Samurai depende do silêncio externo, ela dura muito pouco, pois sempre aparece uma mosca para atrapalhar, de modo que o foco dele não é mais se concentrar, mas sim, matar todas as moscas para silenciar o ambiente. É muito curioso o fenômeno mostrado neste curta, pois cada vez que ele elimina uma mosca, surgem duas no seu lugar. Na nossa vida acontece algo similar, sempre que focamos nossa atenção em algum ruído externo, mais ruídos vão aparecendo para nos desconcentrar, como se as distrações se multiplicassem.
Quando o Samurai percebe que não tem domínio sobre as moscas, ele decide internalizar, se volta para dentro de si mesmo e coloca toda sua atenção num ponto mais elevado, onde o ruído das moscas não alcança. O efeito da Autarquia é tão forte, que ele deixa de escutar e se incomodar com as moscas, e entra em harmonia com elas. Assim, ele consegue perceber a realidade: só existe uma mosca. Todas as outras foram criadas pela impaciência e irritação de sua mente.
Essa pequena animação nos transmite um grande ensinamento: quanto mais valorizamos o caos externo, mais nos distanciamos de nossa Autarquia, desse poder de gerar equilíbrio interno. A chave está sempre dentro de nós.