Das recordações de infância, guardo com muito carinho as manhãs ensolaradas em que, perfilados em frente à porta da sala de aula, cantávamos o Hino Nacional Brasileiro, com a mão sobre o peito vendo nossa Bandeira ondular ao vento. E me lembro de que naqueles momentos havia um sentimento de força e poder, perceptível por muitos de nós, e que sentíamos emanar de nossa união a cantar, em alta voz, naquela posição marcial, as sagradas palavras de nosso Hino. E vinha também, lá do fundo, uma sensação indefinível, de que éramos chamados a atender algo importante, maior do que todos nós, e que nos necessitava para se tornar realidade.
Hoje posso compreender o que então não passava de um sentimento, o que significavam aquelas sensações. A história nos mostra que o valor do ser humano está em sua capacidade de servir à Humanidade, e não houve, nem nunca haverá um herói ou grande homem, que tenha sido grande por fazer apenas para si próprio ou para sua família de sangue. E como poderemos servir à Humanidade, sem amá-la? E como poderemos amar a Humanidade, se primeiro não amamos nossa Pátria, nossa mãe gentil?
A filosofia antiga, e também hoje a física moderna, afirmam que tudo na natureza está inter-relacionado, como se tudo fizesse parte de um imenso organismo. E seguindo esta linha de pensamento podemos ver a Humanidade como um imenso corpo, do qual cada nação é como um membro ou órgão, dos quais fazemos parte como pequenas células. E cada órgão ou membro tem uma importante função no organismo, e neles, cada célula ocupa seu lugar, cumprindo sua missão. E aí chegamos até nós, individualmente.
Cada um de nós possui uma missão, a nossa missão, e ninguém mais pode cumpri-la em nosso lugar; e ao não cumpri-la, deixamos o organismo mais fraco, como qualquer organismo vivo que começa a falhar porque alguma parte dele não está indo bem. Hoje acredito que o que sentíamos então, era o impulso dessa ideia de corpo, que para poder sobreviver, nos necessita a todos em nossos postos, cumprindo nossa pequena parte nesse propósito maior, que é o Bem do Todo. E aos estarmos ali, todos juntos, cantando em uníssono, é como se estivéssemos evocando essa ideia, e daí a importância desses momentos, momentos cerimoniais, em que mesmo que apenas por alguns instantes, nos sentimos integrados a essa ideia maior, que é nossa Pátria, importante parte do todo, que é a Humanidade. E é bem grande nossa Pátria e, aliás, podemos ser até um pouco bairristas (e me perdoem por isso), e acreditar que se cada nação é como um órgão, o Brasil, sendo tão grande e forte, ao impulsionar para o mundo a energia vital que alimenta a muitas outras nações (nossa imensa produção agrícola e a não menor extração mineral), é assim o próprio coração do mundo, e daí a alegria de nossa gente, de nossas festas, de nosso esporte, e também a afirmação tão repetida (pelo menos por nós), de que… Deus é brasileiro! Pois se há uma preferência para estar em algum lugar, com certeza Deus deve preferir habitar em nosso coração, então Deus deve estar preferencialmente aqui, no coração do mundo, no Brasil!
É fácil amar o Brasil, e o querido leitor que (por ventura) não o sinta, considere seriamente a oportunidade de fazer um longo passeio, visitando os distantes e magníficos rincões de nosso país-continente, pois não há TV ou cinema capazes de reproduzir o que irá encontrar. Nenhum programa ou descrição poderá fazê-lo compreender as delícias de nossa gastronomia, tão variada em cada região, ou a diversidade de costumes, que encantam de diferentes formas, ou as várias línguas portuguesas que se falam, e as tão diversas formas carinhosas de expressão de nossa gente, mistura de raças de todo o mundo, que resultou na maravilhosa variedade de cores de nossa Pátria, pátria de um povo heroico, Pátria amada, Brasil.
Publicado Originalmente no blog Filosofia Cotidiana.