A vontade é o maior poder que habita o ser humano. Graças a ela, conseguimos alcançar nossos feitos, dos mais banais aos mais grandiosos. Quando empregada para a busca da sabedoria, pode nos fazer enxergar o Universo que há dentro e fora de nós. Essa é, certamente, uma ideia muito elevada e sobre a qual precisamos refletir para entendermos melhor do que se trata a vontade. Sendo assim, vamos nos dedicar a entender o que nos move e, em seu aspecto superior, o que é, de fato, a Vontade.
A palavra “vontade” vem do latim voluntas, e nada mais é do que a manifestação do ato de querer, do desejo. Assim, comumente usamos essa palavra para expressar tudo que atrai nossa personalidade e que nos gera uma necessidade. Quem de nós, por exemplo, não sente vontade de tomar um café antes de começar a trabalhar? Ou quando tem um filme que nos chama atenção no cinema, acabamos falando, quase sem querer, que estamos “com vontade” de assistir a película. Essa é, portanto, a expressão mais comum e banal da vontade, que se manifesta através dos nossos desejos. Porém, será que ela é apenas isso?
Helena Petrovna Blavatsky, uma filósofa russa do século XIX, escreveu em um dos seus livros que “É a Vontade que governa os universos manifestados na Eternidade”. Essa, certamente, não é a “mesma” vontade que sentimos ao desejar um café ou assistir um filme. Porém, apesar de distintas, elas seguem uma mesma lógica. Isso porque, de acordo com essa perspectiva, a vontade seria a força necessária para manter o cosmos e fazer com que ele exista. Seria, portanto, a partir dessa força que as leis seriam regidas. Por isso que em seu sentido último a vontade é um atributo divino, pois é graças a ela que a ordem e a harmonia podem imperar em todo o Universo. Esta frase, portanto, nos apresenta a Vontade em seu estado mais puro, como o poder que faz com que todas as coisas se manifestem em todos os universos.
Dentro dessa perspectiva, tudo que ocorre no Universo é, em última instância, a realização de uma vontade. Por exemplo: quando deixamos um copo cair no chão, quais forças atuaram sobre ele? Para simplificarmos podemos dizer, a grosso modo, que duas leis atuaram nesse caso: a lei da gravidade e a lei de movimento. Ambas, enquanto lei, manifestam-se em todo o Universo e regem as forças que lhe competem. Como há uma força gravitacional, o copo foi puxado para baixo, indo de encontro ao solo. Ao mesmo tempo, graças à lei de movimento sabemos que a aceleração do copo faz com que ele caia com uma intensidade específica no chão e possa – ou não – se quebrar. Tudo isso ocorre de forma natural, pois as leis estão operando a todo momento e em todo lugar, logo a vontade expressa em cada uma dessas leis tem como origem a Vontade.
Em resumo, podemos afirmar que tudo que ocorre é resultado de leis naturais, que são reflexos dessa Vontade Divina que torna o Universo como é. Assim, por consequência, tudo que ocorre no cosmos é, foi e será fruto da Vontade.
Entendeu?
Agora cabe refletirmos sobre isso: como podemos relacionar essa ideia tão elevada e metafísica com a minha experiência cotidiana? Aqui já fica evidente que essa perspectiva tão elevada, apesar de uma raiz similar, não é a mesma vontade dos nossos desejos.
Na tradição hermética há uma antiga máxima que diz: “O que está em cima é como o que está embaixo.” Esse é um bom ponto de partida para refletirmos sobre como a vontade mais elevada pode estar em relação à nossa experiência comum. Por essa lógica podemos entender que, salvaguardando as devidas proporções, a mesma vontade que rege o cosmos é a mesma que nasce dentro de cada um de nós e que nos impulsiona em direção a um objetivo. Entretanto, nosso ímpeto ocorre de forma inconsciente e pontual, enquanto a vontade em sua manifestação pura é perene e consciente. A gravidade continua nos puxando para o centro, não importa o horário, dia ou qualquer circunstância externa. Porém, o que ocorre após assistirmos o filme ou realizarmos qualquer um dos nossos desejos? Assim que alcançamos o objetivo, o desejo passa e, quase automaticamente, passamos a desejar outra coisa. Nesse sentido, nunca estamos satisfeitos e, vivendo à mercê do desejo, acabamos nunca nos realizando.
Assim, podemos observar que a vontade está expressa em todos os planos, mas que para alcançarmos uma vontade cada vez mais pura é preciso buscar o que está, igualmente, fora do tempo e das circunstâncias externas. O verdadeiro poder da vontade humana surge quando passamos a empregar essa força em direção ao nosso aspecto mais atemporal e deixamos de ficar reféns dos momentâneos desejos da personalidade. A vontade, nesse sentido, cada vez mais assemelha-se ao ímpeto divino que, como Blavatsky escreveu, rege o Universo em direção a eternidade.
Um problema, porém, nos cerca ao pensarmos nesse aspecto: na teoria viver a vontade parece fácil, mas conquistá-la é uma tarefa que precisa de dedicação e treino. E o que podemos fazer para tirar isso do plano das ideias e levar para a prática?
É preciso ir aos pouquinhos, em seu ritmo, porque a força de vontade é como um músculo que, para ficar forte, passa por uma série de exercícios. E quando começamos um exercício rápido demais, com muita intensidade, nosso corpo fica dolorido e exausto, não é? É necessário ter a convicção de que a Vontade que move os universos está ao nosso alcance; por isso, não podemos desistir jamais. Mesmo que nossa força de vontade não seja, assim, “tão forte”, com paciência e dedicação podemos desenvolver esse potencial.
No vídeo abaixo, você encontra algumas dicas que podem potencializar o seu treino da força de vontade. Assista!
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