O Homem é um ser único na Natureza. Possuímos vários instintos e necessidades como os animais, mas além disso, possuímos uma mente racional que faz com que busquemos a Beleza, a Justiça, o Bem e que nos atrevamos a tentar compreender os mistérios de Deus, da vida e da morte. É esse poder que nos permite participar de forma consciente da transformação da própria Natureza, produzindo novas tecnologias.
Um antigo mito grego conta que o titã Prometeu, durante a criação dos seres que habitam a Terra, foi até o Monte Olimpo, roubou o fogo dos deuses e o entregou aos humanos. Então, essas criaturas tão amadas pelo titã, mesmo sendo da Terra, passaram a possuir também algo divino. É interessante ver como o mito traduz a realidade, pois a capacidade de usar o fogo foi, e continua sendo, um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento do ser humano como indivíduo e como civilização. Imagine o que o poder de afastar ameaças, de iluminar, de aquecer, de cozinhar alimentos e de transformar os elementos da natureza gerou de melhorias para a experiência do Homem primitivo?
Numa outra chave de interpretação, o fogo roubado dos deuses não é simplesmente o fogo material, mas sim a representação da mente. É algo que permite ao Homem sair da sua condição instintiva e poder raciocinar, interpretar e refletir. Muito mais importante que isso, ela nos permite entrar em contato com os elementos sagrados, como os grandes Ideais e as Virtudes. É a mente que nos dá a possibilidade de, mesmo tendo uma parte animal, sermos de alguma forma semelhantes aos deuses. Ao mesmo tempo, somos filhos do Céu e da Terra, e podemos escolher o nosso destino.
Por milênios, o Ser Humano segue usando esse “fogo” para construir no mundo material. Ultimamente temos feito isso de uma forma bastante acelerada. Para se ter uma ideia, com a descoberta de novas fontes de combustível, nos últimos 100-150 anos, tivemos mais acesso às novas tecnologias do que havíamos tido em milhares de anos anteriores. A vida ficou muito mais fácil e confortável. Hoje, possuímos indústrias capazes de fabricar medicamentos para tratar diversas enfermidades; a prensa, que possibilita a impressão em grande escala; os meios de transporte motorizados, que fazem longas distâncias serem percorridas em pouco tempo; a internet e a telefonia móvel, que são capazes de aproximar pessoas, mesmo elas estando uma em cada canto do planeta; o computador, que é capaz de executar diversas tarefas e cálculos, facilitando o trabalho do homem; entre muitas outras facilidades.
Tudo isso é muito bom! Todas essas maravilhas tecnológicas fazem com que nossa vida seja muito melhor, no aspecto material. Mas será que isso é tudo? É esse o propósito da experiência humana? Nós estamos mais conscientes sobre o sentido da Vida? Será que todos esses avanços fizeram com que as pessoas se tornassem mais felizes e mais realizadas? Estamos convivendo melhor uns com os outros?
Parece que está acontecendo justamente o contrário. Todas essas tecnologias nos tornaram dependentes. Um dia sem internet ou sem energia elétrica é o fim do mundo para muitas pessoas. Quando acontecem blecautes, por exemplo, a sociedade revela o seu verdadeiro nível moral. Propriedades são saqueadas, assaltos e todo tipo de violência acontecem e até as “pessoas de bem” passam a pensar somente em si mesmas, guiadas pelo medo e egoísmo. Quando a energia cai, é como se a máscara de civilidade que usamos caísse junto. Estamos perdendo a capacidade de sermos humanos e nossas relações estão cada vez mais artificiais e virtuais.
A pergunta principal que devemos nos fazer é: será que estamos usando a mente da forma correta? A resposta para esta pergunta pode explicar também o porquê de, no mito, Zeus ter castigado severamente Prometeu por causa do uso egoísta do fogo feito pelo Homem. É importante interpretar o mito de forma simbólica e não literal. Imagine se os leões passassem a raciocinar e com isso criassem várias tecnologias e métodos para satisfazer às suas necessidades de alimentação, sexo, conforto e lazer. Todos os outros seres da Natureza estariam perdidos. O que o titã fez, foi dar uma ferramenta muito poderosa para um ser que ainda é guiado pelos seus instintos e pela lei do mais forte. Infelizmente é isso o que o Ser Humano faz com o presente dado por Prometeu. Usamos uma ferramenta que poderia nos direcionar para uma experiência divina, mas continuamos vivendo como animais.
Talvez já esteja na hora de percebermos que precisamos nos desapegar da “Terra” e direcionar nossa mente para o “Céu”, pois esse fogo pertence ao “Olimpo” e para lá é que ele deve voltar. Concentrar a mente no desenvolvimento das Virtudes, na busca dos elementos sagrados, é o que possibilita o indivíduo trabalhar na sua obra mais importante: a construção de si mesmo, e assim cumprir o seu propósito.
Não precisamos parar a evolução no mundo material, mas que essas obras sejam então um símbolo desse nosso sacro ofício, do nosso esforço para nos tornarmos cada vez melhores. Que toda a nossa tecnologia, nossas construções e nossa cultura expressem o Bem, a Beleza e a Justiça.
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