Você já percebeu que vivemos em uma sociedade que estimula a crítica? Quando crianças, por exemplo, um dos grandes objetivos da educação é o de estimular o pensamento crítico, ou seja, uma forma de pensar que leve em consideração outros pontos de vista e encontre, quando possível, falhas no raciocínio que está sendo apresentado. Se por um lado esse modo de pensar é importante para estimular nossas faculdades cognitivas e nos dar critérios acerca do que é relevante no mundo, por outro ela também pode nos levar a hábitos perniciosos de encontrar sempre o defeito ou a falha, seja em uma pessoa ou num pensamento que está sendo desenvolvido.
No mundo atual, a crítica não está apenas na educação, mas até mesmo nas profissões. Os famosos “críticos literários”, por exemplo, são especialistas que emitem sua opinião em bases técnicas e em sua própria subjetividade. Do mesmo modo, temos críticos musicais, de gastronomia e tantos outros que não podemos contar. Entretanto, um aspecto chama atenção quando observamos tais profissões, que revelam um ponto “curioso”: os críticos, geralmente, nunca exerceram a profissão na qual criticam. Ou seja: o crítico de literatura não publica livros, o crítico musical não compõe e, por vezes, o crítico de gastronomia não cozinha pratos refinados.
Apesar de ser uma generalização – e sabemos que há críticos que, de fato, desempenham a profissão a qual tecem comentários –, essa linha de pensamento nos mostra um ponto importante de quem faz críticas de um modo geral: quem critica geralmente não ajuda ou mesmo sabe fazer aquilo que está criticando. A crítica, nesse ponto de vista, se converte em uma energia que não beneficia nenhum dos lados, afinal, nada se resolve com a crítica, e quem a tece não aprende sobre o que está criticando. Colocando em exemplos, imagine uma cena do cotidiano: alguém prepara um almoço para a família; um dos familiares, ao provar a comida, pode afirmar: “está muito salgado” ou “essa comida não está boa”. Esse comentário, que até então se mostra como algo inocente ou mesmo uma constatação – seja verdadeira ou não –, irá causar algum benefício para o ambiente? Quem cozinhou ficará feliz? Quem provou, irá cozinhar um novo almoço? Em geral nada disso acontece, logo, não há benefício na crítica que foi feita.
Ainda assim, mesmo estando consciente desse aspecto, continuamos a tecer diversas críticas em nosso dia a dia. O que nos leva a isso? Não resta dúvidas de que a crítica é algo muito presente em nossas vidas. Diariamente recebemos e “doamos” altas doses de críticas. A importância de se refletir sobre esse hábito mental é tanto que aqui na Feedobem já abordamos essa temática no texto “Como Lidar Com Críticas”, que trata da ideia de como podemos lidar com as críticas que recebemos. No entanto, e quanto ao ato de criticar? Como podemos nos relacionar melhor com isso?
O primeiro ponto que podemos refletir para melhorarmos nesse aspecto é entender que, no mundo atual, precisamos viver diversos papéis. Somos pais, filhos, profissionais, amigos, esposo (a), e, gostemos ou não, em muitos desses papéis, de nós é exigido que façamos elogios, comentários e sugestões. O problema é que, às vezes, não sabemos a melhor forma de fazer isso, e, muitas vezes, o que deveria sair como um simples conselho acaba soando como uma dura crítica. Muitas vezes, portanto, o que nos falta não é o ato de não criticar, mas sabermos fazer um comentário de modo que não machuque o outro, que é exatamente onde a “crítica” inofensiva ou “positiva”, como chamamos atualmente, seja recebida como uma ofensa.
Visto isso, é fundamental, antes de qualquer crítica, que ela seja a mais simples e inofensiva que pareça, ou seja, devemos refletir antes de criticarmos. Pare e pense nessas perguntas: “Qual o motivo desse meu comentário, ou pensamento?”, “É apenas o hábito de achar ruim todos os pontos de vista diferentes do meu?”, “É só porque gosto de opinar?”, “É porque fui criticado antes e essa é a minha resposta?”. Se refletirmos sobre essas perguntas, é possível que encontremos a causa da nossa crítica, que muitas vezes está ligada apenas com o nosso ego ferido. Vivemos sempre com uma “crítica na manga”, esperando a hora certa para falar aquilo que estava guardado, e usamos como desculpa para o nosso ataque a famosa “crítica construtiva”, que de construtiva só tem o nome.
Naturalmente, nossa mente fica com pensamentos circulares de crítica. Entramos num local, e, antes mesmo de curtir o lugar ou de conhecer as pessoas, já avaliamos tudo o que desgostamos do ambiente. Então, precisamos aprender a cortar esse tipo de pensamentos. Sempre que vier uma forma mental do tipo: “isso não vai funcionar”, devemos cortá-la e substituí-la por: “paciência, apenas aproveite o momento”. Temos que ter intenções claras e limpas, só isso garantirá que a crítica seja bem entendida e aceita.
Se conseguirmos cortar nossos pensamentos negativos ante a vida, no momento de fazer uma crítica que seja necessária, ela sairá limpa, sem rancor ou desprezo, fazendo com que a pessoa criticada não se sinta mal ou ofendida.
Considerando essas questões, deixamos como indicação o podcast “Cafezinho” de Luciano Pires, que nos dá 8 dicas de como podemos fazer uma crítica ser bem aceita. Afinal, se estamos criticando com a melhor das intenções, quanto mais clara a forma, mais bem aceita será a crítica.
Escolhemos duas dicas para enfatizar a importância delas, as demais você pode conferir ouvindo o podcast abaixo! Dá só uma olhada:
1 – Empatia: Ao fazer uma crítica, seja empático, coloque-se no lugar do outro, do criticado. Imagine-se na posição daquela pessoa, o que ela está passando, como você se sentiria se estivesse ouvindo aquelas palavras daquela forma, como foi o dia dela, como deixá-la motivada… Esse tipo de reflexão, antes da crítica, ajuda para que as palavras machuquem menos, e para que saibamos a forma mais justa de relacionamento com o outro. A empatia é crucial nesses momentos, pois normalmente os defeitos do outro que mais nos incomodam são os que temos dentro de nós. É o que podemos chamar de “efeito espelho”, pois vemos a nós mesmos, observando os outros. E, ao se colocar no lugar da outra pessoa, fica mais fácil de ver a solução para nós mesmos.
2 – Use o humor. O uso do humor é uma chave excelente para uma boa relação crítico/criticado. Lembre-se que humor não é fazer piada da pessoa, mas sim deixar o astral da conversa mais leve, quando necessário, dar um sorriso e saber rir de si mesmo. Por exemplo, quando se está dando conselho a um funcionário que cometeu um erro, uma forma de aconselhar com humor é comentar de uma gafe similar que você mesmo cometeu numa situação parecida. Dessa forma, você mostra que é humano, que também comete erros, e ajuda a pessoa a ver que ela pode facilmente superar a sua falha.
Existem muitas outras dicas interessantes, que vale a pena conferir, mas o mais importante, e que fará toda a diferença, é: antes de criticar, reflita!