Somos uma geração “ocupada” e nos orgulhamos muito disso. Enchemos a boca em diversas situações para dizer, quase que automaticamente, coisas como: “desculpe, não tenho tempo”, “meu dia está cheio hoje”, “minha vida é uma correria!”. Ok, estamos ocupados, mas com o quê? Em boa parte, nos distraindo.
Não achamos tempo para falar nos olhos de alguém que está à nossa frente, porque estamos ocupados falando com pessoas que estão na outra ponta de alguma rede social, a grande maioria das quais nunca veremos pessoalmente.
Não temos tempo para estudar, aprender uma língua nova, ler um bom livro ou qualquer outra coisa que nos ajude a crescer, porque estamos muito ocupados nos entupindo de informações supérfluas, inúteis e, muitas vezes, mórbidas, que nos chegam por diversos meios eletrônicos, ou pela fofoca de alguém.
Não temos paciência para ouvir o que alguém está nos falando, porque queremos logo começar a falar, possivelmente para reclamar de alguma situação ou circunstância da vida. Com isso, a vida vai passando enquanto estamos “ocupados demais” para prestar atenção nela.
Por incrível que possa parecer, esse não é um problema novo. Há uns dois mil anos, o filósofo Sêneca relatava que as pessoas de seus dias reclamavam que não tinham tempo para nada. Avaliando isso, ele chegou à conclusão, em sua obra “Sobre a Brevidade da Vida”, que, na verdade, as pessoas vivem uma ilusão de falta de tempo, quando o que acontece realmente é um gigantesco e crônico desperdício deste valioso bem. Ele constata, então, que as pessoas perdem um tempo enorme com futilidades, alimentando intrigas, rixas, raivas, mágoas, se distraindo com novidades sem valor, se entorpecendo com substâncias que bloqueiam suas consciências para não sentirem a dor de seu vazio interno, e por aí vai.
Agora pense: não parece que esse filósofo está falando da nossa sociedade atual?
Essa falsa ideia de “estar sempre ocupado”, nos faz perder enormes oportunidades, por nos fazer prestar atenção em tudo, menos no que é mais importante: a nossa vida.
Todos os dias, sem exceção, a vida tem várias lições para nos dar, mas, cá entre nós, quantas vezes, você já chegou ao final do seu dia com a sensação de que nada aconteceu? Pode ter certeza que aconteceu, mas, infelizmente, você estava “ocupado”, prestando atenção em qualquer outra coisa que não te ensinou nada, e assim, perdeu a oportunidade.
Para os gregos antigos, “Oportunidade” era um deus chamado de “Kairós”, um ser que passava rápido, e cujos cabelos eram só um tufo comprido na testa. Assim, só se conseguia pegá-lo pela frente, existindo apenas uma chance, pois se deixasse ele passar, não tinha cabelo atrás para puxar, e ele ia embora. Por isso é tão importante estar atento à vida o tempo todo, caso contrario, perdemos muitas, mas muitas, oportunidades e, quando vamos ver, a vida se foi, como expressa lindamente o poema de Mário Quintana, “O Tempo”:
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê, passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…”
Um outro texto, de origem tibetana, vai falar para termos cuidado com a “heresia da separatividade”, que é a crença de que o que acontece com o outro não me diz respeito, e as coisas que me correspondem são mais importantes que as dos outros. Essa é a origem de todo tipo de preconceito e discriminação.
Superar essa separatividade é entender que todos, não importa quão diferente possamos ser, pertencemos à mesma família, a raça humana. É entender que, o que dá sentido à vida é nos interessarmos pelo outro, e estarmos prontos para servir ao próximo.
O vídeo que selecionamos a seguir, embora simplório, é um pequeno experimento que mostra como perdemos, até materialmente, por nos acharmos tão “ocupados”. Nele, o ator pede um pouco da atenção de pessoas na rua, a fim de lhes dar R$ 20, mas, antes mesmo de ouvir, a maioria já nega esta atenção. No vídeo, o presente é físico, mas na vida, quantas vezes negamos oportunidades que nos surgem, oportunidades para exercitar a generosidade, a justiça, a honra, e outros valores humanos? Tudo isso porque não temos “tempo” para dar atenção às pessoas.